Gauss Moutinho Cordeiro, Maria Eulália Vares, Diana Sasaki Nobrega e Lucas da Silva Reis foram escolhidos novos membros da entidade em 2025
Quatro novos matemáticos fazem parte do seleto grupo de membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC). O resultado foi divulgado pela Assembleia Geral Ordinária da entidade no fim do ano passado e o campo das Ciências Matemáticas ganha novos integrantes para o corpo majoritário de 2025.
Os professores Gauss Moutinho Cordeiro, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Maria Eulália Vares, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), já tomaram posse, em janeiro, como membros titulares da ABC. Os docentes Diana Sasaki Nobrega, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), e Lucas da Silva Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), serão diplomados como membros afiliados da entidade no segundo semestre.
MEMBROS TITULARES
Os membros titulares receberão seus diplomas durante a Reunião Magna da ABC, a ser realizada no Rio de Janeiro de 6 a 8 de maio de 2025. A eleição para a categoria, composta por cientistas brasileiros de reconhecido mérito, é bastante criteriosa.
Não há autocandidatura, e os candidatos são indicados exclusivamente pelos membros titulares que já fazem parte da Academia. Cada integrante pode indicar até dois nomes, cujas candidaturas são avaliadas por área de especialidade científica.
GAUSS MOUTINHO CORDEIRO (UFPE)
Professor Titular do Departamento de Estatística da UFPE, Gauss Cordeiro é um dos maiores cientistas brasileiros da atualidade. Por duas vezes seguidas (em 2022 e 2023), o recifense foi eleito pelo portal Research.com – plataforma acadêmica que tem como público-alvo pesquisadores espalhados por todo mundo – como melhor matemático do Brasil no ranking internacional.
Influenciado pelo pai Sidrack Cordeiro, professor de Física e Matemática na Escola de Engenharia da UFPE, Gauss concluiu o Bacharelado e a Licenciatura em Matemática na Universidade Católica de Pernambuco em 1973. Um ano depois, finalizou a graduação em Engenharia Civil na UFPE.
Em 1976, terminou o Mestrado em Engenharia de Produção com ênfase em Pesquisa Operacional na Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia (COPPE), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde estudou técnicas de Matemática Aplicada úteis em Engenharia como Processos Estocásticos e Teoria das Filas.
Depois disso, Gauss passou a se dedicar à Estatística Matemática desde o doutorado em Estatística na prestigiada universidade britânica Imperial College London em 1982, área em que persiste trabalhando até os dias atuais, com maior interesse em modelos de análise de sobrevivência e confiabilidade.
Hoje, o professor da UFPE atua em modelos para estimar as probabilidades de cura e o tempo de sobrevivência de várias patologias graves, principalmente o câncer. Para Cordeiro, entrar para o seleto grupo de membros titulares da ABC é uma honra e o pesquisador já sabe quais serão seus objetivos com tamanha responsabilidade na Academia.
“Estou extremamente honrado com o título de membro titular da ABC e procurarei participar das atividades canônicas à minha área patrocinadas pela Academia. Tenho ministrado de forma voluntária de oito a 12 palestras (todos os anos desde 2014) em escolas públicas de Recife e de outras cidades do interior pernambucano, enfatizando a importância dos cursos das áreas de Ciências Exatas e das Engenharias da UFPE para o progresso do Brasil. Nestes termos, terei a oportunidade também de ressaltar a importância da Academia Pernambucana de Ciências neste processo de desenvolvimento”, declara o estatístico.
MARIA EULÁLIA VARES (UFRJ)
Professora Titular do Instituto de Matemática da UFRJ, Maria Eulália é especialista em Teoria da Probabilidade e Processos Estocásticos. Ela possui graduação em Matemática pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), concluída em 1975.
De Porto Alegre, ela se mudou para o Rio de Janeiro no ano seguinte para iniciar o mestrado em Matemática pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), completo em 1977. O doutorado foi realizado no exterior. Em 1980, Maria Eulália se tornou doutora em Estatística pela Universidade da Califórnia, em Berkeley.
Em 2011, foi eleita Fellow do Institute of Mathematical Statistics (IMS) e, posteriormente, para o International Statistical Institute (ISI). Entre 2015 e 2017, Maria Eulália participou do periódico Annals of Probability, publicado pelo IMS e considerado um dos dois principais na área de Probabilidade. Também foi editora para Teoria e Métodos do Brazilian Jr. of Probability and Statistics, publicado pela Associação Brasileira de Estatística (ABE).
