Goiano de 51 anos conquistou honraria oferecida pela SBM por trabalho interdisciplinar relacionando Modelagem Matemática e sua experiência na educação em escola rural
Em novembro, a Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) coordenou o 1º Encontro Nacional do Mestrado PROFMAT, no Rio de Janeiro, onde foi entregue, também de forma inédita, o Prêmio PROFMAT com o objetivo de reconhecer o mérito dos trabalhos acadêmicos desenvolvidos na conclusão do programa das cinco regiões do país. No Centro-Oeste, o grande vencedor foi o goianoAndrei Braga da Silva.
Aos 51 anos, Andrei reside atualmente em Brasília e é professor da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF). O matemático goiano conquistou o 1º lugar na região com o tema: “Modelagem Matemática e Interdisciplinaridade: possibilidades e desafios na construção de um projeto de hortas em escolas rurais do Distrito Federal”.
Infância
A ideia de usar um colégio rural, hoje Escola do Campo, em sua tese de dissertação no PROFMAT diz muito sobre a sua origem. Nascido em Goiânia, ele foi criado no interior do estado, mais precisamente em Formosa, a 280km da capital.
Filho de uma cozinheira e um motorista de ônibus, o pequeno Andrei era um dos sete irmãos da família Silva, mas a infância humilde, que poderia ser um obstáculo para influenciar no destino, o tornou mais resistente para seguir sua intuição desde pequeno.
“Desde criança, gostei de Matemática, desde o Ensino Fundamental, fazia contas de adição, subtração, multiplicação e divisão com muita facilidade, e isso diz muito do que me tornei hoje”, conta Andrei, que viu duas de suas irmãs também se tornarem professoras, sendo uma também de Matemática.
Paixão pelas Ciências Exatas
Foi na antiga 8ª série do Ensino Fundamental que uma professora em especial mostrou a Andrei que a disciplina poderia ser muito mais que um hobby. “A professora Vanilda foi fantástica. Ela me despertou o que tinha vontade de aprender, o dom que tinha para apresentar aos colegas. Daí a pouco, me vi ajudando a dar aulas de recuperação a eles, resolvendo exercícios no quadro e tirando dúvidas de todos”, narra.
O ‘embrião’ implantado por Vanilda ficou ainda mais desenvolvido no Ensino Médio. “Daí, no antigo Científico, tive um professor chamado Zé Luís que me inspirou bastante. Afinal, sempre gostei de Ciências e foi ele que me colocou na cabeça para virar um professor de Matemática”, completa.
Vida universitária
Por morar em Formosa, a intuição fez Andrei buscar pesquisar a Universidade Estadual de Goiás (UEG), a qual possui câmpus na cidade interiorana. “Só que, na minha época, tinham quatro cursos apenas: Letras, História, Geografia e Ciências. Tive uma frustração no meio do caminho, mas descobri que Ciências me habilitaria a dar aula de Matemática para o Ensino Fundamental”, explica.
Com isso, o então aluno de graduação na UEG, logo no segundo ano, já estava ministrando aulas na Escola Agrícola de Formosa, na zona rural. A formação em Ciências também o capacitou a até sair do âmbito da Matemática em colégios estaduais de Goiás.
“Como fazia o curso de Ciências, comecei a me engraçar para Física, Química e Biologia, e cheguei a trabalhar. Desculpe a modéstia, mas me saí muito bem por três anos dando aulas de todas essas matérias”, comenta.
Incentivo a mais pela Matemática
Após a graduação em Ciências, Andrei se mudou para Brasília, onde conheceu a atual esposa, Neusa, também docente de Matemática. Foi o amor de sua vida que o incentivou a retornar à graduação. “Foi ela que me chamou para fazer o curso de Matemática. Concluí a graduação em Matemática também em Formosa pela UEG, fiz uma especialização e, mais à frente, foi ela também que me incentivou a fazer o mestrado”, segue.
Já concursado pela SEEDF em duas matrículas, totalizando 60h de trabalho semanais, Andrei desempenhou a função de supervisor pedagógico por nove anos em um Centro de Ensino Médio (CEM) em São Sebastião, na região metropolitana de Brasília. Neste tempo, ele sempre motivou os colegas a buscarem o ‘algo a mais’ em suas carreiras. “Falava para eles correrem atrás de seus sonhos, fazerem cursos, fazerem a diferença para seus alunos do que ficar só nessa de lousa e giz, lousa e giz”, complementa.
A ligação com o PROFMAT
Foi neste ínterim que um colega em São Sebastião participou do PROFMAT. A partir daí, a vida de Andrei nunca mais foi a mesma. “Quando ele voltou, estava muito feliz, contagiante e falou comigo: ‘Você sempre incentivou a todos. Agora, está na hora de você fazer o PROFMAT’”, lembra.
Em seguida, abriu mão da supervisão do CEM em São Sebastião e iniciou o PROFMAT em Goiânia em 2019. Nem mesmo a pandemia o fez desistir da capacitação no programa de mestrado com nota máxima de avaliação da CAPES que já qualificou mais de 7 mil professores e professoras espalhados em todo o Brasil.
Prática bem-sucedida
E foi durante sua experiência no programa de mestrado que ele pensou em alinhar um conhecimento adquirido nas aulas com a realidade de ainda ter contato com a vida rural. Daí começou a ser desenvolvida sua tese, que anos mais tarde seria coroada no Prêmio da SBM.
“Sempre pensei em desenvolver algo que pudesse fazer a diferença na vida dos meus alunos. Que deixasse sua marca na escola. No PROFMAT, fiquei encantado pela Modelagem Matemática e, ao olhar a escola da zona rural, vi uns canteiros, vi o professor de Ciências mexendo na horta. Mas sempre naqueles canteiros aparecia o muro. E daí veio a ideia de fazer os canteiros em forma de polígonos regulares, pois sempre fui apaixonado por construções geométricas”, argumenta.
O PROFMAT, como se pode notar, fez Andrei trazer benefícios de seu projeto para a comunidade de São Sebastião. E a humildade, que o trouxe até aqui, ainda é notória na personalidade do matemático goiano.
“O projeto foi muito bem aceito na escola e os resultados são escolhidos até hoje. Cresceu bastante e estou o apresentando a outras escolas do estado. Tudo hoje eu devo ao PROFMAT. A mudança que tive, como pessoa, como professor, minha postura dentro da sala de aula, minhas explicações, tudo isso é uma transformação maravilhosa”, conclui.