A Sociedade Brasileira de Matemática manifesta sua preocupação a propósito da indicação da nova presidência da CAPES. O currículo acadêmico da Dra. Cláudia Mansani Queda de Toledo não possui características adequadas ao cargo de máximo dirigente do país quanto à pós-graduação. O Presidente da CAPES deve ter o perfil acadêmico, a visão de política científica e a acreditação da comunidade e das instituições, nacionais e internacionais, que são atributos indispensáveis a um cargo técnico desta natureza.
O sistema nacional de pós-graduação e pesquisa, desde que constituído formalmente com a criação da CAPES e do CNPq, tem sido um exemplo de gestão pública direcionada pelo mérito e pela busca de excelência, norteada por evidências geradas por um sistemático trabalho de avaliação. Em sua trajetória, a CAPES conjugou a necessária preocupação em inspirar-se nos modelos internacionais exitosos à ainda mais crucial missão de povoar, adensar e qualificar o Brasil com as sementes da Ciência e Inovação vitais para superar nossa crônica defasagem em relação às nações desenvolvidas, agravada de modo lancinante com a deterioração do investimento em pesquisa e educação na última década.
Ao longo de governos das mais variadas orientações políticas, a CAPES gozou da independência e liberdade próprias da gestão científica. Mesmo os altos e baixos do financiamento à pesquisa e pós-graduação e a inexistência, na prática, de uma política de estado para estes setores, não foram impeditivos para que tivéssemos no Brasil um sistema robusto, em que convivem o rigor das avaliações sob métricas objetivas e exigentes e as políticas de indução que tem formado gerações de profissionais inovadores na academia, no governo, na indústria e em todos os demais setores sociais, impulsionando o desenvolvimento de nosso país.
A Sociedade Brasileira de Matemática expressa nesta nota a preocupação de toda a comunidade de matemáticos e instituições que representa quanto à mudança na Presidência da CAPES, responsável por conduzir, entre outras ações de imensa complexidade, a avaliação quadrienal de todos os programas de pós-graduação, políticas de internacionalização das universidades brasileiras como o CAPES-PrInt e um sem-número de programas voltadas a temas tão diversos quanto o fomento à inovação, a formação pós-graduada de professores de educação básica ou a pesquisa aplicada ao enfrentamento da pandemia de Covid-19.
A indicação recente e inesperada, jamais dialogada com os demais agentes do sistema, da Dra. Cláudia Mansani Queda de Toledo coloca em xeque um legado de mais de 60 anos de um delicado concerto de ações, pessoas e instituições que resultou em um modelo, enfatizamos, em que disputas políticas de menor expressão jamais lograram qualquer influência, garantindo que a CAPES fosse respeitosa e sabiamente preservada em sua missão, até este momento preocupante de nossa curta mas intensa história da ciência no Brasil.
Endossamos, em particular, a Nota da Sociedade Brasileira de Física, solicitando que o Ministério da Educação reconsidere sua indicação, e nomeie para o cargo de Presidente da Capes uma figura profissional com formação cônsona às exigências.
São Paulo, 16 de abril de 2021.
Paolo Piccione
Presidente da Sociedade Brasileira de Matemática