SBM prestigia evento de ponta em Miami com pesquisa brasileira em destaque

Leonardo Cavenaghi, de pós-doutorando da Unicamp, subiu ao palco da Universidade de Miami em novo evento organizado pelo IMSA, que terminou no último dia 2 

O Homological Mirror Symmetry 2025 foi realizado de 30 de janeiro a 2 de fevereiro na Universidade de Miami | Foto: SBM

A Universidade de Miami foi um importante local de discussões matemáticas na última semana ao sediar dois eventos internacionais da área. Após o Mathematical Waves Miami (MWM), o Instituto de Ciências Matemáticas das Américas (IMSA) realizou o Homological Mirror Symmetry 2025, que também congregou pesquisadores e profissionais da área para uma série de palestras de 30 de janeiro a 2 de fevereiro. A Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) marcou presença com a Presidente Jaqueline Mesquita

Criado em 2008, o evento fundamentalmente trata de temas relacionados e eventuais ramificações da teoria da “Simetria Espelho Homológica” (HMS, sigla em inglês), grande conjectura e programa proposto no contexto da Matemática para entender diversos fenômenos aparentes envolvendo simetrias percebidas primeiramente em teorias físicas, como a Teoria das Cordas. 

“Em artigos de Física, em especial em Teoria das Cordas, alguns fenômenos envolvendo simetrias eram percebidos e tais simetrias se davam olhando bem atentamente por meio de reflexões. Mais notadamente no que se chamam ‘números de Hodge’. Neste âmbito, a teoria de Simetria Espelho Homológica consiste em um grande programa para entender essas simetrias, aparecendo nesses números advindos do ramo da Matemática chamado Álgebra Homológica”, explicou Leonardo Cavenaghi, pós-doutorando no Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC) da Unicamp e também na Universidade de Miami no âmbito do IMSA. 

Leonardo Cavenaghi representou a matemática brasileira em Miami | Foto: SBM

A conjectura matemática foi realizada pelo russo Maxim Kontsevich, um dos pais fundadores da teoria, que foi homenageado na conferência por seus 60 anos. Na edição de 2025, o Homological Mirror Symmetry, como é de sua essência, uniu dois temas clássicos em Matemática ao longo dos quatro dias: a Geometria Simplética e Geometria Algébrica. “A teoria Simetria Espelho Homológica vai em um esforço na direção de entender as relações dessas temáticas em exemplos concretos”, adiciona Cavenaghi, que apresentou sua pesquisa  sobre Teoria dos Átomos logo no primeiro dia do evento. 

Trata-se de um evento que apresenta as principais tendências no segmento em nível internacional na área de Ciências Matemáticas. O IMSA reuniu palestrantes de várias instituições de referência em pesquisa, como a Universidade de Genebra, na Suíça, a Universidade de Tsinghua, na China, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), as Universidades de Stanford, Harvard, Oregon e Geórgia, nos Estados Unidos, a britânica Imperial College London, o Centro de Pesquisa e Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional (CINVESTAV), no México, e o Institut des hautes études scientifiques (IHES), na França. 

Maxim Kontsevich foi um dos homenageados no Homological Mirror Symmetry 2025 | Foto: SBM

Congregar cientistas e matemáticos de instituições conceituadas de pesquisa ao redor do mundo é um dos objetivos do IMSA para o evento. Professor titular no IHES, Maxim Kontsevich é um dos poucos integrantes que participa desde a primeira edição do Homological Mirror Symmetry e se diz impressionado com a evolução e a atração da iniciativa em Miami.

“Esse evento começou com cerca de 15 pessoas e é realmente incrível notar como isso cresceu ao longo dos anos. De fato, esse evento tornou-se multicultural por juntar profissionais de várias partes do planeta e Miami se tornou um ponto em comum para congregar essa conexão. Tivemos uma grande presença de matemáticos da América Latina no evento e vários assuntos se convergindo na conferência. É um grande desenvolvimento”, analisa o medalhista Fields de 1998. 

