O mineiro de 47 anos é professor do CEFET-MG e será um dos visitantes ao TEC Unesco, em Xangai, neste mês, para conhecer a estrutura chinesa, referência em ensino de Matemática no planeta
Neste mês, os dez medalhistas de ouro da 1ª Olimpíada Brasileira de Professores de Matemática do Ensino Médio (OPMbr) terão o privilégio de visitar o Centro de Educação para Professores da Unesco (TEC Unesco), em Xangai. A China lidera o ranking do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), principal avaliação da Educação Básica no mundo, em Matemática.
Dos vencedores da OPMBr, conhecidos em maio, 90% deles têm histórias vinculadas ao Programa de Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (PROFMAT), coordenado pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM). O mineiro Christiano Otávio de Rezende Sena é mais um representante do grupo dos egressos da iniciativa.
Matemática por vocação própria
Nascido em 1977, Christiano reside em Belo Horizonte, onde hoje trabalha no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG). A Matemática em sua vida foi uma paixão que o fisgou desde a infância, mas nunca por influência de ninguém próximo. Apesar do convívio com vários professores em seu círculo pessoal, como a mãe, docente de Química, a escolha pela profissão veio pela inclinação na disciplina e não por alguma referência pessoal.
O apego pela disciplina mais famosa da área de Ciências Exatas veio naturalmente. “Não existiu uma personificação daquilo que me influenciou. A Matemática sempre foi a disciplina que eu tive mais facilidade, tanto no aprendizado quanto no próprio desenvolvimento. Em grupos de estudo, sempre há um que ajuda em determinada matéria. E eu sempre ajudava em Matemática, em que me destacava e conseguia contribuir para ensinar os colegas”, conta Christiano.
Acostumado a tirar boas notas em Matemática nos Ensinos Fundamental e Médio, o mineiro já tinha a pretensão de adentrar na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mas a questão ficou no ar: qual curso fazer? Ele reconhece que a Licenciatura em Matemática não foi, de fato, sua primeira alternativa ao fim do período escolar.
“Foi uma situação curiosa, porque o que gostaria de fazer era o curso de Ciência da Computação na UFMG, mas o curso tinha uma concorrência muito grande e uma nota de corte muito alta. Naquela época, era um dos cursos mais disputados da UFMG”, ratifica Christiano, que teve uma ideia para encurtar o caminho.
“Mas como eu não estava disposto a ficar dois, três anos fazendo cursinho para vestibular, eu analisei a grade curricular do curso de Ciência da Computação e percebi que a grade nos primeiros dois anos era muito semelhante com Matemática. Por isso, o motivo para fazer a Licenciatura em Matemática se deu porque o curso tinha uma procura menor. No meu raciocínio, lá dentro eu faria a migração para Ciência da Computação de maneira mais rápida dentro da UFMG”, admite.
O plano parecia infalível e a primeira parte foi finalizada com êxito: Christiano foi aprovado em Licenciatura em Matemática na UFMG. Só que, após os primeiros seis meses, ele percebeu que sua escolha se inclinou para uma área diferente do curso inicial.
“Antes de eu completar o 1º semestre, eu já estava trabalhando. Fui contratado por dois cursinhos pré-vestibular para dar plantão, então resolvia exercícios de vestibular o dia todo e eventualmente dava aula quando faltava professor. E aquilo que me conquistou de tal maneira que não pensei duas vezes em desistir da Ciência da Computação para me tornar um professor dali para frente”, conta o mineiro.
Investimento na carreira de professor
Entretanto, antes de mergulhar ‘de cabeça’ na docência, Christiano precisou vencer uma barreira particular. Tímido, o rapaz tinha muita dificuldade de se apresentar em público. Ora, como ser professor se tinha vergonha dos próprios alunos? Veio, então, o foco em investir na própria evolução da didática na sala de aula.
“Sempre fui tímido e, por isso, foi uma barreira enorme que tive que vencer. Quando decidi que seria professor, tive que buscar recursos fora da universidade, para além do conteúdo formal, que me possibilitassem ser um bom profissional. Então, nesta caminhada, fiz curso de oratória, de vocalização, fiz três anos de teatro para me apresentar em público de uma maneira tranquila. Além disso, eu me gravava naquelas câmeras VHS e assistia às minhas aulas fictícias para saber onde estava errando e acertando na fala”, lembra.
Até na mágica o sujeito se apegou para findar qualquer resquício de medo em se apresentar aos futuros alunos. “Fiz curso de mágica, porque há uma expressão corporal enorme na mágica e fui entender como que o corpo ‘fala’ para saber me expressar. E ainda tinha um quadro no meu quarto que escrevia para melhorar minha caligrafia. Realmente eu investi muito em mim para me tornar um bom professor. E quanto mais sentia que aquilo dava resultado, mais eu queria aprimorar”, completa Christiano.
O PROFMAT na vida do mineiro
E após o investimento na ‘primeira etapa’, como faz questão de enfatizar, o matemático resolveu fazer todos os sacrifícios na capacitação quanto ao conteúdo da disciplina. Nem mesmo um mestrado na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) foi o suficiente para preencher todas as lacunas do conhecimento.
“Eu fiz na UFMG um curso de especialização para professores da Educação Básica e emendei em um Mestrado em Ensino de Ciências em Matemática na PUC Minas. Naquele momento, todavia, senti que ficou uma pontinha solta em relação ao conteúdo de Matemática. Daí, alguns colegas faziam o PROFMAT e me contaram como era o Mestrado. Por isso, fiz um segundo Mestrado para suprir essa necessidade de qualificação em conteúdo”, confirma.
De 2016 a 2018, Christiano completou o PROFMAT pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), que foi fundamental para a sua evolução nas salas de aula do CEFET-MG. Hoje, o professor de 47 anos leciona para estudantes do Ensino Médio na instituição, onde trabalha há uma década, e vê diariamente como sua didática progrediu após as discussões no curso de Mestrado da SBM.
“O PROFMAT foi muito importante na questão dos conteúdos matemáticos. Eu confirmei as indicações dos meus colegas quando fui fazer o mestrado. Lá, nós discutíamos conteúdos que lecionávamos em sala de aula entre nós e, evidentemente, com a orientação dos professores do curso. Eu não poderia deixar de recomendar o PROFMAT a qualquer um que esteja começando a carreira de professor, porque é algo que vai enriquecer não somente seu conteúdo, mas também a discussão de como o conteúdo é desenvolvido em sala de aula. O PROFMAT é realmente um ponto que vou levar para o resto da minha carreira, realmente fez diferença para minha qualificação pessoal”, enfatiza o professor.
Atualmente, Christiano é doutorando no programa de pós-graduação em Educação Tecnológica, no CEFET-MG.
O mineiro já arrumou as malas para uma viagem, que aguarda ansiosamente, para o Oriente. Ter contato com o sistema educacional mais famoso do planeta no ensino de Matemática é uma experiência que o vem deixando ansioso.
“A expectativa para a viagem a Xangai é enorme. Levando em consideração que a China é sempre uma das primeiras no ranking do Pisa, a oportunidade de aprender in loco como é a educação por lá, como fazem para obter tamanho destaque no cenário mundial, é uma oportunidade ímpar na carreira de qualquer profissional. Estou muito otimista que vamos voltar com uma boa experiência de lá, em informações, conhecimento e, acima de tudo, na questão cultural, já que é uma cultura completamente distinta da nossa. E é um desafio também para nós replicarmos a metodologia, adaptando à nossa realidade”, encerra Christiano, um dos melhores professores de Matemática do Brasil na atualidade.