Conheça Renata Rojas Guerra, nova matemática afiliada da Academia Brasileira de Ciências

Gaúcha de apenas 33 anos é docente no Departamento de Estatística na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Foi anunciado, na primeira semana de dezembro, o resultado das eleições para a Academia Brasileira de Ciências (ABC). Como detalhado pela própria ABC, as mulheres são maioria – 60% – entre os novos integrantes da entidade. Dos três matemáticos que entraram como novos membros afiliados, representa o gênero feminino a gaúcha Renata Rojas Guerra.


Renata Rojas Guerra é docente na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) no Departamento de Estatística – Foto: Arquivo Pessoal

Seu mandato será de 2024 a 2028, sem a possibilidade de extensão. A diplomação da matemática de 33 anos junto à ABC será associada a um simpósio científico, previsto para a segunda quinzena de outubro. Renata foi selecionada juntamente a mais quatro jovens cientistas da região Sul para se associarem à entidade, o que ela considera uma experiência fantástica para sua ainda promissora carreira. 

“A ABC é uma das mais prestigiadas sociedades científicas honoríficas do Brasil, ou seja, é uma organização que reconhece e homenageia pesquisadores que alcançaram destaque em suas áreas de estudo. Assim, sob uma perspectiva individual, integrar a ABC é uma validação do meu mérito acadêmico, é como receber uma mensagem dos mais prestigiados cientistas da minha região dizendo: ‘continue trabalhando, você está no caminho certo’”, classificou. 

Origem 

Natural de Uruguaiana, no oeste do Rio Grande do Sul, Renata se consolidou profissionalmente no próprio estado. Hoje, ela é docente no Departamento de Estatística na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) nos cursos de Bacharelado em Estatística e Ciências Econômicas. O dom pela leitura e o estudo foi estimulado desde a infância, mas se engana quem crê que Renata só tinha olhos para Matemática. 

“Embora não tenha irmãos, sempre fui muito próxima das minhas primas. Desde cedo, fui criada em um ambiente familiar que valorizava a leitura e o estudo. No Ensino Médio, eu tinha o hábito de me reunir com meus colegas em grupos de estudo, em que, na maioria das vezes, eu assumia o papel de professora e auxiliava meus colegas não apenas em Matemática, mas também em disciplinas como Física, Química e Biologia”, conta a cientista.

Academia

Sua trajetória na área acadêmica, que se iniciou na UFSM, ganhou um rumo diferente da maioria dos profissionais de Matemática. “Quando terminei o Ensino Médio, o curso que escolhi na UFSM foi Ciências Econômicas, que exige diferentes habilidades, abrange desde conceitos das Ciências Sociais até métodos quantitativos. Foi durante a graduação que meu interesse pela Matemática, especialmente em Probabilidade e Estatística, foi despertado”, relembra. 

Com o passar do tempo, Renata foi descobrindo que não era necessário abandonar a Economia para seguir sua carreira na Matemática. Por isso, com o passar do curso, concentrou seus estudos em disciplinas que contemplavam ambas as áreas. Logo, completou sua formação em 2013 e seguiu na UFSM para o Mestrado em Engenharia de Produção, finalizado dois anos mais tarde. 

Na sequência, Renata percebeu que chegava o momento de direcionar seus estudos para a Estatística. Com isso, percorreu quase 4.000km para iniciar o Doutorado na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 

“Foi na UFPE onde solidifiquei as bases necessárias para atuar nas Ciências Matemáticas e desenvolver minha paixão por pesquisa na área de Estatística. Uma coisa muito legal é que, apesar de ter essa formação tão diversificada, eu consegui concluir o Doutorado em dois anos e dois meses. Fui a pessoa mais jovem a obter o título de Doutora em Estatística pela UFPE, aos 26 anos, e também a que obteve o título mais rapidamente”, relata a matemática, que concluiu o Doutorado em 2017.  


Foto: Arquivo pessoal – Renata Rojas Guerra é a única matemática que entra entre membros afiliados da ABC em 2024 

Além das atribuições na UFSM, Renata também mantém um projeto de pesquisa centrado na proposta de Modelos Dinâmicos para Dados Duplamente Limitados. “Foi a minha atuação neste projeto que resultou em oportunidades que impulsionaram a minha carreira, como a seleção na 6ª Chamada do Instituto Serrapilheira para jovens pesquisadores na área de Ciências Matemáticas e o prêmio ‘ISI Jan Tinbergen Award: Division A – 2023’, reconhecimento importante para jovens estatísticos concedido pelo Instituto Internacional de Estatística (ISI). O desafio atual é garantir que minhas pesquisas gerem um impacto positivo para a sociedade”, completa. 

Responsabilidade na ABC

Para Renata, ser uma afiliada da ABC é um incentivo para fortalecer ainda mais a Matemática no cenário científico do Brasil e, é claro, estimular a igualdade de oportunidades para mulheres e homens na profissão. “Em uma realidade de disparidade de gênero, a nossa área é muito desfavorecida nos níveis mais altos da carreira. Então, é muito importante que as meninas vejam pesquisadoras mulheres conquistando posições de destaque, para que se sintam representadas e compreendam que também têm um lugar na Matemática. Nós estamos tão acostumadas a ser minoria nesses espaços que não nos damos conta de que isso é um sinal de alerta e requer nossa atenção”, opina. 

Segundo a ABC, a maior representatividade das posições ocupadas a partir de 2024 reflete a tendência da organização rumo à igualdade de gênero no topo da carreira científica. Renata cita Helena Hader, atual Presidente da ABC, e Jaqueline Mesquita, Presidente da SBM, como modelos para estimularem alunas que iniciam seus passos na área de Ciências Matemáticas. 

“Felizmente, temos observado alguns avanços como a atual presidente da ABC sendo a primeira mulher a ocupar esse cargo e também temos uma mulher no comando da SBM. Além disso, testemunhamos uma mulher ser a única especialista em Ciências Matemáticas a ser nomeada membro titular da ABC (Nancy Lopes Garcia) este ano. Essas conquistas não apenas inspiram a mim, mas também servem como fonte de inspiração a outras mulheres e meninas para nos encorajar a confiar em nossas capacidades e para que sigamos produzindo trabalhos de qualidade nas Ciências Matemáticas”, conclui a gaúcha. 

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