EDITORIAL
Olá, querida comunidade matemática!
Outubro foi um mês vibrante para a nossa comunidade! A primeira edição do Workshop de Mulheres na Matemática, realizada em Maringá, foi um marco significativo, reunindo vozes femininas e celebrando as contribuições notáveis das mulheres nesse campo. Durante o evento, tivemos a honra de reconhecer as três vencedoras do Prêmio Elas na Matemática: Maria José Pacífico, Maria Soledad Aronna e Juliana Theodoro Lima. Esta iniciativa reafirma nosso compromisso com a promoção da diversidade e inclusão na matemática. Agradecemos de coração a todas as participantes e organizadoras que tornaram esse momento tão especial. Nesta edição, convidamos você a conhecer mais sobre as histórias inspiradoras das vencedoras.
Também parabenizamos a professora Maité Kulesza, que coordena um projeto de inclusão de alunas de escolas públicas na área científica por meio da matemática e foi vencedora do Prêmio CAPES Futuras Cientistas logo em sua 1ª edição! A conquista da professora do Departamento de Matemática (DM) da UFRPE foi publicada no Diário Oficial da União no último dia 24 de outubro.
NOTÍCIAS
Presidente da SBM é destaque no Prêmio Alumni USP 2024
Jaqueline Mesquita é egressa do ICMC-USP e conquistou menção honrosa na categoria ‘Contribuições em Ciência e Tecnologia’
A Presidente da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), Jaqueline Mesquita, foi uma das vencedoras do Prêmio Alumni USP 2024. Em sua 3ª edição, a honraria é reservada a egressos diplomados das unidades da Universidade de São Paulo que contribuíram positivamente com a sociedade em seus respectivos polos de pesquisa.
A edição de 2024 da premiação recebeu 506 inscrições nas seguintes categorias: Contribuições em Ciência e Tecnologia; Contribuições em Inovação e Empreendedorismo; Contribuições em Arte e Cultura; Contribuições na Sustentabilidade Ambiental; Contribuições na Qualidade de Vida das Pessoas; e Contribuições nas Relações Humanas e Inclusão Social.
Professor da UFC é eleito novo membro da Academia Mundial de Ciências
O cearense Yuri Gomes Lima foi nomeado integrante afiliado da TWAS até 2029 comprovando o potencial da nova geração de cientistas brasileiros na área internacional
O Brasil ganhou um novo membro afiliado da Academia Mundial de Ciências (TWAS, sigla em inglês) para o avanço da ciência nos países em desenvolvimento. O cearense Yuri Gomes Lima, professor do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Ceará (UFC), foi eleito para mandato válido até 2029, fato que reconhece o pesquisador de 39 anos como um dos cinco jovens cientistas mais talentosos de regiões em desenvolvimento, refletindo seu notável impacto na pesquisa científica brasileira e internacional.
Yuri Lima é coordenador acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Matemática da UFC, no qual fundou o grupo de pesquisa em Sistemas Dinâmicos e Teoria Ergódica em 2017. No fim do ano passado, o cientista já havia sido nomeado integrante da Academia Brasileira de Ciências (ABC), onde cumpre seu mandato que expira em 2028.
Membro do Conselho Diretor da SBM é um dos vencedores do Prêmio Zeferino Vaz, da Unicamp
Carlile Lavor, que integra o órgão deliberativo da SBM desde 2023, foi reconhecido por sua atuação docente na universidade
Professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro do Conselho Diretor da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), Carlile Lavor foi um dos premiados na edição de 2024 do Prêmio de Reconhecimento Acadêmico Zeferino Vaz. A distinção, cujo nome homenageia o fundador e primeiro reitor da Unicamp, busca reconhecer os docentes notabilizados em atividades de ensino, pesquisa e extensão, considerando contribuições à instituição e à sociedade.
