Recifense Eliton Mendes Pedrosa Simes é único professor do estado de PE entre os 20 candidatos por projeto inovador que alia matemática e literatura. Resultado dos vencedores será no dia 27/03
No próximo dia 27 de março, serão conhecidos os medalhistas de ouro da primeira edição da Olimpíada de Professores de Matemática do Ensino Médio (OPMbr). A competição tem como uma das apoiadoras a Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) e visa selecionar os 10 melhores docentes das redes pública e privada do país no conhecimento da disciplina.
Os vencedores ganharão uma viagem para conhecer o Centro de Educação para Professores da Unesco (TEC Unesco), em Xangai, na China, em outubro. A nação asiática ocupa o primeiro lugar no ranking do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), principal avaliação da educação básica no mundo.
A competição se iniciou com 600 participantes de todo o Brasil. Hoje, restam apenas 20 professores que estão na disputa pela honraria e a oportunidade de embarcar em um intercâmbio técnico e cultural no país mais desenvolvido em pesquisas matemáticas. Entre os finalistas, há um egresso do Programa de Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (PROFMAT), de coordenação da SBM. Trata-se do pernambucano Eliton Mendes Pedrosa Simes, professor na Escola de Aplicação do Recife (FCAP/UPE).
Quem é Eliton?
O recifense de 48 anos é formado em Bacharelado em Matemática pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e também possui Licenciatura na área pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Igarassu (FACIG). Eliton ingressou no PROFMAT pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) no fim de 2021 e é um dos mais de 7.000 profissionais que se tornaram mestres pelo Programa da SBM.
“Foi no PROFMAT onde tive acesso a bons professores, tive acesso a ensino de excelência. Foi a partir dele que decidi me dedicar exclusivamente à educação pública e tentar devolver para a sociedade aquilo que ela me deu. Da mesma forma que a matemática mudou a minha vida, eu desejo fazer com que eu consiga mudar a vida de muitos estudantes”, comenta o professor.
A realidade atual só pôde ser concretizada com muito esforço e dedicação. De origem humilde, Eliton cresceu transitando entre Recife e Olinda. Sempre gostou de matemática e sua mãe o incentivava com jogos de lógica.
Para quem vê o pernambucano na frente da sala de aula, não imagina que, no Ensino Fundamental, o moleque passou perrengue exatamente em matemática. “No 8º ano do Ensino Fundamental, lembro que comecei a sentir dificuldade em matemática. Tinha um professor muito rígido, muito carrasco, se a gente errava uma vírgula, anulava a questão toda, não aproveitava nada do que a gente fazia, e eu senti isso, fiquei em recuperação nos dois primeiros bimestres do ano”, conta.
Após se recuperar nos seis meses seguintes, Eliton passou de ano e encontrou um professor que foi seu grande motivador para seguir na empreitada. “Ele começou a me motivar e me incentivar bastante ao estudo da matemática. Daí, minhas notas começaram a ficar altas. Comecei a me dar muito bem em matemática. E o professor Luiz Carlos trazia desafios e perguntava sempre para mim: ‘Vai ser (nota) 10 novamente?’ No 9º ano, posso dizer que fiquei interessado por Matemática exatamente pelos desafios que o professor Luiz Carlos trazia para mim”, completa.
Aliando matemática e literatura
Ao mesmo tempo, ele não deixava também de ter apego por outras disciplinas. Entre elas, português, que auxiliaria o projeto que o destacou entre tantos professores de Matemática do Brasil três décadas depois. “Também tive uma professora de português que me incentivava a leitura, a professora Fátima Santos, e ela apresentava as obras literárias. Então, no 8º e 9º anos, eu comecei a ter conhecimento de obras literárias em português. Eu via a minha mãe também lendo em casa, daí eu pensei comigo: ‘Ué, por que não existem obras literárias em matemática?”, recorda.
A mescla bem-sucedida da literatura com a área de Ciências Exatas possibilitou o pernambucano a desenvolver um projeto para lecionar a disciplina a seus alunos de um jeito bem especial na capital de Pernambuco. Nas aulas de Eliton, um dos desafios dos estudantes é exatamente ler livros com conteúdos matemáticos, uma estratégia que ganhou corpo na época da graduação na UFPE.
“Eu tinha um colega na UFPE que me emprestou um livro, o último Teorema de Fermat. Aquele livro passou a ser meu livro de cabeceira. Eu me apaixonei pela história, por livros voltados com obra literária para a Matemática. Daí, pensei: ‘Acho que eu posso fazer com que o meu estudante tenha paixão pela matemática a partir das obras literárias’”, narra o professor de 48 anos.
