Professores Adina Rocha dos Santos, Daniel de Oliveira Lima e Valter Borges Sampaio Júnior assumem mandato no grupo majoritário até fevereiro de 2027
Em março de 2025, a Comissão de Relações Étnico-Raciais (CRER), iniciativa da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), renovou seu corpo majoritário e apresentou novos integrantes para um mandato de dois anos. A composição agora conta com os professores Adina Rocha dos Santos, do Instituto Federal de Alagoas (IFAL), Daniel de Oliveira Lima, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e Valter Borges Sampaio Júnior, da Universidade Federal do Pará (UFPA).
A CRER tem como objetivo discutir e fomentar ações que promovam a diversidade étnico-racial e o aumento da representatividade de grupos sub-representados na comunidade acadêmica, em especial nas áreas de Ciências Matemáticas. Em seu regimento, o grupo prevê uma renovação de metade de seus membros normalmente.
Outra exigência é que a Comissão tenha, pelo menos, 50% dos membros formados por mulheres negras. No caso de Adina, a docente alagoana se junta às pesquisadoras Janice Pereira Lopes, da Universidade Federal de Goiás (UFG) e Marcela Duarte Ferreira, da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Por sua vez, Daniel e Valter completam a CRER junto do professor Flank Bezerra, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
ADINA ROCHA DOS SANTOS
Nova integrante do time feminino da CRER, Adina Rocha dos Santos é professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT) do IFAL, no Campus de Palmeira dos Índios, município no interior de Alagoas e a 140 km de Maceió. Com formação em Matemática, ela ministra aulas para turmas do Ensino Médio Integrado e também para o Ensino Superior.

Nascida na capital, completou a graduação e pós-graduação pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) na área de Matemática, com ênfase em Geometria Diferencial. Adina teve o gostinho de atuar como professora assistente da instituição alagoana durante o seu doutorado e foi colaboradora no Programa de Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (PROFMAT), coordenado pela SBM, de 2013 até 2025.
Sua atuação profissional transcende o ensino formal, englobando a participação em ações de relações étnico-raciais no Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) do IFAL desde 2018. Oriunda do primeiro Programa de Bolsas de Iniciação Científica Jr de Alagoas, Adina endossa iniciativas como Olimpíadas de Matemática e projetos de iniciação científica no Ensino Básico, visando promover a inclusão e a representatividade de grupos minoritários na Matemática.
O convite para integrar o corpo majoritário da CRER veio através de Nivaldo Grulha, professor da USP e que fez parte da Comissão no biênio 2023-2024. Ela admite que começou a acompanhar as ações do grupo em 2024 e foi o colega quem deu o primeiro ‘start’ do que poderia ser uma convocação futura à proposta da SBM. “Foi ele (Nivaldo) quem me apresentou as ações da CRER, em 2024, e passei a acompanhar, através do canal do Instagram, algumas publicações da Comissão. Confesso que me identifiquei bastante com os seus ideais, até porque já participava de ações do Neabi no IFAL”, confirma Adina.
Familiarizada com as causas e os objetivos da Comissão da SBM, Adina, então, foi contatada oficialmente em fevereiro para formar a nova composição da CRER. A alagoana reconhece a responsabilidade pela nova função que exercerá até fevereiro de 2027.
“Como mulher negra e matemática, sei que somos poucas em um ambiente bem estereotipado, ocupado por homens brancos. Muitas vezes, enfrentamos isolamento tanto social quanto profissional dentro das universidades e institutos de pesquisa. Por isso, poder estar em um espaço onde minha voz é ouvida, onde encontro outras mulheres matemáticas negras como eu e homens que apoiam nosso trabalho e celebram nossas conquistas, é profundamente gratificante”, defende a nova integrante.
Seu foco principal neste início de mandato será executar um projeto embrionário da SBM/CRER intitulado ‘Fontes Negras e Indígenas da Matemática’, idealizado na gestão anterior, que visa “criar um mapeado de matemáticos negros e indígenas que atuam no Brasil para apoiar instituições acadêmicas e científicas brasileiras na identificação de pesquisadores qualificados”.
VALTER BORGES SAMPAIO JÚNIOR
A Matemática fez Valter Borges Sampaio Júnior percorrer mais de 2.000 km da natural Cruz das Almas, no Recôncavo Baiano, até Belém, onde é professor da UFPA desde 2019. O baiano de 37 anos atua principalmente nos cursos de Licenciatura, Mestrado e Doutorado em Matemática e desenvolve pesquisas na área de Geometria Diferencial.
Bacharel em Ciências Exatas e Tecnológicas pela Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), em 2012, Valter seguiu sua pós-graduação no Centro-Oeste do Brasil. Em 2014, obteve título de mestre na Universidade de Brasília (UnB), completando, posteriormente, o doutorado na instituição quatro anos depois. Com uma bagagem acadêmica considerável, o matemático conseguiu ser aprovado em concurso na UFPA, onde viria a se estabelecer até os dias atuais.

