Veículo surgiu como forma de conectar educadores da área
Fundada em 1982, a Revista do Professor de Matemática completou 40 anos de existência. Destinada àqueles que ensinam Matemática, sobretudo nas séries finais dos ensinos fundamental e médio, a RPM é responsável pela publicação de artigos de nível elementar ou avançado que sejam acessíveis ao professor do ensino médio e também para alunos de cursos de Licenciatura em Matemática.
O veículo traz em seu conteúdo experiências interessantes em sala de aula, um problema que suscita uma questão pouco conhecida, uma história que mereça ser contada ou até uma nova abordagem de um assunto conhecido. Além disso, a Revista tem sessões sobre problemas matemáticos, espaço de perguntas feitas pelos leitores, livros, cartas do leitor, painéis e afins. Estas sessões têm como intuito estabelecer uma conversa com o público, com problemas e/ou soluções propostas por eles, cartas, resenhas de livros, erros encontrados em textos didáticos e muito mais – tudo isso visando o aperfeiçoamento do trabalho do professor em sala de aula.
Na última semana, foi realizado na USP São Paulo o Workshop Temático TWAS Young Affiliate Network (TYAN) em Matemática e 1ª Escola Avançada em Matemática, evento que reuniu matemáticos de renome para discutir e promover a matemática de alto nível em diferentes áreas e disciplinas, com diversidade e equilíbrio geográfico. Como parte da programação, foi realizada uma mesa-redonda para celebrar as quatro décadas da RPM.
Dentre os presentes, estiveram Edmilson Luis Motta, atual editor-chefe da RPM. Segundo ele, a Revista foi responsável por mostrar para ele que era possível, sendo ou não professor de matemática, trazer colaborações significativas e relevantes ao mundo matemático de uma forma prazerosa. “Na Revista, vimos pessoas que eram engenheiros, economistas, e que, mesmo não sendo matemáticos, conseguiam trazer colaborações relevantes para a Revista, contavam histórias interessantes. Você percebia que aquelas pessoas estudavam matemática por conta própria e tinham ótimas coisas para serem ditas ainda que não fossem necessariamente da área. Isso foi uma inspiração para mim, porque percebi que poderia falar e estudar sobre a matemática como uma forma de lazer e ainda assim colaborar de forma significativa”, destacou.
Para ele, o veículo tem papel importante para mostrar a importância da matemática. Edmilson acredita que, ao longo desses anos, a RPM conseguiu mostrar como a matemática é importante na formação do cidadão, sendo uma área de cultura uma disciplina que todos devem estudar. O editor também relatou as medidas que têm sido abordadas diante das mudanças do mundo, explicando as preparações e os detalhes sobre o processo de transição que está sendo vivido dos meios de comunicação analógicos para os digitais.
“A gente está num momento de muito aprendizado. Estamos quantificando os artigos que serão abordados sobre determinados assuntos conforme a relevância. Queremos evitar assuntos que possam ficar datados e que com o tempo percam o sentido. Outro ponto é a tecnologia nas escolas. Isso é algo que ainda não atinge o Brasil como um todo, principalmente as regiões do interior, e nós queremos que a Revista tenha impacto para o professor de matemática que esteja mais distante, que só tenha o giz e a lousa. Queremos que eles tenham a oportunidade de dar uma aula melhor”, explicou.
Quem também participou foi a membra honorária do Conselho Editorial da Revista, Renate Watanabe. Ela destacou que a RPM era inédita, sem concorrência, e atendia uma demanda de muitos professores de Matemática ao lhes oferecer material simples para ampliar seus conhecimentos e melhorar suas aulas.
“Em 1980, eu ainda lecionava no então “científico” de um Colégio Estadual de São Paulo e, como a grande maioria dos professores, não conhecia nenhuma publicação em português, salvo os livros didáticos, para apoiar minhas aulas. Eu, tendo passado alguns anos nos Estados Unidos, era assinante da revista The Mathematics Teacher, uma publicação do National Council of Teachers of Mathematics e estava muito ciente como essa revista enriquecia minhas aulas. Daí meu total apoio à iniciativa da SBM de criar uma revista destinada aos professores dos cursos ginasial e colegial”, relembrou.