Há quatro anos, a gaúcha conquistou a medalha Willem van Zwet, concedida pela instituição internacional Bernoulli Society for Mathematical Statistics and Probability. Em sua primeira edição, a distinção reconheceu a atuação de Maria Eulália como membra do instituto e Presidente do Comitê de Publicações, que promove o progresso da Estatística Matemática e de Probabilidade em vários países.
Entre 2006 e 2009, Maria Eulália foi editora da revista Stochastic Processes and their Applications (SPA), publicada pela Elsevier sob responsabilidade editorial da Bernoulli Society, e se tornou responsável por negociar melhores condições de acesso à publicação, especialmente necessárias para pesquisadores de países em desenvolvimento, também abrindo portas para a participação de jovens pesquisadores e estudantes. Como especialista em Teoria da Probabilidade, a professora da UFRJ participou do Comitê Regional da América Latina da Bernoulli Society.
No ano passado, Maria Eulália foi eleita para o cargo de President-Elect da Bernoulli Society, posição que assumirá em julho deste ano. Desde 2004, a pesquisadora gaúcha é editora dos Ensaios Matemáticos, publicação da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM). Maria Eulália Vares foi eleita sócia honorária da entidade em julho de 2023 durante o 34º Colóquio Brasileiro de Matemática (CBM).
Na década de 1990, Maria Eulália passou pela experiência de ser membra associada da ABC, mas, agora, ela quer contribuir ainda mais com seus trabalhos para o fomento da área científica no país.
“Fico muito honrada com a eleição para membro titular desta importantíssima Academia. Anima-me, sobretudo, a possibilidade de ouvir e participar de debates na ABC, instituição que, juntamente com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), tem tido um papel de destaque na defesa e desenvolvimento da ciência no nosso País. Espero conjugar experiências com as que tenho tido nas sociedades científicas internacionais ligadas à minha área de pesquisa – a Bernoulli Society, especialmente – e nas quais tenho atuado mais fortemente, bem como com a SBM”, anseia a professora da UFRJ.
MEMBROS AFILIADOS
Criada em 2007, a categoria de membros afiliados da ABC tem como objetivo identificar e estimular jovens com grande potencial para a ciência. Ela inclui na organização pesquisadores promissores de até 40 anos das seis regiões definidas pela entidade. São elas: Norte, Nordeste e ES, RJ, MG e Centro-Oeste, SP e Sul.
Anualmente, são eleitos cinco jovens cientistas por região para mandatos de cinco anos, não renováveis. As eleições são conduzidas pelos vice-presidentes de cada região. A carioca Diana Sasaki e o mineiro Lucas da Silva Reis já tomaram posse em janeiro, mas serão diplomados em cerimônias associadas a simpósios de suas regiões.
Pelo cronograma da ABC, Lucas receberá seu diploma em um simpósio na região MG e Centro-Oeste na primeira quinzena do mês de setembro. Já Diana será diplomada em evento no RJ programado para os últimos 15 dias do mesmo mês.
DIANA SASAKI NOBREGA (UERJ)
Atualmente professora do Departamento de Matemática Aplicada do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Diana Sasaki Nobrega, pode-se assim dizer, sempre teve jeito para a arte de ensinar.
Desde o Ensino Fundamental, colocou na cabeça que queria “dar aulas”. E tinha que ser de Matemática! No Ensino Médio, então, foi incentivada pelas professoras de 1⁰, 2⁰ e 3⁰ Colegial a seguir sua intuição. Não tinha como dar errado. Já estava escrito: Diana foi aprovada para o Bacharelado em Matemática na UFRJ, onde completou a graduação de 2005 a 2008.
Em seguida, a carioca emendou o mestrado em Engenharia de Sistemas e Computação na COPPE-UFRJ com orientação da professora Celina Figueiredo, que já integrou a Comissão de Gênero e Diversidade da SBM junto da Sociedade de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC). Em 2010, Diana se tornou mestre e, ali mesmo na COPPE, deu os primeiros passos no seu doutorado na mesma área.
Entre 2011 e 2012, ela passou um período sanduíche no Laboratório G-SCOP de Grenoble, na França, antes de retornar ao Rio para finalizar seu doutorado na temporada seguinte. Para qualificar ainda mais sua formação, Diana fez dois pós-doutorados: na UFRJ e na Université Paris-Dauphine, na França.
