Cientista de 37 anos é a mais nova a ocupar o cargo de liderança da Sociedade desde 1969. Prioridades à frente da Sociedade envolvem fortalecimento da instituição e maior divulgação da disciplina perante à comunidade
Nesta quarta-feira (26), a pesquisadora roraimense Jaqueline Godoy Mesquita foi empossada como a nova Presidente da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), sucedendo o mandato de Paolo Piccione. Ela vai liderar as ações da Sociedade no período que se estende de agosto de 2023 até julho de 2025. A cerimônia foi destaque no 34º Colóquio Brasileiro de Matemática (CBM), que está ocorrendo no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), no Rio de Janeiro.
Atualmente professora do Departamento de Matemática da Universidade de Brasília (UnB), Jaqueline é somente a terceira mulher a ocupar o cargo mais importante da SBM, repetindo o caminho de Keti Tenenblat (1989 a 1991) e Suely Druck (2001 a 2005). A coroação faz também da pesquisadora de 37 anos a presidente mais jovem da história da SBM, que foi criada em 1969, e a primeira representante da região Norte no cargo.
“É muito importante trazer essa questão da representatividade. Você não imagina se vendo em um lugar onde não há representatividade. Por isso, trago comigo todas as mulheres e meninas deste país que um dia pensaram em estudar Matemática e que sonham chegar até aqui. Ter uma mulher em cargos de destaque é fundamental, em especial dentro da comunidade matemática no Brasil, onde a maior parte dos pesquisadores são homens”, defende Jaqueline, PhD em Matemática pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), da USP de São Carlos.
REFERÊNCIA DENTRO E FORA DO BRASIL
A cientista é considerada uma das maiores referências na área de Análise Matemática, com ênfase em equações diferenciais e equações diferenciais funcionais com retardamento. A área ainda pouco explorada dentro da disciplina fez Jaqueline ser uma das pioneiras no desenvolvimento do tema e lhe rendeu prêmios internacionais, em especial pela elevada aplicabilidade a estudos que buscam compreender a evolução de doenças como as causadas por vírus.
Em 2018, foi eleita membro da Academia Mundial de Ciências (TWAS), afiliada da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Na temporada seguinte, Jaqueline recebeu o prêmio “Para Mulheres na Ciência”, na categoria Matemática, oferecido pela empresa francesa L’Oréal, em parceria com a Unesco Brasil e a ABC. Tudo isso com apenas 33 anos de idade.
Desde 2021, Jaqueline, natural de Boa Vista (RR), é embaixadora do Comitê de Mulheres Matemáticas da União Matemática Internacional (IMU), mesmo ano em que adentrou como Vice-Presidente da SBM.
Em março, recebeu a honraria “Science, She Says! Award”, em Roma, prêmio concedido pelo Ministério das Relações Exteriores e Cooperação Internacional da Itália (MAECI) a jovens cientistas estrangeiras. Jaqueline foi a única matemática agraciada da América do Sul, Central e Caribe.
PRIORIDADES A CURTO PRAZO
Na cerimônia de posse, durante o CBM, Jaqueline destacou as prioridades para seu biênio à frente da Sociedade. A matemática quer fortalecer a instituição de maneira a ampliar o acesso à disciplina e promover sua divulgação científica.
“É um cargo de muita responsabilidade por continuar o trabalho dos meus antecessores, tanto no que tange às pesquisas de excelência em Matemática quanto promover a parte da Educação Básica, que ficou um pouco defasada pela pandemia e é onde temos vários obstáculos pela frente. Queremos também fazer a implementação do doutorado profissional em Matemática em rede nacional. A ideia é retomar os grupos de trabalho para escrevermos uma proposta robusta para ser aceita na CAPES, pois a gente sente que há uma necessidade muito grande de nossa população nessa área. Desejamos trazer muitas ações inovadoras, como parte da comunidade científica na área de Matemática. É uma das nossas bases, aumentar a diversidade, continuar apoiando a representatividade, não somente de gênero, mas também racial, regional e de grupos minoritários, a colaboração com outros países. Assim como ocorreu o Encontro Brasil-China, estamos discutindo a possibilidade de termos eventos do Brasil com a Polônia e também com Israel para tentarmos ampliar as relações internacionais da nossa área de influência”, cita a nova Presidente da SBM.
A partir do próximo mês, Jaqueline terá a nova diretoria da SBM composta por vários membros que compuseram sua chapa na Assembleia Geral. Paolo Piccione deixa a presidência, mas continuará ativo no grupo, agora como um dos diretores do grupo majoritário.
Confira todos os integrantes da nova diretoria da SBM!
PRÊMIO SBM
A 34ª edição do CBM também, como é tradição, sediou a entrega do Prêmio SBM. Como acontece a cada dois anos no próprio evento, a premiação contempla o vencedor que engloba os seguintes parâmetros da SBM: originalidade, relevância, profundidade e potencial de impacto no desenvolvimento da respectiva área de Matemática.
O grande vencedor em 2023 foi o cearense Damião Araújo, PhD em Matemática e radicado na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O profissional foi agraciado pelo trabalho intitulado “Equações Infinitas de Laplace com Absorções Singulares”. Em sua obra, o pesquisador buscou estudar propriedades de regularidade para equações elípticas singulares não variacionais regidas pelo infinito-laplaciano. Além disso, Araújo também expõe a existência de soluções, propriedades de não degenerescência e estimativas geométricas finas para o contorno livre.
A premiação distinguiu, de fato, o melhor artigo de pesquisa em Matemática publicado pela nova geração de matemáticos do Brasil. Outro momento que gerou emoção no Colóquio foi a homenagem aos cientistas João Lucas Marques e Maria Eulália com a concessão do título de associados honorários da SBM.
Quem teve o privilégio de entregar as placas foi Paolo Piccione, que passa o bastão da presidência a Jaqueline. “Maria e João são pessoas admiráveis que tenho o privilégio de ser amigo deles”. Além disso, houve tempo para a solenidade relacionada ao Prêmio Elon Lages Lima, destinado para os autores da obra “Combinatória”.
Os pesquisadores Fábio Botler, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Taísa Martins, da Universidade Federal Fluminense (UFF), e Guilherme Oliveira Mota, da Universidade de São Paulo (USP), receberam o prêmio. O livro foi escrito também por Robert Morris, pesquisador do IMPA, Walner Mendonça, Doutor pelo IMPA, e Maurício Collares, do Instituto Discreto de Matemática em Graz (TU – Graz), na Áustria.