NOTÍCIAS REGIONAIS – MINAS GERAIS E CENTRO-OESTE
Estão abertas as inscrições para os cursos e minicursos que acontecerão na Escola de Verão / Workshop de verão do Programa de Pós-Graduação em Matemática da Universidade de Brasília. A escola de verão do MAT/UnB acontecerá presencialmente entre os dias 6 de janeiro de 14 de fevereiro de 2025 na Universidade de Brasília. Maiores detalhes sobre os cursos, minicursos e a programação da Escola de Verão / Workshop de Verão podem ser acessados no endereço:
NOTÍCIAS REGIONAIS – RIO DE JANEIRO E ESPÍRITO SANTO
DELLIRIO-25 Conference
CBAE-UFRJ, Rio de Janeiro, 13-17 de janeiro de 2024
O principal objetivo do DelliRio 2025 é reunir pesquisadores na área de EDPs elípticas e parabólicas com diferentes formações e expertises. Nosso intuito é revisitar ferramentas clássicas e seu reaproveitamento em novos problemas e aplicações, buscando, assim, aproveitar as interações durante a conferência.
A lista de palestrantes convidados inclui acadêmicos de primeira linha, combinando pesquisadores seniores com jovens talentos. Haverá também momentos livres para discussões informais. Aqueles interessados no vínculo do laplaciano com problemas fora das equações elípticas e com outros campos da matemática também são bem-vindos a participar.
NOTÍCIAS REGIONAIS – SÃO PAULO
I Simpósio de Equações Diferenciais Parciais Lineares e Análise de Fourier, que será realizado nos dias 29, 30 e 31 de janeiro de 2025, no IMECC-UNICAMP
As inscrições vão até o dia 6 de janeiro, e podem ser feitas no formulário disponível no website do evento:
NOTÍCIAS REGIONAIS – REGIÃO SUL
🚀 5ª Edição do Simpósio de Teoria de Lie e Aplicações 🚀
O SIMPLIE 2024 está chegando! Organizado pelo grupo de pesquisa em Teoria de Lie e Aplicações, do Departamento de Matemática da UEM, o evento visa promover a divulgação científica e o debate sobre os mais recentes avanços em temas como grupos de Lie, álgebras de Lie, sistemas de controle, sistemas dinâmicos, geometria diferencial, física-matemática e muito mais. 🎓✨
📍 Local: Universidade Estadual de Maringá
📅 Datas: 27, 28 e 29 de novembro de 2024
Matemática para Todos – Universidade Estadual do Rio Grande do Sul
Inscrições abertas!
Data: 11/11/2024 até 13/11/2025
Evento online
O curso é composto por 18 vídeo-aulas para estudantes que enfrentaram dificuldades no aprendizado de matemática, especialmente aqueles(as) que cursaram o ensino básico em escolas públicas de forma precária.
A atividade de Extensão “Matemática para Todos” é um curso acessível e acolhedor, voltado para estudantes que enfrentaram dificuldades no aprendizado de matemática, especialmente aqueles(as) que cursaram o ensino básico em escolas públicas de forma precária. O objetivo é auxiliar estudantes que, durante a pandemia ou pela falta de professores(as), não tiveram a oportunidade de aprender a matemática de maneira completa, contribuindo para reduzir as desigualdades nesse aprendizado.
O curso conta com 18 vídeo-aulas dinâmicas, com duração entre 15 e 30 minutos, cobrindo tópicos essenciais do ensino fundamental e médio. Além das aulas, há listas de exercícios que podem ser corrigidas pelos próprios alunos(as), através de uma autoavaliação ou com o suporte dos(as) estudantes de Engenharia de Computação de forma online ou, caso necessário, de modo presencial (mediante agendamento).
Datas: a partir de 13/11/2024, serão lançadas 18 videoaulas, uma em cada quarta-feira. Elas ficarão disponíveis até o dia 13/11/2025, no canal do Youtube.
Formato: evento online pelo Youtube.
Público-alvo: estudantes do ensino médio, engenharia, ou quem vai fazer concurso.