Para ele, ensinar matemática de um jeito diferente do convencional é a chave para cativar a atenção dos estudantes na atualidade. “Quando eu apresentei a proposta das obras literárias para os estudantes, é comum ouvir: ‘Mas é matemática ou português?’ A gente está diante de estudantes que não têm o hábito de ler, principalmente na escola pública aqui de Pernambuco. E matemática sempre é estigma na vida do aluno, que é ruim, difícil e tudo mais. Então, a ideia das obras literárias é fazer com que eles aprendam temas transversais que não são ensinados em sala de aula e vejam que a matemática é tão simples quanto qualquer outro componente curricular, que ela está no dia a dia e fazê-lo se apaixonar pela matemática de uma forma mais lúdica”, opina Eliton, que tem visualizado resultados satisfatórios por parte dos alunos.
Em provas como o Enem, vários dos estudantes da Escola de Aplicação do Recife tiveram facilidade em muitas das questões exatamente pelo contato com sua didática. “Os estudantes mandaram mensagem dizendo fizeram o Enem lembrando do livro do primeiro ano, do terceiro ano, que muita coisa que tinha na prova já tinha lido no livro que passei. Então, o fato de o aluno ter lido o livro fez com que despertasse para a matemática e, consequentemente, as questões foram mais fáceis. Mas por quê? Porque abriram a mente e desenvolveram uma concepção de matemática diferente do habitual”, explana.
Único representante de PE entre os finalistas
A oportunidade de ser o único representante do estado de Pernambuco entre os 20 candidatos à medalha de ouro da OPMbr já faz Eliton ter um gostinho satisfatório de todo o empenho diário em Recife. Mas viajar para o outro lado do mundo, ele confessa, seria a consagração de uma trajetória árdua.
“Seria a coroação do meu trabalho, né? Seria uma forma de mostrar para o meu aluno que a matemática pode te levar para onde você quiser. É a forma de motivar os meus estudantes a buscar a Olimpíada, buscar a matemática como uma fonte de mudança. E também de aprender mais. É interessante ir à China, pois quero aprender o que está acontecendo lá, o que posso trazer para melhorar as minhas práticas e ajudar meu país. Ganhar uma medalha vai transformar a minha vida nesse sentido e servir de inspiração para os meus alunos e colegas de trabalho”, finaliza o docente.
Coordenador do PROFMAT na UFRPE, Fabiano Silva foi professor de Eliton na disciplina de Resolução de Problemas. E de cima do palco, a visão dele sobre o mestrando era a melhor possível.
“Ele sempre foi uma pessoa muito centrada, muito responsável. Na minha disciplina, terminou com A e, durante todo o curso, foi um aluno de excelente desempenho. Não é à toa a experiência que já soma na área de ensino aqui em Pernambuco”, elogia o coordenador.
Por ser o primeiro Mestrado profissional do Brasil, o PROFMAT é vital para o desenvolvimento de docentes do Ensino Básico, porque trabalha a formação conteudista e técnica para os futuros professores. E tais características, segundo Fabiano, capacitaram Eliton a criar um método inovador de divulgar seus conhecimentos em sala de aula.
“O curso melhora o nível de habilidade dos nossos estudantes. Eles criam novas habilidades, vão ressignificando alguns conceitos, vão aprendendo muitas teorias novas. E quando eles retornam às escolas para dar aula, levam outro tipo de experiência. Além do conhecimento matemático mais rigoroso, eles também levam experiências voltadas para o ensino desse tipo de matemática. Então, fazem com que as turmas tenham também um trabalho mais voltado para a resolução de problemas, com uma didática que possibilita o melhor aprendizado e a criação de projetos inovadores na área e nas suas escolas. O Eliton tem todo o mérito”, opina.
Um evento on-line da OPMbr marcará a divulgação dos resultados na próxima quinta-feira. Além dos 10 vencedores na categoria ouro, a premiação inclui 48 professores na categoria bronze e outros nove medalhistas de prata.
O PROFMAT
A SBM entende que há a necessidade de oferecer aos alunos um ensino de melhor qualificação em matemática e, neste contexto, entra a capacitação dos docentes. Por essa e outras razões, foi criado o PROFMAT há 12 anos.
A iniciativa é um dos alicerces da Sociedade para desenvolver a formação dos professores, com ênfase no domínio aprofundado de conteúdo matemático para a rede pública de ensino. O programa impacta hoje consideravelmente na capacitação de milhares de professores em todo o território nacional.
Mais de 7.310 alunos e alunas se tornaram mestres pela iniciativa, que conta com o reconhecimento do MEC e do Conselho Nacional de Educação (CNE) com nota máxima (5).
Hoje, são 81 Instituições de Ensino Superior asssociadas à Rede Nacional do PROFMAT que asseguram o caráter de gratuidade do programa e são responsáveis por toda a coordenação das suas atividades.