Noticiário #74 – dezembro/2024

Nivaldo Grulha
Editor-chefe

Olá, querid@s amig@s do Noticiário Eletrônico da SBM!

2024 foi um ano com grandes atividades, realizações e início de novas iniciativas e projetos por parte da nossa sociedade. Estamos muito felizes e gratos por termos participado deste processo buscando transmitir da melhor forma possível as principais notícias do mundo da matemática no Brasil e no mundo.

Fechamos 2024 com excelentes notícias de conquistas notáveis para a comunidade matemática brasileira, reforçando o papel central da ciência, tecnologia e inovação no desenvolvimento do país. A Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) tem a honra de compartilhar importantes reconhecimentos alcançados por suas associadas e membros. 

Maria Aparecida Soares Ruas foi eleita membra titular da TWAS e concentrará seus esforços para projetos voltados para equidade de gênero na ciência | Foto: Leonardo Zacarin | SBM

Diretora da SBM é eleita para a Academia Mundial de Ciências

Maria Aparecida Soares Ruas integra a gestão da Presidente Jaqueline Mesquita e foi nomeada integrante titular da TWAS; posse ocorre em janeiro

Academia Mundial de Ciências para o Avanço da Ciência nos Países em Desenvolvimento (TWAS, na sigla em inglês) anunciou seus novos membros titulares que tomarão posse a partir de 1⁰ de janeiro de 2025. Dos 74 cientistas na lista, dez são brasileiros. Entre eles, a paulista Maria Aparecida Soares Ruas, Diretora da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), passa a fazer parte desse universo seleto de pesquisadores.

Além de compor a atual diretoria da Presidente Jaqueline Mesquita na SBM, Cidinha, como é carinhosamente conhecida, é professora sênior do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP (ICMC-USP), em São Carlos. Em 2008, a pesquisadora tornou-se integrante titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC). 

A matemática de 76 anos é uma das referências em Teoria de Singularidades. Atualmente, suas principais contribuições ao tema referem-se à Classificação Topológica e Diferenciável de Singularidades, e às aplicações desta teoria à Geometria Genérica.

Foto: @samaumatech (Instagram)

Professora Simone Leal é premiada na 4ª Edição do Prêmio Amapá de Ciência, Tecnologia e Inovação – Robério Nobre

Maria Aparecida Soares Ruas integra a gestão da Presidente Jaqueline Mesquita e foi nomeada integrante titular da TWAS; posse ocorre em janeiro

No dia 22 de novembro, a professora Simone Leal, coordenadora do Samaúma Tech, associada da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) e membra da Comissão de Relações Étnico-Raciais da SBM (CRER), foi homenageada com o Prêmio Robério Nobre. Este importante reconhecimento faz parte da 4ª edição do Prêmio Amapá de Ciência, Tecnologia e Inovação, promovido pelo Governo do Estado do Amapá.

O Prêmio Robério Nobre tem como objetivo incentivar e valorizar profissionais e instituições que promovem o desenvolvimento científico, tecnológico e inovador na região. A premiação deste ano reconheceu pesquisadores, empresas de base tecnológica e profissionais da área de comunicação que se destacaram por suas iniciativas inovadoras no estado.

A professora Simone Leal, à frente do Samaúma Tech, vem desempenhando um papel fundamental na promoção da inovação e da ciência aplicada no Amapá. Sua atuação exemplifica como a pesquisa e a tecnologia podem impactar positivamente as comunidades locais, fortalecendo o ecossistema científico e tecnológico da região Norte do Brasil.

Da esquerda para direita, Julia Galdino Tiosso Lopez, Camila Maeda Shida, Julia de Paula Pessoa Leguiza e Sophia Li Ci Liu, medalhistas brasileiras da Pan-American Girls’ Mathematical Olympiad (PAGMO) | Foto: Reprodução

Brasil é campeão da PAGMO 2024 e brilha no cenário matemático internacional

Com primeiro lugar histórico, a equipe brasileira conquistou número recorde de medalhas de ouro

Pela primeira vez na história, o Brasil alcançou a primeira colocação no ranking geral da Pan-American Girls’ Mathematical Olympiad (PAGMO). A equipe brasileira, composta por quatro estudantes lideradas por uma professora, trouxe ao país quatro medalhas, incluindo três de ouro – recorde para o país.