Inscrições:
- Período: 11/11/2024 a 11/10/2025
- Inscrições: via e-mail leticia-guimarães@uergs.edu.br
- Valor: gratuito
Carga horária: 72 horas
Certificação: Sim, a partir da realização de avaliação de desempenho.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) alcançados: 10. Redução das desigualdades
Canais digitais: youtube.com
Coordenadora e contatos para atendimento ao público: professora Leticia Guimarães Rosa (Uergs), leticia-guimarães@uergs.edu.br
Vice-coordenadora: professora Adriane Parraga (Uergs)
COLUNA PROFMAT: PARA ALÉM DAS CONTAS
A Plataforma Freire e sua relação com o Profmat
Por Fábio Xavier Penna
A Plataforma Freire, que completa 15 anos em 2024, é um sistema gerido pela CAPES cuja principal função é subsidiar a formulação de políticas e a gestão de programas destinados à formação inicial e continuada de profissionais da educação básica. Criada em 2009 para gerenciar o Programa Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor), ao longo dos anos a plataforma expandiu sua abrangência incluindo em 2018 o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) e o Programa de Residência Pedagógica, que foi integrado ao PIBID neste ano. Em 2022 a Plataforma Freire incorporou os Programas de Mestrado Profissional para Professores da Educação Básica (Prof/ProEB), dos quais faz parte o Profmat. Atualmente a plataforma reúne quase 1 milhão de currículos de estudantes e docentes que atuam na escola básica e no ensino superior, assim como de outros profissionais ligados à formação de professores e ao gerenciamento da Escola Básica. Em 2023, o Ministério da Educação reafirmou seu compromisso com a valorização da educação básica ao restituir o nome do educador Paulo Freire à plataforma, homenageando o patrono da educação brasileira e destacando sua relevância no fortalecimento da formação docente.
A plataforma constitui uma base de dados estratégica para a formação inicial e continuada dos profissionais do magistério da educação básica. Além dos estudantes e professores que participam dos programas já citados, ela abriga os currículos de pesquisadores, estudantes de pós-graduação, gestores escolares, secretários de educação e outros profissionais ligados à educação básica e à formação docente. Além de viabilizar a gestão e o acompanhamento dos programas de formação de professores pela CAPES, a plataforma também disponibiliza informações para redes de ensino, facilitando o planejamento e a formulação de políticas locais voltadas à qualificação docente. Outro destaque é a oportunidade que oferece aos profissionais do magistério para socializarem suas produções técnicas e acadêmicas, promovendo sua visibilidade e conexão com a comunidade acadêmica. Apesar dos objetivos da Plataforma Freire serem claros, o autor desta coluna não encontrou estudos que avaliem especificamente a eficácia da plataforma na formulação de políticas públicas. A ausência de pesquisas direcionadas a esse aspecto indica uma lacuna no conhecimento sobre o efetivo impacto da plataforma na elaboração e implementação de políticas educacionais. Análises ou relatos de ações desenvolvidas no âmbito do ensino de matemática a partir de dados da Plataforma Freire são interessantes temas a serem abordados em uma dissertação do Profmat.
Desde 2022, os ingressantes no Profmat devem realizar o cadastro do currículo na Plataforma Freire como requisito para a efetivação da matrícula no curso. As Coordenações Locais são responsáveis por acompanhar esses cadastros, verificando a exatidão das informações e garantindo a regularidade dos dados inseridos. Em casos de cadastros irregulares, é necessário que as Coordenações Locais entrem em contato com os discentes para corrigir as informações. É importante ressaltar que o repasse dos recursos financeiros provenientes da CAPES, destinados à manutenção do Profmat entre 2024 e 2028 e geridos pela SBM, está condicionado ao correto cadastramento dos currículos de todos os discentes, inclusive das turmas de 2022, 2023 e 2024, na Plataforma Freire, bem como à inserção adequada desses dados na Plataforma Sucupira. A boa gestão do programa depende da participação e do comprometimento de todos os envolvidos.
COLUNA ENSINO DA MATEMÁTICA
Por Cydara Cavedon Ripoll
Como coordenadora desta coluna, pretendo, a partir da próxima edição, convidar colegas para escrever sobre variados aspectos da matemática, relacionando-os ao seu ensino.
A Base Nacional Comum Curricular (http://basenacionalcomum.mec.gov.br/) ressalta a importância do letramento matemático, capacidade de “formular, empregar e interpretar a matemática em uma variedade de contextos, incluindo raciocinar matematicamente e utilizar conceitos, procedimentos, fatos e ferramentas matemáticas para descrever, explicar e predizer fenômenos” (p.45). Como objetivos, aponta o desenvolvimento dos pensamentos matemático, numérico, algébrico, computacional, geométrico, espacial, estatístico e probabilístico, muitos deles desde os anos iniciais da Educação Básica. Assim, considero natural trazermos considerações sobre a inserção dos diferentes pensamentos no ensino de matemática neste nível de escolaridade. Começo pelo pensamento matemático.