Há oito anos, a matemática, grávida do filho Bernardo, foi agraciada com o prêmio Para Mulheres na Ciência, promoção da L’Oréal em parceria com a Unesco e a ABC, que reconhecem e promovem a participação da mulher na ciência e apoiam cientistas promissoras no Brasil.
Para Diana, a emoção de saber que se tornou membra afiliada da ABC foi similar à do prêmio de 2017. “Fiquei muito surpresa, muito contente. Na verdade, até chorei de emoção, fiquei um tempo sem acreditar, mas aos poucos fui percebendo que estou no caminho certo, como pesquisadora, como professora, como formadora de recursos humanos”, conta a professora da UERJ.
Até dezembro de 2029, ela tem real consciência dos seus objetivos e quem vai representar nesse ciclo dentro da Academia. “Esse título, para mim, é gratificante, é uma responsabilidade com a comunidade. Eu me sinto representante do Rio de Janeiro, representante das mulheres, novamente, assim como no Prêmio L’Oreal. Entendo que sou responsável por estimular meninas, mulheres e mães a desenvolver pesquisa, entrar na nossa área, serem professoras, serem pesquisadoras. O céu é o limite. Tento muito passar isso para os meus alunos, passar que eles podem fazer o que quiserem fazer. Se você sente amor por aquilo ou se você tem um desejo muito grande por aquilo que você quer, vá atrás porque vai conseguir”, aconselha a nova afiliada da ABC.
LUCAS DA SILVA REIS (UFMG)
Aos 29 anos, Lucas da Silva Reis é um dos mais jovens membros afiliados eleitos para compor o novo grupo da ABC. Natural de Belo Horizonte, ele nunca teve dúvidas do que gostava na época do colégio. Entre disciplinas das áreas de Humanas, Biológicas e Exatas, o mineiro já tinha suas preferências bem claras.
“A Matemática sempre foi uma paixão desde a época de escola, e é fascinante poder desenvolver minha pesquisa como profissão”, relembra Lucas. Anos mais tarde, o então adolescente foi aprovado em 2013 no vestibular da UFMG para a graduação em Matemática. O fascínio era tamanho pelo assunto que emendou o mestrado e o doutorado na mesma instituição de ensino.
De 2013 a 2018, o mineiro já era doutor em Matemática, mas incrementou ainda mais sua formação com dois pós-doutorados: o primeiro no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos; e o segundo na Universidade de Carleton, no Canadá.
Desde 2019, Lucas faz parte do quadro docente permanente do programa de Pós-Graduação em Matemática da UFMG. Sua área de pesquisa foca nas interações da Teoria de Corpos Finitos com tópicos afins como Teoria dos Números, Álgebra e Combinatória, incluindo os seguintes temas: aritmética de polinômios (polinômios irredutíveis e fatoração), sistemas dinâmicos finitos (grafos funcionais sobre estruturas algébricas finitas) e soma de caracteres sobre corpos finitos e aplicações.
Extremamente novo para a profissão de pesquisador e cientista, Lucas não acreditou ao receber a notícia de que havia sido eleito para o período 2025-2029 na ABC.
“Recebi a notícia da eleição com imensa alegria e confesso que fiquei um pouco surpreso. Trabalho em uma área de especialização da Matemática que ainda está em desenvolvimento no Brasil e, por isso, tem uma visibilidade limitada. De fato, a maior parte da minha rede de pesquisa está fora do país”, explicou o ainda incrédulo Lucas.
Recentemente, a UFMG vem sendo muito bem representada com membros afiliados e titulares na ABC, mas a área de Ciências Matemáticas ainda conta com um reconhecimento modesto. Por isso, Lucas crê que sua eleição pode trazer maior visibilidade aos matemáticos, tanto dentro da universidade quanto na região MG-Centro Oeste.
Ele celebra sua distinção na ABC e já tem em mente quais serão suas prioridades como parte do corpo majoritário.
“Vejo essa honraria como um reconhecimento de todo o meu trabalho e dedicação ao longo dos últimos seis anos, desde a obtenção do meu doutorado. Meu objetivo é aumentar a visibilidade da minha área de pesquisa (Corpos Finitos/Teoria dos Números) no Brasil, visando o desenvolvimento e a expansão desse campo de pesquisa no país. Além disso, quero trabalhar para promover a diversidade racial e sexual na ciência e na academia, especialmente na Matemática. Esses temas são relevantes para a minha vida e cotidiano, além de serem questões cruciais no cenário social e acadêmico atual”, concluiu o professor adjunto no Departamento de Matemática do Instituto de Ciências Exatas da UFMG.