Elas na Matemática: conheça as três vencedoras da 1ª edição do prêmio da SBM 

Premiação é destaque no 1⁰ Workshop de Mulheres na Matemática na UEM e destaca trabalho de três pesquisadoras em Matemática de notável importância no território brasileiro 

‘Elas na Matemática’ reconhece os grande trabalhos realizados pelas vencedoras | Foto: Solange Marcon/SBM

Nesta semana, a Universidade Estadual de Maringá (UEM) está sendo palco do 1º Workshop da SBM de Mulheres na Matemática, organizado pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM). Entre as várias atividades do evento, foi realizada, nesta quarta-feira (2), a entrega do prêmio “Elas na Matemática” que reconhece e valoriza o trabalho de cientistas e pesquisadoras na área de Ciências Exatas. 

O prêmio da SBM, em parceria com o Instituto de Matemática Aplicada (IMPA) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), é o reconhecimento da excelência da participação da mulher na solução dos desafios da pesquisa no âmbito científico. O objetivo da iniciativa é promover ações voltadas para a capacitação das mulheres cientistas e o aprimoramento da educação matemática para  aumentar a representatividade no ramo.

Nesta 1ª edição, três categorias homenageiam cientistas de influência no Brasil e com carreiras reconhecidas também no exterior durante o I Workshop da SBM de Mulheres na Matemática, em Maringá.

As categorias e as premiadas são: 

Cientista Destaque de Matemática do Brasil

Destinado às pesquisadoras com carreira mais consolidada, que tenham atuado como lideranças no país, trazendo contribuições relevantes para a pesquisa matemática brasileira e do exterior.

MARIA JOSÉ PACÍFICO – UFRJ

Professora Maria José Pacífico é referência em Sistemas Dinâmicos | Foto: Solange Marcon/SBM

Paulista de Guariba, a 60 km de Ribeirão Preto, Maria José Pacífico procurou adquirir conhecimento ao máximo durante o antigo ‘Primário’ em um dos únicos colégios de sua cidade natal. Logo cedo, juntou-se a colegas em um grupo de estudos e tratou de mergulhar nos livros. Interessou-se por Matemática e Língua Portuguesa, disciplinas de fácil entendimento e de uma maneira mais divertida, em detrimento de decorar os conhecimentos engessados de História e Geografia. 

Com isso, não foi muito complicado antever que ela escolheria ir por esse caminho das Ciências Exatas. Entrou na graduação em 1970 para o curso de Licenciatura em Matemática na Faculdade de Ciências e Letras (atual Unesp de Rio Claro), na qual se formou em 1973. Nos sete anos seguintes, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde concluiu Mestrado e Doutorado em Matemática no IMPA em 1980.

Iniciou seus estudos em Sistemas Dinâmicos no fim da década anterior e, até hoje, seus trabalhos na área têm sido publicados em periódicos de grande prestígio e evidenciam a relevância e o impacto de suas contribuições para a Matemática. Após frequentar o IMPA por muitos anos, Maria José se tornou professora no Instituto de Matemática da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IM- UFRJ) em 1982, onde exerce a função até hoje.

Além disso, foi a Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Matemática do IM-UFRJ por quatro mandatos – o último expirou em julho de 2024. Organizou várias reuniões científicas na área, promovendo a vinda de muitos professores visitantes à UFRJ, colaborando deste modo para o fomento do intercâmbio científico entre a Universidade e outras instituições e para a solidificação do Instituto de Matemática como um centro ativo de pesquisa em Sistemas Dinâmicos. É membra titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) desde 2005, e membra da Academia Mundial de Ciências (TWAS, sigla em inglês) desde 2007.

Extremamente ativa como pesquisadora, a professora Maria José é reconhecida nacional e internacionalmente como uma das principais referências na área, exercendo forte influência no desenvolvimento desse campo ao longo de décadas. 

Jovem Cientista Destaque de Matemática do Brasil

Destinado às pesquisadoras em início e meio de carreira, que tenham até 45 anos de idade no ano em que concorrem ao prêmio e que tenham contribuído de forma significativa com a pesquisa matemática brasileira, na formação de recursos humanos e que sejam promissoras como futuras lideranças na área de matemática no país.

MARIA SOLEDAD ARONNA – FGV EMAp

Argentina Maria Soledad Aronna é radicada no Brasil desde a última década e hoje compõe a Diretoria da SBMAC | Foto: Solange Marcon/SBM

Maria Soledad Aronna e sua família são naturais de Rosário, na Argentina. Seu histórico escolar sempre foi promissor, muito pela tradição do colégio que frequentava na área de Matemática. Com 12 anos, lá estava ela participando de olimpíadas, em que ganhou prêmios e tomou ainda mais gosto pelas Ciências Exatas. Sempre estava acostumada a resolver problemas em um curto espaço de tempo e impressionava seus colegas de sala com a rapidez para encontrar soluções para problemas. 

No Ensino Médio, frequentou uma escola técnica e participou ativamente de olimpíadas internacionais. Em 2002, ela ingressou no curso de Bacharelado em Matemática na Universidade Nacional de Rosário. Mesmo não desejando sair de seu país, os convites para instituições na Europa a atraíram. Foi para ficar três meses na célebre Escola Politécnica de Paris fazendo estágio de pesquisa, porém a experiência na França lhe rendeu o Doutorado em Matemática Aplicada, em 2011. 

