Evento co-organizado pela SBM segue até sexta-feira (11)
Começou nesta segunda-feira (7), na Universidade de São Paulo (USP), campus São Paulo, o evento conjunto 6º Workshop Temático TWAS Young Affiliate Network (TYAN) em Matemática e 1ª Escola Avançada em Matemática. Organizado pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), em parceria com a Rede de Jovens Afiliados da Academia Mundial de Ciências (TYAN), a Parceira Regional Latino-Americana e Caribenha da Academia Mundial de Ciências (TWAS-LACREP), Academia Jovem da Argentina e Sociedade Mexicana de Matemática, e com apoio da Academia Brasileira de Ciências (ABC), o evento segue até esta sexta-feira (11).
O objetivo da iniciativa, realizada em formato híbrido, é reunir matemáticos de renome para discutir e promover a matemática de alto nível em diferentes áreas e disciplinas, com diversidade e equilíbrio geográfico. A programação será dividida ao longo dos dias entre manhã, tarde e noite, e contará com plenárias, minicursos, mesas-redondas e painéis de apresentação de pôsteres com trabalhos acadêmicos.
O Presidente da SBM, Paolo Piccione, que também presidiu o Comitê Organizador do Workshop, destacou a colaboração proporcionada pelo evento com outras sociedades científicas, em particular a mexicana e a argentina. Segundo ele, o Workshop é uma forma de estreitar relacionamentos também com a ABC e a TWAS.
“Esses eventos são muito importantes e têm duas características principais: unir matemáticos de grande destaque, principalmente da América Latina, algo importante para o Brasil, e também o aspecto de misturar pesquisadores experientes com jovens. Isso é importante para eles, uma vez que, ao fazer as mesmas atividades de cientistas com mais experiência, isso os motiva a ter uma carreira de sucesso futuramente”, avaliou.
Além de Paolo, participaram da mesa de abertura Helena Nader (Presidente da Academia Brasileira de Ciências), Luiz Davidovich (Secretário-Geral da TWAS), Virgilio de Almeida (Presidente do TWAS-LACREP), Sergio Oliva (Diretor do IME/USP) e Jaqueline Mesquita (Vice-Presidente da SBM e também membra do Comitê Organizador do Workshop).
Para Jaqueline, o evento, por ter a SBM como uma das organizadoras, tem papel importante ao abordar diversas pautas inclusivas e que buscam melhorias para as minorias, trazendo reflexões sobre diversidade, gênero e outras lutas sociais. “Esse evento também é organizado pela SBM, e justamente por isso achamos importante abordar essas temáticas. Por isso também achamos importante colocar o Comitê de Gênero e Diversidade da SBM e da SBMAC em contato com outras Comissões de Gênero da América Latina e também do mundo. Essa ligação é muito importante para que tenhamos iniciativas conjuntas, uma vez que a realidade da América Latina e do Brasil é muito próxima, por isso é muito importante que troquemos informações e experiências”, explicou.
Em seguida, Virgilio de Almeida (UFMG) comandou a primeira palestra da semana, que comentou sobre os trabalhos do TWAS-LACREP e os planos, desafios e objetivos do grupo para o futuro.
Na sequência, Mariel Saez (PUC-Chile) e Yoshiharu Kohayakawa (USP) começaram a ministrar os minicursos oferecidos pelo evento. Durante os próximos dias, eles realizarão mais quatro sessões de ensino.
Ainda pela manhã, a primeira palestra plenária, intitulada “Geometric Bäcklund Transformations and Superposition Formulae for the hyperbolic and elliptic sine-Gordon and sinh-Gordon equations”, foi regida por Keti Tenenblat (UnB), que foi Presidente da SBM entre 1989 e 1991.
Após a palestra, Keti falou sobre a evolução da matemática no Brasil. Segundo ela, foi algo que aconteceu de forma bastante eficiente, uma vez que o país, ao longo dos anos, alcançou o nível máximo em sua representatividade mundial. Parte do Grupo 5 da União Matemática Internacional (IMU), o Brasil faz parte, desde 2018, da elite da matemática mundial. “Foi uma evolução incrível, muito boa e eficiente. Eu diria que foi um trabalho conjunto de todas as universidades, do IMPA, da SBM. É um trabalho colaborativo das instituições, dos pesquisadores e dos colaboradores”, afirmou.
