Mineira de 37 anos é professora em Poços de Caldas e sonha em ser inspiração para meninas que iniciam os passos na área de Ciências Matemáticas
No fim de maio, o Ministério da Educação agraciou os vencedores da 1ª edição da Olimpíada Brasileira de Professores de Matemática do Ensino Médio (OPMbr). Dos dez melhores docentes da disciplina no país, nove têm histórias vinculadas ao Programa de Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (PROFMAT), coordenado pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM). Uma delas é a mineira Silmara Louise da Silva, de 37 anos.
A matemática de Poços de Caldas é uma dos cinco egressos do PROFMAT medalhistas de ouro na OPMbr e terá o direito de viajar à China, em setembro, para conhecer o Centro de Educação para Professores da Unesco (TEC Unesco), em Xangai. A três meses da oportunidade de sua vida na área, Silmara se diz ansiosa para conhecer as diretrizes do país que lidera o ranking do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), principal avaliação da educação básica no mundo, em Matemática.
“Minhas expectativas são as melhores para voltar com uma bagagem maior de conhecimento. Serão dez dias intensos e de muito aprendizado na China. É claro que tudo que veremos lá é para uma realidade específica. É o ensino de Xangai, então teremos que ver se dá para ser aplicado na nossa realidade. Não se trata de uma receita de bolo, pois é uma construção. Espero conseguir entender como é que as coisas acontecem lá, como eles lidam entre os pares e as atividades em sala de aula e quero trazer isso para minha escola, para minha cidade e para o Brasil”, diz a mineira.
COMO TUDO COMEÇOU
Nascida e residente em Poços de Caldas, sul de Minas Gerais, Silmara ainda parece não acreditar na realidade nua e crua: é uma integrante do grupo dos dez melhores professores de Matemática do Brasil. Quem a conhece mais a fundo, sabe que a mineira já tinha um ‘pezinho’ no sucesso em uma área que foi estimulada desde o berçário.
“Quando era criança, meus pais me incentivaram muito com brinquedos educativos de lógica. Então, havia muitos quebra-cabeças, bloco de serem encaixados, tinha um joguinho de engrenagem de que nunca me esqueço. Por isso que, na escola, foi natural que gostasse de Matemática desde cedo, porque ela me instigava mais. Eu tinha que encontrar as soluções para os problemas e era o que estava acostumado a fazer com meus brinquedos”, conta.
Filha de professora, Silmara reconhece que o impulso dos pais foi muito importante e acabou sendo um catalisador para ter um norte do que estava destinada a fazer de sua vida após o período escolar. “Quando tinha dúvidas em casa, meus pais procuravam me responder e tiravam as dúvidas. Então, essa minha característica de ser curiosa vem do incentivo deles. Fui muito influenciada positivamente por eles”, confirma.
Os professores também tiveram sua parcela de contribuição. Ela lembra que seu interesse pela disciplina aumentava com os desafios propostos em sala de aula e também por figuras carinhosas que a marcaram na adolescência ainda em Poços, como a ‘professora Carlota’.
“Alguns professores me chamaram muito a atenção. Me lembro de um dos professores que dava desafios. Eu voltava para casa e ficava pensando para dar a resposta nas aula seguinte. Já no Ensino Médio, eu tinha uma professora chamada Carlota, que é uma inspiração para mim até hoje, porque foi meu primeiro contato mais profundo com a Matemática. Ela me disse que um dia queria me ver estudando na Unicamp. E hoje estudar na Unicamp é um dos meus sonhos. Foi ela quem plantou essa sementinha”, revela.
ESCOLHA PROFISSIONAL
Dessa maneira, o caminho para a área acadêmica foi inevitável e, o mais importante, da forma mais natural possível. Primeiramente, ela completou a graduação em Licenciatura em Matemática pelo Centro Universitário Fundação de Ensino Octávio Bastos (UNIFEOB), em São João da Boa Vista (SP), cidade a 50 quilômetros de distância da cidade natal. Posteriormente, emendou o curso de Engenharia Elétrica na Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas), no Campus de Poços de Caldas.
A mineira chegou até a trabalhar como engenheira eletricista em um impulso de quem sai da faculdade com vários sonhos, porém logo percebeu que sua vocação era a sala de aula.
“Como eu sabia que queria fazer algum curso relacionado à matemática e minha mãe só conhecia Licenciatura, então, acabei cursando a Licenciatura em matemática primeiramente. Após conhecer um pouco mais da vida universitária, escolhi fazer a faculdade de Engenharia Elétrica, pois é um curso que também envolve muita Matemática. Trabalhei em uma empresa de automação por algum tempo, mas houve um concurso em Poços para ser professora, fiz e fui aprovada. Então, comecei a trabalhar meio período em cada emprego e, rapidamente, percebi que não faria bem as duas coisas. Então, tive que escolher e a carreira como professora venceu”, detalha Silmara.
Durante o período de graduação em Engenharia Elétrica, a mineira se espelhou em uma professora da disciplina de Cálculo, Márcia, que transformou o método de ensinar seus alunos no dia a dia nas cinco escolas onde trabalha em Poços de Caldas. “Ela (Márcia) tinha muita paciência com os estudantes. Eu me espelho na paciência que ela tinha em tirar cada dúvida e procuro levar isso para os meus alunos e alunas”, projeta.
COMO O PROFMAT MUDOU SUA VIDA
Hoje, a professora de 37 anos é concursada tanto na rede municipal de Poços de Caldas quanto no ensino estadual de Minas Gerais. Grande parte do sucesso, ela enfatiza, está no conhecimento adquirido através do PROFMAT. Ela concluiu a especialização em setembro de 2023 pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e se diz muito grata por todo auxílio do programa coordenado pela SBM.
“O PROFMAT foi uma experiência que mudou a minha vida da água para o vinho, porque eu não conhecia nada do mundo acadêmico. Eu não tinha conhecimento de pesquisa universitária. O PROFMAT é diferente de tudo e meus professores foram extraordinários”, exalta Silmara.
Em novembro do ano passado, a professora mineira esteve presente no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), no Rio de Janeiro, para participar do 1º Encontro Nacional do PROFMAT. Entre outras atividades, o programa de Mestrado auxiliou Silmara na ampliação de seus horizontes dentro do cenário acadêmico.
“Eu vi que teria esse Encontro do PROFMAT, então fui sozinha para o Rio de Janeiro. O PROFMAT me abriu e está abrindo muitas portas e oportunidades, é um mundo completamente novo e do qual estou gostando muito. Pretendo fazer um doutorado. E pelo pouco que conheço, quero conhecer mais para seguir essa carreira de pesquisa exatamente no doutorado”, planeja.
Para o futuro, Silmara se vê no desafio de continuar se reinventando em sala de aula, descobrir novas formas de fisgar a atenção dos alunos e, acima de tudo, incentivá-los a seguir no segmento de Matemática. Especialmente as estudantes, que ainda são minoria dentro do espaço científico brasileiro.
“Por exemplo, me lembro quando fui fazer minha defesa do Mestrado, eu levei quatro alunas exatamente para conhecerem as particularidades do mundo acadêmico. Tenho o sonho de ser uma inspiração, em especial, para minhas alunas, porque quero mostrar a elas que Matemática também é ‘coisa de menina’. Gosto e quero servir de inspiração para elas”, finaliza a mineira.
A SBM não para por aqui sua série de reportagens sobre os vencedores da OPMbr. Nos próximos dias, traremos mais um perfil dos demais medalhistas de ouro com passagem pelo PROFMAT. Fiquem ligados!