Maria Soledad Aronna foi reconhecida na categoria “Jovem Destaque” em premiação organizada por SBM, IMPA e MCTI
Quando a professora Maria Soledad Aronna decidiu se estabelecer no Rio de Janeiro em 2014 para iniciar um pós-doutorado no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), ela já havia superado muitos desafios acadêmicos e geográficos, tendo passado por importantes universidades na Europa. Contudo, foi aqui no Brasil que Soledad enfrentou de forma mais intensa a baixa representatividade feminina na ciência, especialmente em um país com tanto potencial e talento.
Esse contexto torna ainda mais significativo o reconhecimento da pesquisadora com o Prêmio “Elas na Matemática”, oferecido pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), IMPA e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e entregue em 2 de outubro, em Maringá (PR), durante o I Workshop da SBM de Mulheres na Matemática, realizado na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Ela foi premiada na categoria “Jovem Destaque”, que valoriza as pesquisadoras por suas contribuições notáveis. “Foi uma alegria enorme receber o telefonema da Jaqueline Mesquita, Presidente da SBM, me contando que eu havia sido escolhida”, relembra a professora.
Desde 2015 como professora na Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV EMAp) e ciente dos desafios para as mulheres nas exatas, Soledad procurou o Diretor da instituição, César Camacho, com uma proposta para aumentar a representatividade feminina na área. O resultado foi a criação, em 2023, da Cátedra Marília Chaves Peixoto, que este ano está em sua segunda edição e oferece uma vaga de pós-doutorado exclusivamente para mulheres.
“Sabemos que o talento está igualmente distribuído entre os gêneros, e por isso buscamos atrair mulheres talentosas, oferecendo a elas um ambiente com os recursos necessários para desenvolver pesquisas de qualidade e ganhar visibilidade no cenário acadêmico”, argumenta.
Segundo a professora, muitas alunas têm ideias impressionantes, mas frequentemente hesitam em se expressar e compartilhar suas ideias em sala de aula. “Às vezes, elas só vêm falar comigo depois que a aula termina, quando a sala já está vazia. Isso é algo que raramente vejo entre os meninos”, observa Soledad. “Por isso, sempre recomendo que confiem em suas ideias e não tenham medo de falhar. Errar faz parte do aprendizado, e é essencial se permitir isso”, completa.
Além disso, Soledad incentiva suas alunas a buscarem apoio entre colegas e professoras. Nesse sentido, a FGV EMAp apoia um grupo, organizado pelo diretório de alunos, exclusivo para as estudantes, que funciona não apenas como um espaço acadêmico, mas também como um ambiente de apoio mútuo.
“É importante que as mulheres se mantenham presentes e ativas em carreiras como matemática, computação e estatística, que são cada vez mais demandadas em diferentes setores, competindo de igual para igual. Temos todas as capacidades para nos destacarmos de forma excelente”, avalia a professora.
Atualmente, a pesquisadora dedica-se ao controle ótimo e à modelagem de sistemas dinâmicos, com foco em problemas práticos que afetam diretamente a sociedade, como a otimização de estratégias de controle em epidemias.
Trajetória
Maria Soledad Aronna descobriu seu talento para a matemática ainda no ensino básico, em Rosário, Argentina. Aos 12 anos, duas professoras perceberam sua aptidão natural para a disciplina e a incentivaram a participar das Olimpíadas de Matemática. Esse apoio foi decisivo, e Soledad passou a se destacar nas competições, ganhando prêmios e fortalecendo sua relação com o universo dos números.
Ao ingressar em uma escola técnica, equivalente ao Ensino Médio no Brasil, sua trajetória ganhou novo impulso. Durante cinco anos, Soledad aprofundou seus conhecimentos em matemática, com a orientação de um treinador, medalhista da International Mathematical Olympiad (IMO), que foi contratado para auxiliá-la nos estudos.
Naturalmente, Soledad optou por cursar o bacharelado em matemática na Universidade Nacional de Rosário, onde também deu início ao doutorado. Inicialmente relutante em aceitar convites para estudar no exterior, devido ao desejo de permanecer na Argentina, ela acabou aceitando uma oportunidade na prestigiada École Polytechnique, na França, onde concluiu seu doutorado.
Além disso, foi contemplada com a bolsa Marie Curie, parte de um projeto da União Europeia, que lhe permitiu passar um ano na Itália e seis meses em Londres. A vinda para o Brasil ocorreu em 2014 através de uma bolsa de excelência oferecida pelo IMPA. Pouco tempo depois, incentivada por colegas da França que estavam trabalhando no Brasil, participou do processo seletivo da FGV, sendo então selecionada.
Atualmente, Soledad é uma especialista de destaque nas áreas de Controle Ótimo e Biologia Matemática. Ela alcançou avanços significativos em condições de otimalidade e fez contribuições excepcionais para a modelagem epidemiológica. No campo do Controle Ótimo, suas principais contribuições incluem novas condições de otimalidade que garantem, em particular, a convergência e estabilidade de algoritmos associados. Em relação à Biologia Matemática, Soledad contribuiu com modelos originais que forneceram novas perspectivas sobre problemas práticos em áreas como a dinâmica da COVID-19, protocolos de vacinação e estratégias de controle biológico de insetos.
No Rio de Janeiro, Soledad não só consolidou sua carreira como uma profissional respeitada, mas também teve a chance de começar um capítulo especial de sua vida. A matemática, que já a havia levado ao sucesso acadêmico, acabou também a conduzindo ao amor quando ela reencontrou aquele que fora seu treinador na Argentina. O resultado? Uma família unida não apenas pelo afeto, mas também pela paixão pela matemática.
Por FGV EMAp – matéria publicada originalmente em emap.fgv.br/noticias/professora-da-fgv-emap-conquista-premio-elas-na-matematica