A Universidade de Miami reuniu palestrantes das maiores instituições e institutos de pesquisa do planeta em Ciências Matemáticas | Foto: SBM

Estudante de pós-doutorado em Matemática na Northwest University, no estado norte-americano de Illinois, Mingyuan Hu viajou 2.300 km até Miami para acompanhar o evento que debate exatamente a sua linha de pesquisa atual. Em Evanston, ele prioriza Física-Matemática e a teoria de Simetria Espelho Homológica em seus estudos. 

“O tema principal dessa conferência tem tudo a ver com minha pesquisa e estava muito esperançoso para aprender coisas novas das palestras e trocar experiências e conhecimento com pessoas da área”, contou o pesquisador, graduado na Universidade de Pequim.

Quem também soube aproveitar seu tema de pesquisa em Miami foi Honghao Jing, aluno de pós-doutorado em Matemática em Harvard, no estado norte-americano de Massachusetts. Para ele, ouvir palestras sobre a teoria de Simetria Espelho Homológica é uma experiência que só enriquece seu currículo acadêmico. 

“Eu tenho muitas coisas para aprender. Adoro a oportunidade de conhecer pessoas de todo o mundo e ter a chance de trocar conhecimento. Eu estudo e leio o trabalho de todos esses pesquisadores, então é extremamente benéfico para mim ouvi-los falar aqui sobre Matemática. Eles são excelentes e isso só ajudará ainda mais a minha trajetória na área”, aprova o estudante do 2º ano do pós-doutorado em Cambridge. 

Além de ser orientado por Ludmil Katzarkov, Diretor-executivo do IMSA, em Miami, Leonardo Cavenaghi trabalha em colaboração com o pesquisador Lino Grama, seu supervisor no pós-doutorado pelo IMECC-Unicamp, e com o homenageado Maxim Kontsevich, a quem o brasileiro teceu elogios por sua trajetória no meio científico. 

Ludmil Katzarkov, Diretor-executivo do IMSA, foi um dos colaboradores do projeto de Leonardo Cavenaghi em Miami | Foto: SBM

“É como jogar com Ronaldo no Real Madrid (risos). Além de ele ser uma figura central, está sempre envolto pelos galácticos que são todos os colaboradores dele. Nunca esperei trabalhar com ele. E fiquei com muito medo quando o conheci pela primeira vez. Ele tem uma visão tão madura da Matemática e tantas ideias. É muito generoso, sempre está disponível para te ouvir e isso o torna ainda mais especial”, classifica Cavenaghi.

A participação de matemáticos do Brasil em uma das pesquisas de ponta do Homological Mirror Symmetry 2025 evidencia a influência e a reputação que a ciência brasileira carrega não somente nas Américas, mas no cenário global. 

“Colaborar com o Maxim Kontsevich, como disse, é como jogar com o Fenômeno no Real Madrid e pesquisadores brasileiros estarem em colaboração com um grupo seleto como esse, e não só eu como Lino Grama, por exemplo, mostra que só o que nos afasta desses centros é a distância geográfica, mas que temos bola pra sair jogando”, encerra o matemático de 30 anos. 

Para entreter as dezenas de convidados do evento, a pianista clássica Liya Nigmate foi uma das atrações na edição de 2025. “Foi um verdadeiro prazer fazer parte desta conferência e é uma honra tocar para uma multidão de cientistas tão ilustres e notáveis da nossa geração. A sensibilidade, o entusiasmo que você vê nos olhos do público é apenas algo que não consigo descrever. Quando estou no palco e interajo com o público, não estou apenas executando a música, mas também narrando. É uma experiência muito prazerosa”, disse a artista, que também acompanhou seu marido, o pesquisador Artan Sheshmani, da Universidade de Harvard, no evento. 

Liya Nigmati foi a atração musical para entreter o público do Homological Mirror Symmetry 2025 | Foto: SBM

A Presidente da SBM, Jaqueline Mesquita, esteve in loco ao longo da semana para prestigiar Cavenaghi e as demais palestras de ponta da área. A edição de 2026 do Homological Mirror Symmetry deve ser confirmada pelo IMSA nos próximos meses.