Valéria Neves Domingos Cavalcanti: conheça mais uma integrante da Diretoria da SBM

Carioca de 58 anos se estabeleceu em Maringá, onde é Professora Titular do Departamento de Matemática da UEM, e está à frente de um projeto fundamental para jovens pesquisadoras em todo Brasil

Dando sequência à série dos novos membros da Diretoria da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), no mandato da Presidente Jaqueline Mesquita, hoje apresentamos a carioca Valéria Neves Domingos Cavalcanti. Ela faz parte do grupo majoritário da entidade até julho de 2025. 

Prestes a completar 59 anos, Valéria nasceu em uma sexta-feira de Carnaval, em 19 de fevereiro de 1965. E falando em um dos maiores espetáculos festivos da Terra, ela foi criada na Vila da Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro.

“Minha mãe diz que o pessoal estava no bonde brincando e ela tendo as dores do parto. E eu lá, nascendo às 16h”, conta.

Origem

Valéria é filha de portugueses, que vieram para o Brasil no período pós 2ª Guerra Mundial. A insegurança e a destruição provenientes do conflito bélico no Velho Continente fizeram os imigrantes tentarem a sorte do outro lado do Atlântico.

Por isso, desde pequena, Valéria sempre se apegou ao bom português. Independentemente da profissão que a esperava nos anos seguintes, o objetivo era ser impecável na língua nativa. O pai, comerciante, e a mãe, dona de casa, só haviam completado o ensino primário, mas prezavam pela escolaridade das filhas – ela e a irmã Maria Isabel.

Com três anos, lá estava Valéria nas casas das ‘donas Silvia e Maria’, professoras aposentadas, para ser alfabetizada antes mesmo de entrar na escola. “Foi muito bom. Quando entrei na escola, já sabia ler, escrever, fazer continhas”, recorda.

Gosto pela Matemática

No colégio, a carioca foi uma estudante dedicada.  Super aplicada, Valéria sempre estudou para ser a primeira de sua sala. E, na maioria das vezes, obteve êxito. Só que a Matemática era apenas uma das áreas que a encantava. Ora, sendo assim, qual caminho escolher?

“A Matemática foi uma das disciplinas que me chamou a atenção. Gostava também de História, sempre gostei de Português, de estudar Literatura brasileira e portuguesa. Então, quando fui prestar vestibular, pensei: o que eu faço? Matemática ou Letras? Mas aí meu coração pendeu pela Matemática”, explica.

Em 1983, a carioca foi aprovada no curso de Bacharelado em Matemática pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde concluiu a graduação três anos mais tarde. O Mestrado também começou em 1986 no Instituto de Matemática da instituição, onde também levaria três anos para o processo.

Em 1989, quando o Brasil comemorava as primeiras Eleições Presidenciais após a redemocratização, Valéria prestou um concurso em Maringá, cidade que ainda desconhecia. Só que a opção se mostrou a melhor possível, pois foi no norte do Paraná que a matemática fixou suas raízes há mais de 30 anos.

“Quando concluí o Mestrado, fiquei sabendo desse concurso em Maringá. Foi um ex-aluno do meu orientador que indicou. Em 1989, quando o (Fernando) Collor venceu a eleição, era uma época de muita instabilidade, não aparecia concurso público e então surgiu esse concurso no estado do Paraná. Eu nem conhecia Maringá, para você ter uma ideia. Mas acabou dando certo, passei e vim para cá”, continua.

Como uma amante das Ciências Exatas, Valéria não se engana nem com datas. Em 20 de fevereiro de 1989, um dia após seu aniversário, a carioca estava na sala de aula da Universidade Estadual de Maringá (UEM) em sua primeira experiência como professora. E não se esquece da sensação única naquele dia.

“Vou dizer, essa experiência foi tão importante que entendi que havia nascido para ser professora. Quando eu passei em Matemática, não pensava em ser professora. Não sabia o que viria a ser, na verdade, eu queria estudar. Mas essa sensação, olha… Eu amo ser professora de Matemática, foi a escolha perfeita. Estava tudo certo e eu não sabia”, avalia Valéria.

