Nesta semana, a Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) dá continuidade à apresentação das novas integrantes da Comissão de Gênero e Diversidade, em parceria com a Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC). Como já explicado anteriormente, das oito membras do grupo majoritário, metade tomou posse em janeiro de 2024.
Hoje, vamos destacar a trajetória da paraense Ana Maria Luz Fassarella do Amaral, que se estabeleceu no Rio de Janeiro muito cedo para dar prosseguimento à carreira acadêmica, iniciada ainda no estado natal. Hoje, a matemática de 44 anos atua como Professora Associada na Universidade Federal Fluminense (UFF), onde atua desde 2010.
Gostinho por Matemática descoberto no Pará
Sua chegada ao Sudeste já completa 24 anos, porém obviamente o apego pelas Ciências Matemáticas foi atiçado ainda na infância, em território paraense. Ana Maria nasceu em 25 de maio de 1980, na capital Belém, e se acostumou a conviver com pessoas próximas de seu entorno segurando giz e à frente nas salas de aula. “Por ter vários professores na família, pensava que seria professora de alguma coisa”, recorda.
Da alfabetização ao 3⁰ Ano do Ensino Médio (EM), Ana estudou na Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará (UFPA), na qual curiosamente completaria sua graduação anos mais tarde.
Na época, o interesse da promissora aluna em Matemática chamou a atenção das professoras. “Em geral, as outras crianças não gostavam”, brinca Ana Maria. No 5⁰ Ano do Ensino Fundamental, uma greve interrompeu a grade escolar por cerca de três meses, no entanto ela se virou muito bem em casa.
“A professora de Matemática me emprestou livros para fazer exercícios durante a greve. Neste ano, ganhei uma olimpíada interna na escola. Eram umas nove turmas e eu ganhei a medalha de melhor nota. Depois segui gostando de Matemática e das outras matérias também, mas minha predileção era por Matemática e Ciências”, conta.
Naquele período, as aulas de Computação também fascinavam a estudante, que teve a oportunidade de aprender, durante o Fundamental, a linguagem Logo, utilizada com grande sucesso como ferramenta de apoio ao ensino regular e por aprendizes em programação de computadores. No Ensino Médio, aprendeu a linguagem Pascal. Com tamanho arsenal e vindo de escola pública, Ana já tinha o dom para se dar bem nas áreas de Ciências Exatas. Por qual optar? Gostava de Matemática, mas também pensou em Química. Até Biologia entrou na briga em certo momento.
Carreira em Matemática
Foi por influência do irmão que ela se decidiu. Quer dizer, ela tinha quase certeza do que queria.
“Meu irmão mais velho fez Engenharia e, depois, mudou-se para Licenciatura em Matemática. Então, no último ano do Ensino Médio, eu sabia melhor o que ele estudava na faculdade e decidi cursar Licenciatura em Matemática também. Mas não sabia a diferença entre Licenciatura e Bacharelado na época”, revela.
“De fato, só na faculdade descobri que a Matemática era uma Ciência em construção, que ainda se provavam coisas novas e me encantei por isso”, completa Ana, que foi aprovada no curso de Licenciatura Plena em Matemática pela UFPA em 1997.
Em grande parte do período de graduação na Federal do Pará, ela também completou um curso técnico em Processamento de Dados no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA), aproveitando, em grande parte, sua bagagem nas linguagens Logo e Pascal.
Mas foi na UFPA que começou sua vocação para a área matemática. “Tive bolsa de Iniciação Científica na graduação, estudei Equações Diferenciais Ordinárias e Parciais. As aplicações me fascinavam”, conta.
Destino: Rio de Janeiro
Na virada para o século XXI, Ana cruzou o Brasil e se instalou no Rio de Janeiro para cursar o Mestrado no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), completo em 2004. Na sequência, a instituição carioca foi palco também de seu Doutorado em Matemática e de boas recordações no período.
“No IMPA, tive contato com pesquisadores que atuavam na área de Matemática Aplicada a Biologia. Juntei as duas paixões na minha dissertação de Mestrado. No Doutorado, conheci o mundo da dinâmica dos Fluidos ao cursar esta disciplina com o professor André Nachbin e segui encantada com as aplicações de Matemática cada vez mais avançadas”, narra a paraense.
Sua atuação na UFF como Professora se iniciou em 2010. Desde então, tornou-se uma das profissionais mais ativas e engajadas da universidade. Ana Maria é colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Matemática, ocupou o cargo de Vice-Coordenadora do projeto Mulheres na Matemática de 2017 a 2022 e toma conta atualmente do projeto de extensão “Matema.Ativa: Matemática Ativa e Criativa”, em que promove oficinas da disciplina para meninas no bairro de Jurujuba, em Niterói.
De 2014 a 2016, aumentou seu arsenal acadêmico com um Pós-Doutorado com pesquisa em Problemas de estabilidade Vlasov-Poisson-HMF na Universidade de Rennes, na França.
Objetivos na Comissão
De tantas atribuições, surgiu naturalmente o convite para integrar a Comissão de Gênero e Diversidade vindo da Professora Denise Campos, com quem atua no Comitê Temático Mulheres na Matemática Aplicada e Computacional da SBMAC. Entretanto, aceitar a responsabilidade não foi uma tarefa tão simples assim.
“Fiquei feliz com o convite, mas também demorei um pouco para aceitar. Na UFF, já estou envolvida em vários projetos e, como matemática e mãe de três filhos, tenho que conciliar muitas demandas, o que me deixou receosa inicialmente de assumir mais uma. Após refletir bastante, foi exatamente uma das minhas motivações poder ajudar outras matemáticas nesta tarefa de gerenciar a maternidade e a profissão”, explica.
Em seu início de mandato como integrante da Comissão, a Professora da UFF reforça o compromisso de trabalhar em mais ações para potencializar a presença feminina em cargos e eventos de destaque na área. Só que Ana admite que uma de suas prioridades é incentivar políticas de apoio para mães e matemáticas e estimular sua continuidade na carreira acadêmica.
“Confesso que aceitei o convite pensando em como eu poderia ajudar na discussão de políticas de apoio para auxiliar as pesquisadoras mães. Vários estudos no mundo e no Brasil apontam que a maternidade é um fator que pode determinar a desistência da carreira científica por parte de várias pesquisadoras. Sou mãe de três crianças e sei na pele como é gerenciar a maternidade e a profissão de matemática”, crê Ana Maria. Além de Ana Cristina, assumiram lugar na Comissão de Gênero e Diversidade da SBM e da SBMAC em janeiro as seguintes matemáticas: Asla Medeiros e Sá, da Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV EMAp), Ana Cristina Vieira, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e a estatística Vanessa Bielefeldt Leotti, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). No segundo ano de mandato, completam a Comissão: Sylvia Ferreira, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Luciana Aparecida Elias, da Universidade Federal de Jataí (UFJ), Flávia Morgana de Oliveira Jacinto, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), e Maria Joseane Felipe Guedes Macêdo, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA).As 8 integrantes da Comissão de Gênero e Diversidade SBM/SBMAC