Com relação ao Workshop TYAN, ela frisou a importância de congregar matemáticos de diversos países, principalmente da América Latina, para realizarem a troca de experiências em prol do crescimento da ciência no continente. “Sem dúvidas, o encontro dos matemáticos gera o trabalho de colaboração, e esse encontro de pesquisadores de diversos países da América Latina é muito importante para dar prosseguimento à expansão da matemática. Isso também contribui para que possamos desenvolver novas ideias, ter novos resultados e gerarmos uma maior produção da boa matemática”, destacou.
À tarde, a segunda plenária, com Ernesto Lupercio (Cinvestav-México), abordou a criticalidade em modelos artificiais de vida e a origem da existência, além de discutir se máquinas têm a capacidade de programar a si mesmas.
Em seguida, Jaqueline Mesquita agradeceu aos presentes e ao comitê organizador do evento antes de oferecer a terceira plenária do dia: Brief introduction to functional differential equations, dynamic equations on time scales and generalized ODEs.
Por fim, o dia foi encerrado com uma mesa redonda que tratou sobre as ações dos comitês de gênero e diversidade dentro da matemática. Participaram da conversa Marcia Barbosa (UFRGS), Cintya Benedito (Unesp), Mariel Saez (PUC-Chile), Christina Brech (USP) e Vanderlan da Silva Bolzani (Unesp).
Marcia, que faz parte do Comitê de Gênero e Diversidade da TWAS, destacou o aumento da participação das mulheres na matemática. “Certamente, os frutos plantados lá atrás pelas mulheres propulsoras da matemática começaram a crescer e agora temos um grupo maior de mulheres que se dão conta do problema e que estão começando não apenas a ganhar mais prêmios e assumindo posições importantes, como também se organizando com a presença de grupos que refletem sobre esse ambiente e o ambiente de trabalho. Isso reflete diretamente na modificação desses espaços, permitindo que pautas como a conciliação da carreira e a família possam ser trazidas e fomentando o crescimento da diversidade dentro da matemática”, avaliou.
Ela também citou a necessidade da desconstrução da matemática como algo difícil, “feito para gente inteligente”, estereótipo que atrapalha o crescimento da ciência. Em conjunto a Marcia, Vanderlan Bolzani, moderadora do painel, afirmou o alto índice da falta de pessoas querendo ser matemáticos. Para ela, é preciso que existam políticas públicas voltadas para essa questão, uma vez que ela é fundamental para o crescimento da sociedade.
“O grande problema no mundo e no Brasil inteiro é o número baixo não só de meninas, mas também de meninos que querem ser matemáticos. Eles pensam em ser engenheiros, médicos, físicos, químicos, mas quando se fala de matemática, é minoria absoluta. A matemática faz parte do desenvolvimento da espécie humana não só com relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, como também da dita 4ª Revolução Industrial e da Sociedade 5.0. Para chegar lá, precisamos de matemáticos, e para isso precisamos de mais eventos como o TYAN e também políticas públicas de estado que sejam direcionados não para alguns, mas sim para todos”, comentou.
Membra do Comitê de Gênero e Diversidade da SBM/SBMAC, Cintya Benedito falou sobre a atuação da iniciativa, que surgiu em 2018, e tudo que já tem sido modificado desde o nascimento dele. “Eu acho o surgimento desta comissão sendo uma junção entre a SBM e a SBMAC algo muito importante. Ela trouxe muitas discussões importantes para dentro da comunidade matemática, questões como gênero e diversidade precisam estar presentes, as pessoas precisam olhar para elas. Precisamos olhar para isso nos eventos, nas posições de poder. O olhar e as ações da comissão são responsáveis por mostrar e reforçar a presença das mulheres dentro do mundo da pesquisa, dentro da ciência. É um longo caminho e estamos apenas no início”, destacou.
Após a mesa-redonda, os participantes do evento se reuniram em uma atividade de boas-vindas que contou com a apresentação musical do Trio 3 Gerações.