Em Belém, ele também é membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Matemática e Estatística (PPGME), da UFPA, e do Programa de Doutorado em Matemática (PDM) em parceria com a Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Em suas atividades acadêmicas, Valter procura atuar com um olhar sensível às desigualdades socioculturais, buscando maior inclusão de pessoas pertencentes a grupos minoritários.
Foi neste contexto que conheceu a CRER por meio da professora Juliana Silva Canella, da UFPA. “Ela não fazia parte da Comissão, mas conhecia o pessoal. Então, ela me explicou um pouco sobre a CRER. Até aquele momento, eu já tinha ouvido falar, mas não sabia exatamente o que ela fazia. Então, conversei com a professora Manuela da Silva Souza e o professor Nivaldo Grulha, que faziam parte da CRER, e o professor Flank Bezerra, que é um membro atual da Comissão. Daí, topei entrar”, conta o baiano.
Para ele, a segregação racial, ainda presente na sociedade e de forma marcante na área científica, impulsiona as pessoas negras a buscarem transformação e conquistarem reconhecimento. “Esse tema me toca de diversas maneiras. Recentemente, me aconteceram situações que me estimularam a começar me envolver mais com a causa. No dia a dia, acabamos vendo estudantes passando por situações, tendo dúvidas, agindo de maneiras inapropriadas, talvez por falta de orientação. Por isso, a CRER surgiu como uma forma de me aproximar mais disso e poder atuar mais nessa linha de frente”, explica Valter.
Diante das discussões na Comissão, o professor da UFPA prioriza desenvolver projetos de extensão para debater tais temas delicados com estudantes. Em uma era dominada pelas redes sociais, Valter também se vê instigado a alcançar o público também em ações midiáticas, o que o deixa empolgado pelos desafios por vir.
“Eu me sinto diante de uma grande oportunidade de poder aprender mais sobre o tema com pessoas muito experientes e de poder contribuir com conhecimento de casos, discutir, fazer parte de propostas que visem amenizar, quem sabe um dia no futuro eliminar essas diferenças de tratamento com pessoas negras na Matemática. A demanda é altíssima, mas fico feliz em poder fazer parte disso, em poder levar para eles alguma contribuição”, encerra o novo membro da CRER.
DANIEL DE OLIVEIRA LIMA
Para Daniel de Oliveira Lima, a representatividade importa, mas não é suficiente para romper paradigmas. “É fundamental que pessoas negras ocupem espaços de destaque no campo da Matemática”, completa o professor da UERJ.
Natural do Rio de Janeiro, ele é graduado em Licenciatura Plena em Matemática pela UERJ e completou, posteriormente, o mestrado profissional em Matemática pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde também obteve o título de doutor em Ensino e História da Matemática e da Física pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino de Matemática (PEMAT/UFRJ).

Desde cedo, Daniel foi engajado na luta por maior igualdade racial dentro da área acadêmica e seu interesse se perpetuou para além do Ensino Superior. Hoje, suas áreas de pesquisa incluem Antirracismo, Insubordinação Criativa, Aprendizagem Criativa, Educação Matemática Crítica e Metodologias Ativas, sempre articulando saberes acadêmicos e populares para promover uma educação matemática inclusiva e socialmente engajada.
Na prática, o carioca aprofunda seus estudos em grupos no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ), na UERJ e UFRJ, além de projetos independentes, sempre promovendo práticas pedagógicas que combatam o racismo estrutural.
Por seu histórico militante na causa, Daniel foi convidado pela atual integrante da Comissão, a professora Marcela Duarte Ferreira, da UEM, e se sentiu acolhido para assumir o compromisso de forma oficial. “Foi uma sensação de muita alegria, seguida de muita responsabilidade. Correlacionar as relações étnico-raciais com a Matemática é um passo ousado, mas também necessário. Não tem como a Matemática se eximir desse debate, em especial no Brasil. Assim, representar a região Sudeste nesta comissão será um grande desafio”, afirma o docente de 40 anos.
A CRER pode exercer um papel estratégico ao promover um letramento racial no campo da Matemática, continua Daniel, “de forma a contribuir para que se compreenda mais profundamente quem é esse estudante negro, periférico, que sistematicamente apresenta os piores índices de aprendizagem ao final da Educação Básica”. A partir do raciocínio, o pesquisador enxerga que seu papel dentro do grupo pode ser muito mais do que proporcionar reflexões sobre o tema.
“Fazer reflexões sobre a representatividade negra apenas não é o suficiente. Ela deve ser articulada com o empoderamento que possibilite outras pessoas a seguirem na área. Meus focos estão no desenvolvimento da percepção do professor de Matemática sobre o seu papel na inclusão dos seus estudantes. Como meta inicial da CRER, considero importante a divulgação da própria Comissão para os sócios da SBM e outros professores que ensinam a disciplina”, defende.
A SBM demonstrou-se inovadora e pioneira ao criar uma comissão que empreende esforços em defesa da equidade e isonomia na distribuição de recursos e oportunidades no âmbito da Matemática. Daniel exalta o fato de a Sociedade ter percebido rapidamente a relevância das discussões sobre relações étnico-raciais para alterar o atual status quo. “A SBM está oportunizando que outros docentes de Matemática possam repensar suas práticas e de desenvolver um olhar mais sensível e atento às realidades e necessidades de seus alunos”, encerra o novo integrante da CRER.