Watanabe contou que, em 1982, Imre Simon era, simultaneamente, presidente da SBM e diretor do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade São Paulo (IME/USP). Foi ele quem colocou à disposição da RPM uma sala, o telefone e a caixa postal do IME. Além dele, Alcilea, professora do Instituto e encarregada ao lado de Renate de produzir e distribuir o folheto e o primeiro número da revista, recebeu muita ajuda de colegas e funcionários nas tarefas iniciais da RPM. Segundo relatou, trabalhavam, em parte, por idealismo, sem nunca pedir remuneração.
“Éramos professoras de Matemática sem nenhuma experiência em editoração. Conhecíamos, em São Paulo, dois professores de Matemática ligados à Editoras: Scipione Di Pierro Netto da Editora Saraiva e Gelson Iezzi da Editora Atual. Fomos conversar com ambos. Resultado: a Saraiva nos cedeu o cadastro com nomes e endereços de milhares de professores de Matemática de todo Brasil e pagou o envio do Folheto pelo correio. Gelson Iezzi colocou a Editora Atual ao nosso dispor e nos deu assessoria muito necessária para a publicação dos primeiros números da RPM. O que oferecemos em troca foi uma página de publicidade nas primeiras revistas a serem publicadas”, contou.
Renate também fez questão de destacar aspectos que explicam o sucesso da revista. Ela relata que graças aos objetivos da RPM e ao prestígio da SBM, pedidos de financiamento junto ao MEC, CNPq e outros órgãos eram sempre atendidos. E assim, durante muitos anos, não faltou dinheiro para a publicação. A membra do Conselho reiterou que nunca faltou matéria para o conteúdo da revista. Nos primeiros números, professores do Comitê Editorial e professores universitários escreveram os artigos e, aos poucos, a RPM começou a receber muitas colaborações dos leitores.
“Posteriormente, a ajuda financeira dos órgãos oficiais foi diminuindo aos poucos e deixou de existir a partir da RPM 41 (1999), totalmente financiada pelos leitores – e que assim permanece até hoje. A RPM continua procurando atender às demandas dos professores, mas, hoje em dia há muita concorrência. O advento da internet e do Google (em português desde 2005) eliminaram a necessidade premente, existente no século passado, de uma revista que oferecesse ajuda aos professores de Matemática atuantes no ensino pré-universitário”, disse.
Outra representante que esteve presente foi Ana Catarina Hellmeister, que foi a editora responsável pela publicação durante quase 20 anos – da edição 30 à 100. Ela contou sobre o surgimento da Revista e explicou que a RPM nasceu em um contexto no qual os professores precisavam de um veículo de comunicação, uma espécie de rede social onde eles poderiam trazer suas vivências, conhecer outras e ainda tirar suas dúvidas com relação à matemática.
“Nós queríamos que ela fosse um ponto de encontro entre os professores através dos artigos e as sessões, porque naquela época, quando ela foi criada, a gente não tinha internet, sequer tínhamos e-mail. Por isso, os professores precisavam de um veículo de comunicação para ler e contar experiências, resolver problemas e também para ter um espaço onde pudessem perguntar qualquer coisa”, relembrou.
Ana Catarina reiterou que, mesmo com o passar dos anos, a Revista do Professor de Matemática segue cumprindo o papel de ser um contato direto com os professores da educação básica. Ela também salientou a questão das novas ferramentas de mídia, pois, mesmo com as mudanças dentro do ecossistema da comunicação, a Revista ainda consegue se reinventar e exercer de forma eficiente a sua função dentro da comunidade.
“Nós ainda recebemos muitos artigos de professores. Claro que sessões como ‘Leitor Pergunta’ perderam força, uma vez que não faz mais tanto sentido com o advento da internet. Entretanto, nós criamos sessões novas como o “Tá na Net”, onde colhemos erros e fatos interessantes sobre a matemática que estão na internet e publicamos. Também trouxemos uma sessão nova, a ‘Questões com Questões’, que praticamente substituiu o ‘Leitor Pergunta’. Lá, nós pegamos questões de vestibulares ou concursos que geraram debates, ou que foram impugnadas ou que tiveram soluções não tão absolutamente corretas para discutirmos sobre o assunto. É uma forma diferente de cumprir nosso papel. É um desafio”, finalizou.