Grupo é composto por oito professoras da área de Matemática no Brasil; professora da FGV EMAp é uma das novas membras
Propor, coordenar e divulgar ações direcionadas à promoção da igualdade de gênero e raça, à redução das desigualdades e combate à discriminação, principalmente na área da Matemática. Para alcançar tais objetivos, foi criada em 2019 a Comissão de Gênero e Diversidade da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) em parceria com a Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC).
De acordo com o regimento interno, a Comissão é composta por por oito mulheres cis ou trans, matemáticas ou atuando na área de Matemática. Os nomes são indicados por busca ativa e homologados pela Diretoria de ambas as Sociedades (SBM e SBMAC). A estrutura busca sempre manter o equilíbrio entre participantes das entidades e ter representantes de todas as macro-regiões do país.
Cada representante da Comissão tem um mandato de dois anos, prorrogável por mais dois. Em janeiro, é feita a substituição de metade do grupo, ou seja, quatro das oito membras são renovadas. Em 2024, uma das novas integrantes é a baiana/carioca Asla Medeiros e Sá, professora da Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV EMAp).
Radicada no Rio de Janeiro, Asla participou do processo de criação da FGV EMAp e é docente na instituição carioca desde 2007. A matemática de 50 anos, mãe de duas meninas já adolescentes, é referência no estudo de Computação Gráfica no Brasil e sua aptidão pelas Ciências Matemáticas e suas aplicações surgiu em meio à mudança de localidades na companhia dos pais durante sua infância e adolescência.
Gosto pela Matemática na adolescência
Nascida em Salvador em 1973, Asla nem teve muito tempo para residir na capital baiana. Na primeira infância se mudou para o Rio de Janeiro onde residiu até a sua alfabetização. O Ensino Fundamental veio a ser cursado em São José dos Campos, um dos maiores polos aeroespaciais do país. O pai trabalhava como projetista aeronáutico na Embraer, líder mundial em aviação de médio porte, e daí veio a primeira inspiração para o ‘o que queria fazer quando crescer’.
“Quando estava na 7ª série, minha família foi transferida para a Itália por um ano, ocasião em que meu pai trabalhou no projeto do AMX. Aviões e plantas baixas de arquitetura (profissão da minha madrasta) sempre permearam a minha infância. Como muitas crianças da década de 1970, eu também queria ser astronauta”, revela Asla.
Ao término do Ensino Fundamental, a família de Asla voltou a residir no Rio. Asla cursou o Ensino Médio no Colégio de Aplicação (CAp) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), concluído em 1991. Na época, ainda eram comuns os cursos de datilografia, porém crescia progressivamente o oferecimento de cursos em programação de computadores, e ambos fizeram parte de sua formação complementar durante o ‘Colegial’, despertando o seu interesse em programação.
Neste ínterim, quem incentivou bastante na escolha final e certeira da jovem Asla foram os professores do CAp/UFRJ. De início, auxiliaram a jovem a recalcular sua rota para seu futuro acadêmico.
“Eu pensava em fazer Engenharia e um professor do CAp/UFRJ me disse: ‘Você é matemática!’ Assim, acabei assinalando Matemática Aplicada como 2ª opção no vestibular da UNICAMP e, apesar de ter passado em Engenharia na UFRJ, acabei escolhendo ir para a UNICAMP. Hoje, assistindo ao processo de escolha de carreira das minhas filhas, vejo o quanto esse ambiente de Ensino Médio é determinante para essa primeira escolha de carreira”, conta Asla.
Formação Acadêmica na Cidade Maravilhosa
Por motivos pessoais, ela voltou ao Rio de Janeiro sem ter concluído a graduação na UNICAMP, mas concluiu o Bacharelado em Matemática na UFRJ em 1999. “Ter passado pelas duas instituições foi uma experiência muito rica”, observa hoje a pesquisadora.
No mesmo ano da graduação, ingressou no Mestrado em Matemática Aplicada na UFRJ, onde terminaria o processo em 2001. O Doutorado também foi no Rio, porém no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) em Ciências, com ênfase em Computação Gráfica, defendendo sua tese de doutorado em 2006.
Entre 2012 e 2013 e 2015 e 2016, Asla viajou para a Grã-Bretanha para mergulhar em seu Pós-Doutorado pelo Cultural Informatics Research Group da Universidade de Brighton, financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Convite para a Comissão
O convite para fazer parte da Comissão de Gênero e Diversidade da SBM/SBMAC aconteceu no fim de 2023 através do contato da professora Celina de Figueiredo, ex-integrante da comissão. Desde janeiro na ativa, Asla tem consciência de seu papel dentro do objetivo proposto pelas entidades.
“Entendo como fundamental a mobilização da comunidade científica pela conscientização das questões relacionadas à diversidade e gênero. Fico honrada com a participação na Comissão e com a possibilidade de influenciar positivamente na carreira de futuras cientistas”, declarou a baiana, que conhece Celina, membro da Academia Brasileira de Ciências, professora titular da COPPE/UFRJ, de longa data.
Antes mesmo de assumir o posto na Comissão, a Professora da FGV EMAp participou de um grupo de debates que pavimentaram o caminho a ser percorrido, a princípio, nos próximos 22 meses.
“Em 2023, participei de um grupo de discussões provocadas pelas alunas de graduação da FGV EMAp. Na ocasião, compreendi a potência de dialogar com as novas gerações de cientistas visando conscientizar sobre como as questões de diversidade e gênero nos afetam no ambiente acadêmico. Conhecer o problema é parte fundamental da busca por soluções”, reforça.
As 8 integrantes da Comissão de Gênero e Diversidade SBM/SBMAC
Além de Asla, assumiram lugar na Comissão de Gênero e Diversidade da SBM e da SBMAC em janeiro as seguintes matemáticas: Ana Cristina Vieira, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ana Maria Luz Fassarella do Amaral, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e a estatística Vanessa Bielefeldt Leotti, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
No segundo ano de mandato, completam a Comissão: Sylvia Ferreira, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Luciana Aparecida Elias, da Universidade Federal de Jataí (UFJ), Flávia Morgana de Oliveira Jacinto, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), e Maria Joseane Felipe Guedes Macêdo, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA).