Entre 70 pesquisadoras homenageadas pela entidade carioca, Luciana Luna Anna Lomonaco e Maria Soledad Aronna são representantes das Ciências Matemáticas. Jaqueline Mesquita, Presidente da SBM, compareceu ao evento
Na última segunda-feira (19), a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) realizou a cerimônia de entrega do Prêmio “Jovem Cientista” do Programa de Apoio à Jovem Cientista Mulher 2023. A solenidade ocorreu na Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro, e contou com a presença de Jaqueline Mesquita, Presidente da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM).
No total, 70 pesquisadoras de Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) de todo o estado fluminense com menos de 12 anos de doutoramento foram agraciadas pela entidade – entre elas, dois nomes de Ciências Matemáticas: Luciana Luna Anna Lomonaco, do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), e Maria Soledad Aronna, da Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV EMAp).
Os projetos contemplados se distribuíram por cada um dos três colégios estabelecidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). As obras de Luna e Maria Soledad se enquadram no colégio de Ciências Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinares e cada proposta receberá da FAPERJ o investimento de até R$700 mil (incluindo bolsas de Iniciação Científica) por três anos.
Os recursos financeiros poderão ser utilizados para o estabelecimento e melhoria de infraestrutura, e para despesas previstas nos projetos de pesquisa apresentados. Em 2023, Maria Soledad e Luna se destacaram por projetos inovadores que alinharam a Matemática com outras disciplinas.
Vencedoras
Professora Associada na FGV EMAp, Maria Soledad foi uma das vencedoras do Prêmio pelo projeto “Novos métodos de Controle Ótimo visando aplicações em Biologia e Aprendizado por Reforço”, em que aborda tópicos distintos nas áreas de Controle Ótimo e Biologia Matemática.
“Pretendemos estudar questões como condições de otimalidade para problemas de controle com incerteza nos parâmetros e para sistemas de controle em redes (grafos). Além do desenvolvimento teórico, visamos estudar problemas relacionados ao controle de doenças e pragas, como a otimização de estratégias de vacinação e o controle biológico de insetos”, explica Maria sobre o projeto que abarca oito alunos, desde graduação até pós-doutorado.
A Biologia Matemática visa desenvolver modelos que permitam a análise da evolução de processos biológicos. Essa área inclui a subárea de Modelagem Epidemiológica, que trata, em particular, da análise de problemas relacionados a doenças transmissíveis. “A necessidade de modelos e ferramentas matemáticas no estudo de doenças e diversos fenômenos biológicos tem crescido rapidamente ao longo do tempo, especialmente nas últimas décadas e notavelmente no último ano”, complementa a pesquisadora argentina.
Nascida em Rosário, na província de Santa Fé, Maria Soledad se estabeleceu no Brasil após concluir seu doutorado na França e passar um período de experiência em instituições de excelência na Itália e na Inglaterra. Em 2014, ela conseguiu seu Pós-Doutorado no IMPA e, quatro anos depois, recebeu a bolsa Capes/Humboldt para pesquisadores experientes.
Conquistar o Prêmio da FAPERJ é um incentivo a mais para Maria Soledad seguir no objetivo de formar profissionais para a área de Biologia Matemática.
“Foi uma grande honra receber esta distinção. O financiamento vai permitir fortalecer o grupo de Controle Ótimo, que venho montando com muito esforço há vários anos. Quando cheguei no Brasil, havia pouquíssimos matemáticos trabalhando na área e nenhum no estado do Rio de Janeiro, então tive que concorrer aos editais sem equipe. Agora estou trabalhando arduamente para formar pessoas na área e estabelecer Controle Ótimo como uma área de pesquisa no país. Este financiamento e o reconhecimento da FAPERJ são muito importantes para os próximos anos da minha carreira”, opina a pesquisadora de 40 anos.
Por sua vez, Luna, Professora e Pesquisadora no IMPA, foi eleita vencedora pelo projeto “O conjunto de Mandelbrot e suas cópias”. Na obra, a matemática de 38 anos estuda o conjunto de Mandelbrot, “que é provavelmente o fractal mais conhecido. Ele caracteriza como muda o comportamento dos polinômios quadráticos complexos”.
“Um fato fascinante deste conjunto é a presença de cópias do conjunto nele mesmo, e em outros planos de parâmetros. Eu estou interessada em algumas cópias do Mandelbrot, e estudo quanto elas se parecem”, explica ela, que nasceu na Itália e desembarcou no Brasil somente em 2014 para seu Pós-Doutorado na Universidade de São Paulo (USP).
Após iniciar a Graduação em Pádua, na Itália, Luna se mudou para Barcelona, onde concluiu a faculdade e emendou o Mestrado. O Doutorado foi em outro país do Velho Continente. A nação escolhida foi a Dinamarca, com “um sanduíche em Toulouse, na França”.
Antes de se fixar no Brasil, a matemática ainda passou por breves períodos na Academia Chinesa de Ciências, em Pequim, e na Stony Brook University, nos EUA. Ela trabalha no IMPA desde 2020 e também considera a conquista da FAPERJ um marco pessoal. “Foi uma honra muito grande. Em particular fiquei muito feliz pela proposta da FAPERJ. Acho muito importante essas ações afirmativas”, finaliza.