O professor da UnB foi homenageado por suas contribuições à matemática no Prêmio FAPDF de Ciência, Tecnologia e Inovação
Ser reconhecido por avanços acadêmicos em matemática é um desafio que raramente segue um percurso linear. Pesquisadores da área frequentemente dedicam anos a resolver problemas complexos, enfrentando uma série de equações e questões interligadas, até finalmente chegar à solução do problema original. Por isso, quando Diego Marques, professor da Universidade de Brasília (UnB) e membro da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), recebeu o prêmio de Pesquisador Destaque da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), sentiu-se honrado. “Ser reconhecido com o 1º lugar, trabalhando em uma área tão abstrata como a Matemática, me deixou muito feliz”, celebra.
Na sua terceira edição, o Prêmio FAPDF de Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI) reconheceu profissionais que se destacaram pela criação de projetos e pesquisas com grande potencial para o avanço científico. Com uma trajetória acadêmica de 15 anos e quase 100 artigos publicados, Diego Marques vê a premiação como uma oportunidade valiosa para trocar experiências com pesquisadores de excelência e alcançar novos patamares. “Avançar em Matemática exige, muitas vezes — quase sempre —, uma imersão profunda no problema ou teoria, o que demanda não apenas condições favoráveis e tranquilidade, mas também um intenso intercâmbio de ideias”, ressalta o professor.
Para Diego, a SBM exerce um papel essencial na democratização dos estudos matemáticos, promovendo o envolvimento da comunidade desde os primeiros anos escolares, como ocorre com a Olimpíada Brasileira de Matemática. “A SBM também mantém uma livraria com obras de matemáticos renomados, ampliando o acesso à literatura matemática de alto nível. Um exemplo que me enche de orgulho é o meu livro sobre Teoria dos Números Transcendentes. Sua atuação fortalece o cenário acadêmico e inspira novas gerações!”, destaca Diego.
Teoria dos números transcendentes
Especialista em Teoria dos Números Transcendentes, o professor explica que seu trabalho envolve o estudo aprofundado das propriedades de determinados números e funções. “Essa área da matemática é extremamente desafiadora, pois os métodos disponíveis são escassos, específicos e de altíssima complexidade”, ressalta. Ele enfatiza que, nesse campo, não há espaço para inovações com equipamentos ou laboratórios; o que realmente faz a diferença é a abordagem simples e clássica: “papel, caneta e criatividade — embora um bom café também ajude”, brinca.
Por isso, seu trabalho vai além da premiação e das fronteiras da UnB, alcançando estudantes em todo o Brasil. “Recebo centenas de e-mails de estudantes de diversos estados, interessados nos números transcendentes. Muitos estão desenvolvendo trabalhos de conclusão de curso na área, admiram minhas pesquisas, pedem dicas ou explicações sobre tópicos do meu livro”, relata o professor.
Assim como seus artigos e livros, a trajetória de Diego Marques também foi marcada por muitas viagens graças à matemática. Natural de Fortaleza, no Ceará, o professor encontrou na região um forte cenário acadêmico, graduando-se e concluindo o mestrado em Matemática pela Universidade Federal do Ceará (UFC). “Na escola, em Fortaleza, um professor de matemática organizava competições entre alunos de diferentes turmas, e foi ali que percebi ter certa facilidade com os números”, recorda Diego.
Em 2009, Diego mudou-se para Brasília para cursar o Doutorado em Matemática na UnB, e, mais tarde, expandiu ainda mais seus horizontes com um Pós-Doutorado na University of British Columbia, em Vancouver, Canadá. Atualmente, o professor segue focado em suas pesquisas e nos cálculos diários que podem levá-lo a solucionar grandes questões matemáticas. “Tenho o sonho de resolver um problema proposto pelo matemático Leonhard Euler no século XVIII: provar que o logaritmo natural de π é um número irracional. Por isso, meu objetivo é continuar fazendo o que amo e me divertindo cada vez mais com a Matemática, para sempre”, revela.
Diante disso, é importante dizer que Diego Marques foge completamente do estereótipo do matemático focado apenas em números. Sempre atento às tendências do mundo ao seu redor, ele aproveita as horas vagas para explorar suas outras paixões: dirigir na chuva, carros e colecionar perfumes e tênis. Enquanto isso, reafirma o papel transformador da ciência e demonstra que se divertir com números pode ser não apenas inspirador, mas também uma forma de conectar diferentes interesses e perspectivas.