Marcelo Viana, Diretor-geral do IMPA, e Maria Aparecida Soares Ruas, Diretora da SBM, foram agraciados com distinções no último dia de evento em prol da Matemática na América Latina
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A 2ª edição do Mathematical Waves Miami (MWM) chegou ao fim na última quarta-feira (29) com uma evolução ainda mais significativa em participantes e conexões entre cientistas e pesquisadores da América Latina e região do Caribe. O Brasil foi um dos protagonistas com a presença de Jaqueline Mesquita, Presidente da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), como uma das palestrantes do evento, assim como outros matemáticos conceituados de nosso país.
O evento foi organizado pelo Instituto de Ciências Matemáticas das Américas (IMSA, sigla em inglês) da Universidade de Miami e reuniu pesquisadores expoentes da matemática, entusiastas e acadêmicos para discutir o estado da arte da disciplina. Além de palestras e rodas de conversas compostas pelos maiores cientistas das Américas no Pavilhão Lakeside Village, a organização do MWM 2025 reservou espaço para a entrega de prêmios aos destaques da área nos últimos 12 meses.
Diretor-Geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), Marcelo Viana foi o vencedor na categoria ‘Matemático Estabelecido do IMSA’ e se sentiu muito honrado por ser o primeiro brasileiro a conquistar tal distinção. “É uma honra muito grande conquistar o prêmio pelo júri do IMSA, uma banca de altíssimo nível. É uma grande satisfação pessoal e isso traz um reconhecimento do nosso trabalho desenvolvido há bastante tempo”, declarou o matemático, referência em pesquisas sobre Sistemas Dinâmicos no continente americano.
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Diretora da atual gestão da SBM, a pesquisadora Maria Aparecida Soares Ruas também foi agraciada na celebração do IMSA na última quarta-feira. Cidinha, como é carinhosamente chamada na área, conquistou o prêmio na categoria ‘Liderança Matemática Latino-Americana’ e estendeu sua coleção de conquistas nacionais e mundiais em sua brilhante carreira.
Aos 76 anos, Cidinha é professora emérita do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP São Carlos e recentemente, foi eleita membra titular da Academia Mundial de Ciências (TWAS, sigla em inglês). Para Viana, as distinções brasileiras no MWM 2025 só evidenciam a relevância do país dentro do contexto científico no continente.
“Hoje, o Brasil ocupa uma posição muito significativa e importante no cenário na Matemática das Américas. Somos um dos países que integram o Grupo 5 da União Internacional de Matemática (IMU) e isso é um reflexo da Matemática construída no Brasil há mais de 70 anos. Nós assumimos um papel de liderança nas Américas, continuamos desempenhando essa função e é natural que sejamos muito bem representados aqui em Miami. Esperamos que a penetração do IMSA, com esse evento, seja ainda maior no continente para os próximos anos”, avalia o matemático, que presidiu a SBM de 2013 a 2015.
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O IMSA reservou as distinções da categoria ‘Jovens Matemáticos’ para dois talentosos pesquisadores da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM): Alfredo Nájera Chávez e Rita Jiménez Rolland. Ambos são docentes no Instituto de Ciências Matemáticas da instituição em Oaxaca e destacam os laços de colaboração entre os Estados Unidos e vários países da América Latina para maiores investimentos na área acadêmica.
A carreira acadêmica de Chávez se concentra em Álgebras de Cluster após um doutorado na conceituada Universidade de Berkeley e o prêmio do IMSA será muito bem guardado em sua prateleira no México. “É uma sensação maravilhosa ser um dos premiados pelo IMSA, que tem criado pontes de colaboração dos EUA e vários países da América Latina. Primeiramente, esse prêmio me dá muito orgulho, me traz muita felicidade, pois você se sente motivado para seguir trabalhando com pesquisa a um nível mais alto”, comentou o matemático.
Colega de Chávez em Oacaxa, Rita Jiménez Rolland é especialista na linha de pesquisa concentrada no Mapping Class Group, com aplicações em Topologia, Teoria e Geometria Algébricas. Para a mexicana, os prêmios são símbolos que vão motivar os cientistas e matemáticos a se empenharem para responsabilidades ainda maiores dentro do segmento.
“Penso que é um prêmio importante. É muito bom ter seu trabalho reconhecido e o de várias pessoas que trabalham comigo e com quem tenho sorte de trabalhar. Para mim, é muito significativo que meu trabalho esteja sendo reconhecido na comunidade matemática e espero que todos tenhamos a consciência de que nossos trabalhos podem inspirar mais matemáticos jovens no continente”, indicou a professora da UNAM.
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Presidente da Presidente da Academia Nacional de Ciências Exatas, Físicas e Naturais da Argentina, Alicia Dickenstein ficou maravilhada com todas as apresentações no MWM 2025 e espera que a divulgação da ciência continue sendo um ideal para os governos nas Américas.
“O MWM em Miami é muito importante, porque reúne vários matemáticos de diferentes países da América Latina e a divulgação do evento consegue atingir interessados em todo o mundo com as teorias e linhas de pesquisa mais modernas da Matemática. É muito interessante me encontrar com pesquisadores de linhas de pesquisa diferentes das minhas, debater temas ou pontos em comum, criar conexões, torna-se uma experiência enriquecedora que te faz sair daqui com um conhecimento ainda maior sobre as principais tendências da área”, declarou a professora da Universidade de Buenos Aires.
Ludmil Katzarkov, Diretor-executivo do IMSA, admitiu que o MWM 2025 correspondeu às expectativas e deu continuidade à impressão deixada no ano passado: a Matemática das Américas está cada vez mais em evidência no cenário internacional. Para o futuro, a Universidade de Miami espera consolidar mais parcerias e redes de colaboração com outras instituições e profissionais de excelência para elevar ainda mais a qualidade do evento.
“Temos percebido que o evento, em sua 2ª edição, atraiu mais pesquisadores de diferentes partes do mundo e um dos pontos mais fortes é que as linhas de pesquisa não apontam somente para uma área específica da Matemática, mas notamos trabalhos espetaculares sobre Inteligência Artificial, Geometria, Topologia, Aritmética e Matemática Aplicada. Estamos sendo bem-sucedidos em congregar esse encontro de vários pesquisadores das mais modernas linhas de estudo e pesquisa que tornam esse evento em Miami ainda mais relevante no cenário internacional”, observou o professor da Universidade de Miami.
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O pesquisador de pós-doutorado do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC) da Unicamp, Leonardo Cavenaghi, está desenvolvendo um estágio de pesquisa exatamente na Universidade de Miami com supervisão de Katzarkov. A experiência de trabalhar como matemático na instituição faz o brasileiro entender, de fato, a influência do IMSA para congregar as comunidades matemáticas da América Latina.
“O IMSA é imprescindível e surgiu exatamente para dar conta desse contingente demográfico. A matemática brasileira sempre foi de ótima qualidade, mas muitas vezes, por estarmos isolados geograficamente, a divulgação do nosso trabalho acaba sendo mais difícil. Então, o MWM tem uma importância fundamental pelo ponto de vista científico e acadêmico, mas por estimular essa troca de repertório ao longo da semana. Você vê a conferência acontecendo nas salas, mas as pesquisas continuam nos intervalos, nos corredores, com bastante gente trocando figurinhas com pesquisadores de outros países”, finalizou o pesquisador, que esteve presente nos três dias em Miami.
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