Evento será realizado durante o mês de junho
Entre os dias 17 e 18 de junho deste ano, será realizado o Encontro Brasileiro de Mulheres Matemáticas (EBMM). Em sua segunda edição, o evento será sediado na Universidade Federal do Pará, em Belém, mas no formato híbrido, permitindo que a participação aconteça também a distância.
O Encontro, que será um evento-satélite da X Bienal de Matemática, tem como objetivo central estimular a inclusão e a permanência das mulheres na carreira científica em matemática. Para isso, o EBMM contará com a participação de palestrantes matemáticas, pesquisadoras brasileiras e de outros países da América Latina, sessão de pôsteres apresentada por professoras e alunas de graduação ou pós-graduação e 3 mesas de discussão (Mulheres Amazônidas na Matemática; Maternagem e Maternidade: impactos na carreira profissional; e Assédios e Violências de Gênero no meio acadêmico: meios para identificar, acolher e combater).
Ao longo da programação, também serão exibidos alguns vídeos de relatos de vivências de mulheres e meninas na matemática encaminhados previamente. A escolha dos vídeos a serem exibidos será baseada no equilíbrio regional, contemplando todas as regiões do Brasil, e todos os vídeos encaminhados no ato da inscrição serão disponibilizados no site do evento.
O EBMM terá ainda como atividade um momento para escuta de experiências de mulheres matemáticas que atuam, atuaram ou coordenam projetos de divulgação matemática, institucionais ou não, oportunizando discussões que envolvam gênero e raça na Matemática.
As inscrições já estão abertas e o prazo final vai até o dia 31 de maio. Para quem for participar do evento de forma presencial, o pagamento deverá ser efetuado durante o credenciamento, no primeiro dia do encontro. As inscrições podem ser feitas no site do EBMM, que conta todas as informações sobre o evento.
Evento marca esforços para causar mudanças estruturais e sociais na área
O primeiro Encontro Brasileiro de Mulheres Matemáticas, realizado em 2019, ocorreu no IMPA e contou com a participação de 341 pessoas do Brasil e sete provenientes de instituições estrangeiras. O evento foi marcado pela presença de pesquisadoras jovens e sêniors com palestras científicas de alto nível, sessões de tutoria, apresentações de projetos e pôsteres, exposição visual, lançamento de livros e mesas redondas com importantes debates envolvendo carreira e gênero.
“Como frutos do EBMM, podemos destacar a participação representativa da comunidade matemática, possibilitando engajamento e envolvimento de participantes e membros das comissões do evento. Esse sentimento de unidade, em alguma medida, se deve também ao fato de nos reconhecermos como pares e, portanto, podermos celebrar a pluralidade de nós, mulheres matemáticas. A fim de mantermos essa filosofia, entendemos, enquanto comissão organizadora, que um dos objetivos do 2º EBMM seria a promoção de ampla discussão a respeito das mulheres na matemática com um olhar sobre as mulheres matemáticas amazônidas e suas adversidades, além de estimular a criação de redes de mulheres em matemática e o fortalecimento das existentes, aumentando sua capilaridade”, explica Juliana Canella, professora da UFPA e coordenadora do 2º EBMM.
A professora também analisa o cenário de transformação estrutural em que as mulheres têm conseguido cada vez mais espaço na área da Matemática.
“De 2019 para cá, como fruto do EBMM, tivemos vários outros eventos e iniciativas que possibilitaram discussões e reflexões mais profundas a respeito das possíveis causas da disparidade de gênero na matemática. Em sociedades científicas, por exemplo, podemos notar atividades mais incisivas das Comissões de Gênero em suas ações, cuja divulgação e intensidade passaram a ser maiores depois destes eventos. Mesmo com a pauta de gênero mais presente em eventos e comissões, ainda percebemos que precisamos sensibilizar grande parte de seus coordenadores, em sua maioria homens, do equilíbrio de gênero, por exemplo, ao convidar mulheres para palestrar ou compor bancas avaliadoras. Alguns dos causadores da não permanência feminina na carreira matemática podem ser citados também como a baixa representatividade em todas as instâncias, sejam elas no ensino, em cargos mais altos, em bibliografias de cursos, em publicações científicas. Aspectos sociais como assédios moral e sexual, a falsa crença de que mulher é sensível e portanto não está apta a abstração e o fato da carreira acadêmica coincidir com o período reprodutivo também podem contribuir para este cenário desfavorável. É claro que estes não são os únicos causadores da não permanência das mulheres na Matemática, tampouco sejam causadores exclusivos da matemática ou das áreas STEM. Além disso, é preciso entender que a conscientização da necessidade de incluir mulheres em todas as instâncias na carreira acadêmica não se dará de maneira imediata, nem sem tensões. Essas atitudes precedem uma mudança minimamente cultural uma vez que a sociedade brasileira foi construída a partir da colonização de povos originários e consolidada capitalista cujo machismo, patriarcado e racismo são traços estruturais. E é exatamente por entender que mudanças estruturais se dão de maneira lenta e contínua que ainda são necessárias discussões e ações para a transformação no perfil de carreiras ditas majoritariamente masculinas”, avalia.