Na sequência, em 1991, a docente da UEM retornou ao Rio de Janeiro para fazer seu Doutorado em Matemática, novamente na UFRJ. Com a conclusão do processo, em 1995, Valéria se mudou em definitivo para Maringá, onde reside até hoje. No Sul do Brasil, ela já contribuiu bastante com a maior divulgação da Ciência ao presidir a Sociedade Paranaense de Matemática (SPM) por dois mandatos.

Hoje, na UEM, Valéria é Professora Titular do Departamento de Matemática com experiência na área de Análise, com ênfase em Equações Diferenciais Parciais, tema pelo qual se apaixonou ao ser orientada pelo Professor Manuel Antolino Milla Miranda. Para quem estava em dúvida do que fazer no Ensino Médio e até cogitava ir para a área de Humanas, ela se diz extremamente feliz pelo caminho traçado.

“Eu sou matemática pura. Gosto da abstração. Eu acho a Matemática muito linda, é esplêndida. Ela é perfeita. Ela te diz a verdade, não existe a subjetividade. Você conseguiu ou não conseguiu. É certo ou errado. Por isso que ela me fascina”, opina.

Objetivos na Diretoria

Designada a compor a Diretoria da SBM, a carioca reconhece que recebeu o convite da amiga Jaqueline de forma inesperada, e sua admiração pela atual Presidente da Sociedade a fez embarcar nessa empreitada.

“Confesso que recebi o convite da Jaqueline com muita surpresa, pois minha atuação sempre foi mais local. Mas então ela veio e me falou: ‘Não, você vai contribuir sim e você vai gostar’. E é impossível falar não para ela, né? Eu aceitei”, brinca. “Tudo que ela me pede, tento sempre estar disponível. Quando ela me pede uma coisa, é praticamente uma ordem”, brinca.

Dentre tantos objetivos até julho de 2025, Valéria trabalha para a criação do Doutorado para o PROFMAT, mas seu principal foco é o desenvolvimento do Programa de Mentorias para Mulheres, uma parceria da SBM com a Sociedade Brasileira de Física (SBF). A iniciativa, 100% on-line, foi idealizada por Jaqueline junto a Márcia Barbosa, hoje Secretária de Políticas e Programas Estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). 

O objetivo do programa é fornecer treinamento e orientação para jovens mulheres que estão no começo de suas carreiras em Ciências Exatas e têm que lidar com vários desafios da carreira acadêmica. Este programa visa ainda estimular que as mulheres continuem seus estudos, diminuindo a evasão e permitindo sua permanência nos cursos. 

“A gente percebe que a evasão nos cursos de graduação em Ciências Exatas é muito grande entre jovens mulheres. Inclusive, quanto mais você sobe na carreira, mais essa disparidade ocorre entre o número de mulheres e homens. Então, essa iniciativa visa elevar a representatividade feminina em cursos de graduação e pós-graduação”, complementa Valéria. 

Com o convite do governo Lula a Márcia Barbosa em 2023, o Programa ficou somente com Jaqueline na função. Por isso, Valéria não teve dúvidas em assumir a responsabilidade em um projeto que ‘é a sua cara’, como a própria pesquisadora reconhece. 

“Eu gosto de pessoas. Essa é a minha vida, de lidar com estudantes, em especial, com as alunas. A gente tem essa sensibilidade, porque você se identifica mais. Você observa que as pessoas precisam ser ouvidas. Elas só precisam de um espaço para falar e serem ouvidas. Então, a gente proporciona esse espaço de troca, pois alcançamos alunas das mais diferentes regiões do Brasil e tem sido maravilhoso. E eu me identifiquei muito com esse programa,  é uma alegria na minha vida”, finaliza. 

Valéria compõe o grupo de quatro Diretores da gestão de Jaqueline na SBM. Os outros três são o ex-Presidente Paolo Piccione, da Universidade de São Paulo (USP), a professora Maria Aparecida Soares Ruas, também da USP, e Roberto Imbuzeiro Oliveira, pesquisador do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA). 

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