Após passar por um período de novas turnês acadêmicas na Itália e na Inglaterra, a pesquisadora argentina veio a se estabelecer no Brasil. Em 2014, Soledad Aronna conseguiu seu Pós-Doutorado no IMPA e, quatro anos depois, recebeu a bolsa Capes/Humboldt para pesquisadores experientes. A vinda para a Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV EMAp) ocorreu em 2015 e, quatro anos depois, foi nomeada Coordenadora de Graduação em Matemática Aplicada, posição que ocupou até 2023. 

Desde quando participava de olimpíadas de Matemática na Argentina, ela se acostumou a ser uma das únicas meninas em meio a tantos colegas do sexo masculino. Quando cresceu, a realidade mudou um pouco no Velho Continente, porém, desde que criou suas raízes por aqui, Soledad Aronna sentiu o choque de realidade na área científica. A desigualdade de gênero gritante a fez ser impositiva e, em diversos momentos, agressiva de maneira a ser ouvida em reuniões majoritariamente formadas por homens. 

Hoje, tem experiência em Controle Ótimo e em Biologia Matemática, com ênfase na Modelagem e Análise de problemas ligados a doenças de transmissão vetorial presentes no Brasil. Soledad Aronna faz parte da Diretoria da Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC) como 1ª Secretária e é se mantém ativa em questões de gênero nas Ciências Exatas. 

Em fevereiro, ela foi agraciada no prêmio “Jovem Cientista Mulher”, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), e se tornou uma das únicas da área de Ciências Matemáticas a receber a honraria em um total de 70 cientistas de Instituições de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro. 

Também foi uma das idealizadoras do projeto Cátedra Marília Chaves Peixoto, da FGV EMAp, exatamente com o propósito de elevar a representatividade de cientistas do sexo feminino a partir de bolsas oferecidas de Pós-Doutorado nas áreas de Matemática Aplicada, Estatística ou Ciência de Dados. Sua contribuição para a formação de recursos humanos é significativa, posicionando-a como uma futura liderança de destaque na área de matemática no país.

Faz a diferença na Matemática

Destinado às mulheres que tenham contribuído significativamente para a inserção feminina no ambiente acadêmico na área de Matemática, promovendo a capacitação de mais mulheres cientistas, coordenando iniciativas que encorajem meninas a ingressarem na área.

JULIANA THEODORO LIMA – UFAL

Juliana Theodoro Lima é vice-diretora do Instituto de Matemática da UFAL e lidera vários projetos voltados para a igualdade de gênero na área | Foto: Solange Marcon/SBM

Nascida em Jaboticabal, no interior de São Paulo, Juliana foi estimulada ao estudo desde a infância. Sua mãe era professora e a presenteava com livros em geral. Aprendeu a ler por conta própria e, aos 5 anos de idade, já estava no antigo ‘Pré’ (1º ano do Ensino Fundamental na atualidade). Tinha seus momentos de lazer com as outras crianças da idade, mas adorava mesmo ficar no seu quarto para o que mais gostava de fazer: ler. A fascinação pela Matemática veio naturalmente, já que Juliana era apegada a fórmulas e números.

Com 16 anos, passou no vestibular e entrou na Unesp, em São José do Rio Preto, para o curso de Bacharelado em Matemática. Após quatro anos no Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce), ela completou o Mestrado e Doutorado em Matemática no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), da USP, em São Carlos. Seu Doutorado, é bom dizer, contou com um período sanduíche em Vancouver, no Canadá. Possui três Pós-Doutorados, um no ICMC e os outros dois também no Canadá, em Montreal e em Winnipeg. Tem experiência na área de Matemática, com ênfase em Topologia Algébrica. Suas pesquisas são relacionadas à Teoria de Tranças e Enlaçamentos de Intervalos em Superfícies, Apresentações e Representações de Grupos de Tranças e Enlaçamentos de Intervalos em Superfícies, Ordenação de Tranças e Enlaçamentos de Intervalos em Superfícies. 

Em novembro, completará oito anos na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), onde é vice-diretora do Instituto de Matemática desde 2017. Desde o início de sua vida acadêmica, Juliana é engajada a favor da igualdade de gênero e a maior participação feminina na área científica. Hoje, a matemática desenvolve, entre tantos projetos voltados para isonomia, uma iniciativa intitulada “Ciências por Trás das Grades” com o objetivo de incentivar a educação e o empoderamento de mulheres privadas de liberdade em um presídio de Maceió. Também conduz projetos de grande impacto que promovem a inclusão do público feminino na área de STEM, com destaque especial para estudantes que também são mães. Sua atuação, acima de tudo, pauta-se pela contribuição significativa à diversidade e à equidade na ciência e educação.

Como parte do prêmio, Maria José, Soledad e Juliana vão receber, cada uma, o valor de R$ 10.000,00, além de diploma e uma placa comemorativa. 

Por fim, a professora da FGV EMAp foi convidada a ministrar uma palestra na sessão vespertina da quinta-feira (3) sobre Otimização de Sistemas Dinâmicos sob Incerteza. 

Confira a programação do Workshop de Mulheres na Matemática!