Falta unanimidade quanto à definição de pensamento matemático, mas há consenso que ele inclui conceituar, definir, testar para intuir, intuir, conjecturar, generalizar, particularizar, modelar, demonstrar. Ajudar estudantes a desenvolverem o pensamento matemático subentende oportunizar experiências que os permitam protagonizar algumas dessas etapas. Mesmo seu nível mais complexo, a demonstração, pode ser oportunizado desde os anos iniciais, já que muitas demonstrações podem ser construídas apenas com palavras, com imagens ou com animações, dispensando a simbologia matemática. Consideremos, por exemplo, a proposição “A soma de quaisquer dois números pares é um número par”. Após aprenderem que uma quantidade par é aquela que pode ser agrupada em duplas sem deixar sobra e jogarem algumas vezes o “par ou ímpar?”, estudantes podem ser desafiados com a questão: nesse jogo, se você escolher par e seu colega jogar 4, que números jogados por você garantiriam sua vitória?
Após efetuarem, com material concreto, outras adições de dois números pares, estudantes podem ser questionados sobre a paridade da soma de dois números pares quaisquer. Mesmo sendo recomendado trabalhar-se apenas com números de 2 dígitos no 2º ano, o caráter genérico da pergunta estimula-os a conjecturarem e a expressarem-se genericamente. Pode então aparecer o argumento de que, ao somarmos dois números pares, estaremos juntando apenas duplas, portanto não aparecerão na soma unidades sem dupla, e ela será um número par. A criança que, com suas palavras, sugerir esta ideia, terá construído oralmente uma demonstração para a proposição.
Ao ser trabalhado o significado da multiplicação como arranjo retangular (3º ano), estudantes têm a oportunidade de visualizar uma representação pictórica para números pares e ímpares. Após construírem, por meio do significado de juntar da adição, algumas representações para a soma de dois números pares, uma demonstração pictórica para a proposição pode ser construída, fazendo-se uso de “…” para representar números pares genéricos:
(Em https://youtu.be/ycWRQmqXMUQ tem-se uma animação produzida pela professora Érica Machado a partir das mesmas idéias sobre a paridade da soma de dois números ímpares).
Quando for introduzida a linguagem simbólica de forma sistematizada (7º ano), a demonstração pictórica pode ser retomada para ser reescrita simbolicamente,
s colunas r colunas (s+r) colunas
devendo agora ser ressaltadas as propriedades das operações que permitem escrever
A proposição aqui considerada foi demonstrada de três formas diferentes, em ordem crescente de complexidade, viáveis em diferentes níveis escolares: oral ou em palavras, pictórica (com reticências, assegurando o caráter genérico das parcelas) e algébrica (envolvendo simbologia matemática). Gila Hanna é uma pesquisadora que defende que demonstrações devem fazer parte da sala de aula, principalmente aquelas que ajudam a promover a compreensão, como o exemplo mencionado aqui.
COLUNA DIVULGAÇÃO MATEMÁTICA
Popularização da Matemática: por que precisamos falar sobre isso?
Por Miriam Telichevesky
Faz um certo tempo que, por fazer parte do Comitê de Assessoramento de Divulgação Científica do CNPq, tenho sido constantemente provocada a conversar sobre a divulgação científica com pessoas da nossa comunidade matemática. Seja através de falas em eventos ou mesmo por conversas informais, não faltaram oportunidades nestes últimos meses para que eu pudesse trazer algumas perspectivas sobre, afinal, “o que é” essa tal divulgação científica.
Como qualquer pessoa da Matemática faria, já na minha primeira fala tentei apresentar uma definição para “divulgação científica”. Não fui bem sucedida porque, assim como diversas expressões nas ciências humanas, não há consenso sobre qual é a definição. Nem mesmo a terminologia mais adequada é consensual, sendo que há outras expressões relacionadas que às vezes são tratadas como sinônimo, outras vezes não; a que parece ser mais popular é a expressão “popularização da ciência”, com a qual eu simpatizo bastante, e que tenho amplamente adotado (inclusive adotarei aqui).
Nesta busca por definições, percebi que talvez seja mais sensato tratar a divulgação (ou a popularização) da ciência como uma espécie de conceito primitivo. Passei então a me preocupar muito mais em entender um pouco melhor para que ela serve e como funciona. Nesta coluna teremos a oportunidade de visitar diferentes contextos onde a divulgação/popularização da ciência se faz presente e com quais metodologias, objetivos, desafios e perspectivas.
