Professora da UFMG entrou em janeiro com a missão de estimular mais alunas a seguirem carreira na área de Matemática
Em janeiro de 2024, quatro novas integrantes tomaram posse da Comissão de Gênero e Diversidade da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) e da Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC). Uma delas foi a carioca Ana Cristina Vieira, Professora Titular do Departamento de Matemática da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Nascida no Rio de Janeiro, a matemática desenvolveu a maior parte de sua carreira em Belo Horizonte. Em 1997, ingressou como docente no Departamento de Matemática da UFMG e já atuou em várias atividades importantes de gestão. Ela foi responsável pela coordenação do Programa de Pós-Graduação em Matemática, de 2009 a 2011, e pela Chefia do Departamento, de 2018 a 2020.
Sonho de dar aula
Pode-se dizer que, aos 57 anos, a professora despontou na carreira que sonhou ‘de brincadeirinha’, ainda na infância, quando ‘fingia’ que sua irmã e outras amiguinhas eram suas alunas. Afinal, a jovem Ana Cristina se considerava muito tímida para saber o que queria exatamente para sua vida quando ainda estava no Ensino Fundamental.
O irmão, talvez, tenha sido quem mais chegou perto de lhe influenciar positivamente para a área de Matemática, mesmo que sua formação fosse completamente diferente.
“Gostava de brincar de ser professora, mas ainda não sabia que escolheria Matemática. Não tive influência direta de familiares, mas meu irmão era um ano mais adiantado do que eu na escola e sempre foi muito bom em Matemática. Se teve alguém que me influenciou, este alguém foi ele, talvez por desafio e também admiração. Detalhe: ele nem foi atuar em Ciências Exatas, foi para a área de saúde”, conta a carioca.
Rigidez da ditadura
Sua adolescência na capital fluminense coincidia com o período da ditadura militar no Brasil. Os comportamentos da sociedade e a forma de educar no colégio traziam à tona toda aquela rigidez, que a marcou na época.
Ana cursou o Ensino Médio no Colégio Pedro II, em São Cristóvão, na zona central do Rio, e foi em meio àquela fase de instabilidade do Brasil que ocorreu sua escolha mais acertada: embarcar na carreira acadêmica como docente em Matemática.
“Naquela época, o Colégio Pedro II tinha um ensino tradicional, não focado em tecnologias ou direcionado para escolha de profissões. Eu ainda continuava com o objetivo de ser professora, mas tinha dúvidas se escolheria Letras ou Matemática. Até que comecei a me destacar entre os estudantes do 2⁰ Ano nas provas e nas aulas de Matemática, me tornando mais competitiva e animada para seguir em frente”, recorda Ana.
Carreira acadêmica
No mesmo ano em que o Brasil comemorava o fim do regime ditatorial, Ana foi aprovada em Matemática pela Universidade Federal Fluminense (UFF), onde completou sua graduação em 1988. Na sequência, ela embarcou para Brasília, onde fez Mestrado e Doutorado em Matemática na Universidade de Brasília (UnB), concluindo o período em 1997.
De 2013 a 2014, Ana fez seu Pós-Doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), porém já contava com raízes criadas em Belo Horizonte, como Professora Titular na UFMG.
Atualmente, Ana Cristina Vieira é uma das maiores referências no Brasil na área de Álgebra. Ela atua principalmente nos seguintes temas: Álgebras com Identidades Polinomiais, Teoria de Representações e Caracteres de Grupos e Álgebras de Grupos.
A Comissão de Gênero e Diversidade
A honra de fazer parte da Comissão de Diversidade e Gênero da SBM/SBMAC surgiu através da colega da UFMG, Sonia Pinto de Carvalho, que foi integrante de comissões anteriores.
“Sempre acompanhei as iniciativas e atividades da Sonia. O convite para fazer parte da Comissão veio através dela. Acho que é uma grande responsabilidade tentar modificar o cenário em que vivemos com tantas diferenças desnecessárias no que diz respeito a gênero e buscar aumentar a diversidade existente na Academia. Minha vontade é fazer isso dar certo e vamos trabalhar juntas para isso”, confia.
Para o atual mandato, ela tem o sonho de inspirar mais meninas a seguirem a aspiração acadêmica em Matemática.
“Eu tive a felicidade de formar oito doutoras em Matemática dentre 11 orientandos até hoje e considero uma grande conquista. Tenho tentado motivar essas jovens doutoras a dar continuidade aos excelentes trabalhos que fizeram, mas sabemos que há obstáculos difíceis de serem transpostos quando se é mulher. Posso dizer que um dos objetivos principais é criarmos mecanismos para incentivar as jovens matemáticas a avançarem em seus trabalhos de ensino, pesquisa e extensão. Tudo para tornar o ambiente acadêmico mais equilibrado ao alcançarem posições de destaque e liderança”, projeta Ana.
As 8 integrantes da Comissão de Gênero e Diversidade SBM/SBMAC
Além de Ana Cristina, assumiram lugar na Comissão de Gênero e Diversidade da SBM e da SBMAC em janeiro as seguintes matemáticas: Asla Medeiros e Sá, da Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV EMAp), Ana Maria Luz Fassarella do Amaral, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e a estatística Vanessa Bielefeldt Leotti, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
No segundo ano de mandato, completam a Comissão: Sylvia Ferreira, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Luciana Aparecida Elias, da Universidade Federal de Jataí (UFJ), Flávia Morgana de Oliveira Jacinto, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), e Maria Joseane Felipe Guedes Macêdo, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA).