Paranaense Carla Negri Lintzmayer foi premiada pelo Grupo L’Oreal em parceria com Unesco e ABC para promover a inovação e maior divulgação do trabalho de pesquisadoras no Brasil
Nesta semana, foram anunciadas as cientistas vencedoras da 18ª edição do Prêmio ‘Para Mulheres na Ciência 2023’, oferecido pelo Grupo L’Oréal em parceria com a Unesco e a Academia Brasileira de Ciências (ABC). O programa incentiva a igualdade de gênero na ciência premiando projetos inovadores realizados pelo público feminino. Entre as sete premiadas, destaque para a paranaense Carla Negri Lintzmayer.
As pesquisadoras foram premiadas no Centro de Pesquisa e Inovação do Grupo L’Oréal no Brasil, no Rio de Janeiro, e vão receber uma bolsa de R$ 50 mil para colocarem em prática, em até um ano, seus projetos nas diferentes áreas da ciência. Professora na Universidade Federal do ABC (UFABC-SP), Carla foi a vencedora na categoria “Ciências Matemáticas”.
Os temas dos projetos selecionados em todas as áreas de ciências vão desde os impactos nocivos de uma alimentação rica em gorduras e açúcares na infância até a transmissão de vírus entre países. Todas as categorias são julgadas por um júri formado por membros da ABC. Carla conquistou o prêmio com seu trabalho na área de Otimização Combinatória.
Perfil
Nascida em Maringá, no norte do Paraná, Carla se apegou à Matemática desde o Ensino Fundamental. Logo, não foi muito difícil escolher qual área buscar anos mais tarde. “Minha disciplina favorita sempre foi a Matemática. Eu sei que sempre achei tudo muito lindo e adorava ficar fazendo continhas, mesmo que não parecesse ter aplicações práticas (como era o caso dos exercícios de Física e Química). Lá pelo final do Ensino Médio, um professor começou a me passar exercícios de Cálculo, que normalmente só são vistos na graduação mesmo, e aí eu fiquei mais interessada ainda”, conta.
No fim do Ensino Médio, a estudante acabou se apaixonando pelo curso de Ciência da Computação e, daí para frente, sua vida mudou completamente. “Soube que a Ciência da Computação envolvia bastante Matemática e, levando em conta que poderia ser uma carreira mais promissora, acabei ingressando na graduação. No primeiro ano, tive muito mais disciplinas de matemática do que de computação, o que eu gostava bastante. No terceiro ano da graduação, tive a disciplina de análise de algoritmos, que é a disciplina que realmente une esses dois mundos, da matemática e computação. Ali eu me apaixonei completamente e decidi que queria continuar pesquisando em algo nessa área”, completa.
Trajetória acadêmica
A graduação ocorreu na cidade natal em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), em 2011. O doutorado e o pós-doutorado vieram no interior de São Paulo, mais precisamente pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Eu até iniciei no mestrado em 2012, mas foi convertido para doutorado diretamente, pois meu orientador achou que eu já estava preparada para isso”, surpreende Carla.
Uma de suas principais áreas de atuação é exatamente sobre problemas de Otimização Combinatória. Sua pesquisa ajuda a entender os limites do poder computacional e o desenvolvimento de técnicas para lidar com problemas intratáveis em aplicações reais. A ideia é encontrar a melhor solução aplicável para uma determinada situação.
De forma prática, trata-se de estratégias que podem ajudar a empacotar itens em caminhões respeitando restrições de entrega e minimizando o número de veículos necessários, qual a melhor rota para determinada cidade levando em consideração combustível, tempo, pedágios etc, entre tantas situações do cotidiano. E foram tais particularidades que a levaram ao destaque da edição de 2023 do programa ‘Para Mulheres na Ciência’.
Legado para as mulheres
Emocionada, Carla diz que a honraria vai contribuir muito para o desenvolvimento de sua linha de pesquisa na área acadêmica além da maior divulgação de seu trabalho no Brasil. “Fiquei muito feliz e emocionada ao receber o prêmio. Ele me impacta de duas formas. Em primeiro lugar, simplesmente por ser um reconhecimento ao meu trabalho e a todo o esforço e dedicação que eu costumo empregar no que eu faço. Em segundo lugar, com a visibilidade e o dinheiro do prêmio, eu pretendo financiar algumas viagens para outras universidades e centros de pesquisa, tendo assim a oportunidade de trocar ideias com outros pesquisadores da área e produzir novos resultados”, conta.
Presidente da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) e vencedora do prêmio em 2019, Jaqueline Mesquita fez questão de estar presente neste momento tão especial de Carla. A cientista da computação reconhece que a iniciativa do Grupo L’Oreal é de vital importância para aumentar o empoderamento feminino na área científica.
“O prêmio vai além do reconhecimento individual, porque destaca e reconhece o trabalho das mulheres na Ciência, que muitas vezes sofrem dificuldades na carreira simplesmente por serem mulheres. Ele nos dá visibilidade e ajuda a quebrar alguns estereótipos, além de inspirar outras mulheres. A Matemática e a Computação historicamente têm uma representação menor de mulheres mesmo, então eu acredito que o prêmio ajuda a encorajar outras mulheres a seguirem seus interesses nessas áreas. O prêmio não está diferenciando a ciência feita pela mulher da ciência feita pelos outros, como se ela fosse diferente ou como se precisássemos de ajuda. A ciência é uma só, porém a diversidade enriquece, pois traz diferentes perspectivas”, conclui Carla.
Nesta edição do ‘Para Mulheres na Ciência’, foram mais de 400 projetos inscritos, de universidades de todas as regiões do Brasil. Além de Carla, as pesquisadoras reconhecidas foram: Flávia Figueira Aburjaile, Jade de Oliveira, Jaqueline Góes de Jesus e Raquel de Almeida Ferrando Neves na categoria Ciências da Vida; Tayana Tsubone, em Ciências Químicas; e Verônica Teixeira foi reconhecida em Ciências Físicas.