Mas decidi que era interessante iniciar trazendo uma reflexão acerca do que me parece um ponto de vista mais urgente, que contrasta com visão mais romântica do papel de popularizar, na qual ela aparece como uma forma de encantar e atrair as pessoas para as ciências. Vamos lá.
É através de estratégias de popularização da Ciência que a sociedade em geral (mesmo que a partir de públicos-alvo específicos) consegue ter alguma noção a respeito de como cientistas fazem Ciência, e de por que ela é relevante à vida, seja pensando individual ou coletivamente. Embora na Educação Básica exista um contato inicial com ciências, as necessidades de cumprir conteúdos e realizar avaliações – entre muitos outros obstáculos que poderíamos inesgotavelmente mencionar – fazem com que as experiências na educação formal não sejam suficientes, pelo menos não para grande parte da população, para sublinhar esse entendimento sobre o funcionamento da Ciência (e não necessariamente sobre os conhecimentos científicos em si). As ações de popularização vêm, então, como uma forma de ampliar a consciência social a respeito da Ciência, agregando ao exercício de cidadania, que deve estar também preocupado com a manutenção da Ciência. Em última instância, se a sociedade percebe que a Ciência é relevante, torna-se muito menos penoso conseguir recursos para que ela progrida, tanto em recursos financeiros quanto em recursos humanos.
As reflexões acima evidentemente se aplicam em particular à Matemática, onde há ainda um desafio extra: o medo generalizado que grande parte da população tem em relação a ela. Não é preciso dizer, então, que é algo urgente realizar, em larga escala, ações de divulgação/popularização da Matemática no Brasil. Por isso precisamos, sim, falar sobre isso: cabe a nós, profissionais da Matemática, nos organizarmos e abraçarmos essa causa. É uma questão de sobrevivência da própria Matemática enquanto ciência neste país.
COLUNA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
Por Sérgio Roberto Nobre
Em nível internacional, o tema de investigação científica relativo à História da Matemática possui uma enorme abrangência que é resumida nos seguintes tópicos:
- história de problemas e de conceitos;
- as interligações entre Matemática, Ciências Naturais e Técnica;
- biografias;
- organizações institucionais;
- a Matemática como parte da cultura humana;
- influências sociais ao desenvolvimento da Matemática;
- a Matemática como parte da formação geral do indivíduo;
- análise histórica e crítica de fontes literárias;
- historiografia da Matemática: a escrita da História da Matemática.
Também assuntos ligados à História do Ensino e da Educação Matemática tem, nos últimos tempos, acrescentando a pesquisa científica na área.
O item a) história de problemas e conceitos é, por sua amplitude, o que possui maior densidade de trabalhos investigativos no panorama internacional. No Brasil, no entanto, não é plausível dizer, por exemplo, que se pode realizar, sem dificuldades, investigação em História da Matemática sobre temas que foram desenvolvidos originalmente na Europa ou em outras regiões como o mundo árabe, a Índia, a China etc. onde as fontes primárias se encontram. Há, no entanto, que se ter o bom senso e dizer que alguns trabalhos investigativos na área da História da Matemática podem perfeitamente ser realizados a partir de textos publicados originalmente, ou então a partir de seus fac-símiles. A análise histórica, neste caso, pode possuir conotações diferenciadas àquelas realizadas nos grandes centros científicos e contribuir com novas interpretações históricas sobre os assuntos investigados. Com relação aos itens b) as interligações entre Matemática, Ciências Naturais e Técnica, e) a Matemática como parte da cultura humana e f) influências sociais ao desenvolvimento da Matemática, pode-se dizer que existe um amplo campo de investigação científica em História da Ciência, em especial, em História da Matemática no Brasil. Este campo diz respeito, de forma geral, ao “impacto causado com a vinda da ciência ocidental ao Brasil”. Isto deve ser analisado em todos os níveis. Tanto em nível restrito ao desenvolvimento da Ciência Matemática como área de conhecimento, como em suas relações com as outras Ciências e com a Técnica. Em respeito aos itens c) biografias, d) organizações institucionais e h) análise histórica e crítica de fontes literárias, pode-se dizer que ainda há um campo aberto e não muito explorado, no que diz respeito à História do desenvolvimento da Matemática no Brasil. O último item, que trata da escrita da História da Matemática é, pode-se dizer, a junção de todos os itens anteriores, pois os resultados das pesquisas individuais e específicas contribuem para a escrita da história.
Com vista à esta apresentação, nossa proposta para o Boletim Eletrônico da SBM versará sobre assuntos ligados à história de assuntos específicos do conteúdo matemático, bem como a escrita da história destes conteúdos, episódios sobre história da matemática no Brasil, com destaque a personalidades brasileiras que contribuíram para o desenvolvimento da matemática no país e os movimentos visando sua institucionalização.
COLUNA ENSINO UNIVERSITÁRIO DA MATEMÁTICA
Por Carlos Tomei e Ricardo Miranda Martins
Bem-vindo(a) à primeira edição de nossa coluna mensal! Vamos logo ao assunto, 3000 caracteres é pouca coisa! O assunto é enorme e o espaço curto: fica difícil saber por onde começar. Para aguçar o interesse dos leitores, vamos resumir dramaticamente a mesa redonda “Redesenhando o ensino de matemática na universidade”, três encontros na última edição da Bienal da SBM.
O ponto de partida foi o interesse que todos temos nos cursos de serviço, as disciplinas de cálculo e álgebra linear que departamentos de matemática em geral oferecem para todos os cursos de exatas da universidade. Ainda que essenciais na formação dos estudantes, todos temos a impressão de que eles estão datados. A menos de pequenas mudanças de ementa aqui e ali, referências bibliográficas da década de 40 (talvez retirando as tábuas logarítmicas) supririam esses cursos. O mesmo é verdade sobre álgebra linear.
Que uso se faz da matemática que ensinamos? A pergunta vai para os departamentos que eventualmente recebem os alunos dos cursos de serviço, mas também para o mercado de trabalho. Ironicamente, o material que falta é apresentado por departamentos de engenharia, que já vêm oferecendo sistematicamente cursos de matemática.
Essa coluna é uma oportunidade para discutir o assunto. O problema é complexo demais para ter uma solução única, mas achamos relevante trocar ideias que ofereçam alternativas aos planejadores de cada programa.
Claro, o problema não é só escolher os conteúdos. Está mais do que na hora de adotarmos de uma vez por todas o uso de computadores no ensino de matemática na universidade, seja usando softwares proprietários, como Maple e Mathematica, de quem muitas instituições disponibilizam licenças, ou ferramentas/linguagens gratuitas como GeoGebra e Python, que permitem aos alunos realizar simulações, visualizar gráficos complexos e resolver problemas numéricos que seriam impraticáveis manualmente.
A diversidade de públicos é outro assunto complicado. Não é difícil argumentar por um primeiro semestre em cálculo sendo oferecido em três níveis diferentes: o habitual, outro mais próximo de uma introdução ao cálculo, enfrentando com realismo as deficiências de muitos alunos que entram na universidade, e uma turma em que alunos mais curiosos e bem preparados recebessem o material de maneira mais aprofundada.
As dificuldades diante de qualquer mudança nos cursos de serviço é reconhecidamente enorme. Para nós, e o grupo que participou das mesas redondas da SBM, talvez seja ainda mais preocupante não tentar melhorar pela falta de imaginação, ou, pior, pela pouca motivação que docentes universitários possam sentir em relação à sua atividade de ensino. Em geral, a atenção ao ensino de matemática na universidade é pequena, comparada à dedicada ao ensino pré-universitário, e as atividades de ensino também costumam ser pouco valorizadas em comparação com as outras tarefas do professor universitário. É hora de contribuir com mais intensidade para mudar esse panorama.
Pretendemos, em paralelo a essa coluna, criar um banco de dados que seria anexado ao site da SBM. Os textos poderiam indicar temas em sala de aula, ou opiniões variadas que tratam do ensino universitário. Estão todos convidados a participar.
COLUNA MATEMÁTICA OLÍMPICA
Por Vinicius de Carvalho Rispoli
Olá, olímpicos! Nesta edição traremos um novo problema proposto pelo Jornal “É Matemática, OXENTE!” e também a solução do desafio publicado na edição 68. Este novo problema é da Olimpíada Titãs da Matemática. Divirtam-se!