De São Paulo, as estudantes Sophia Li Ci Liu e Camila Maeda Shida conquistaram medalhas de ouro, enquanto Julia Galdino Tiosso Lopez garantiu a medalha de prata. Já Julia de Paula Pessoa Leguiza, do Ceará, brilhou ao levar o ouro e o título de melhor desempenho de toda a competição.

“O resultado foi muito gratificante, e subir ao lugar mais alto do pódio, ao lado de mais duas brasileiras, tornou esse momento ainda mais especial para mim”, celebrou a estudante de destaque da competição.

O Workshop reuniu participantes brasileiros e estrangeiros | Foto: SBM

Workshop celebra os 55 anos da SBM e destaca avanços da matemática brasileira

Evento ocorreu entre os dias 2 a 6 de dezembro no Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica da Unicamp

Sociedade Brasileira de Matemática celebrou seus 55 anos em grande estilo com um Workshop que reuniu matemáticos de diversas partes do Brasil e do exterior. O evento, que ocorreu de 2 a 6 de dezembro no Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica da Universidade Estadual de Campinas (IMECC – Unicamp), contou com uma programação diversificada, que incluiu temas essenciais como inclusão, gênero e diversidade na matemática, além de apresentações que resgataram a trajetória histórica da SBM, e que contaram com “um trabalho de pesquisa muito cuidadoso e enriquecedor”, segundo destaca o professor Ricardo Miranda Martins, Diretor do IMECC.

Diego é graduado e mestre pela UFC, doutor pela UnB e pós-doutor pela University of British Columbia | Foto: Arquivo pessoal 

Diego Marques, membro da SBM, é reconhecido com o Prêmio Pesquisador Destaque no DF

O professor da UnB foi homenageado por suas contribuições à matemática no Prêmio FAPDF de Ciência, Tecnologia e Inovação

Ser reconhecido por avanços acadêmicos em matemática é um desafio que raramente segue um percurso linear. Pesquisadores da área frequentemente dedicam anos a resolver problemas complexos, enfrentando uma série de equações e questões interligadas, até finalmente chegar à solução do problema original. Por isso, quando Diego Marques, professor da Universidade de Brasília (UnB) e membro da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), recebeu o prêmio de Pesquisador Destaque da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), sentiu-se honrado. “Ser reconhecido com o 1º lugar, trabalhando em uma área tão abstrata como a Matemática, me deixou muito feliz”, celebra.

Na sua terceira edição, o Prêmio FAPDF de Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI) reconheceu profissionais que se destacaram pela criação de projetos e pesquisas com grande potencial para o avanço científico. Com uma trajetória acadêmica de 15 anos e quase 100 artigos publicados, Diego Marques vê a premiação como uma oportunidade valiosa para trocar experiências com pesquisadores de excelência e alcançar novos patamares. “Avançar em Matemática exige, muitas vezes — quase sempre —, uma imersão profunda no problema ou teoria, o que demanda não apenas condições favoráveis e tranquilidade, mas também um intenso intercâmbio de ideias”, ressalta o professor.

Finep e MCTI lançam chamadas Pró-infra no valor de R$ 1,2 bilhão para fortalecer infraestrutura de pesquisa do país

Finep e MCTI lançaram as chamadas “Finep/MCTI Pró-infra Expansão e Desenvolvimento de Infraestrutura de Pesquisa, Modernização de Ambientes Físicos e Aquisição de Equipamentos” e “Pró-Infra Centros Temáticos”. Juntos, os instrumentos somam R$ 1,2 bilhão, destinados ao fortalecimento da infraestrutura de pesquisa do país.

A chamada Pró-infra Expansão e Desenvolvimento destinará R$ 700 milhões de recursos não-reembolsáveis do FNDCT para ICTs, universidades e centros de pesquisa que desenvolvam projetos de base de engenharia, construção de laboratórios e centros
de pesquisa e para a compra de equipamentos.

A chamada Pró-Infra Centros Temáticos vai aplicar R$ 500 milhões de recursos FNDCT não-reembolsáveis para o apoio a projetos de reestruturação e melhoramento de centros temáticos, ligados à pesquisa aplicada ali desenvolvida. A ideia é combinar o financiamento da infraestrutura à pesquisa, de forma que os resultados cheguem ao mercado e que os cientistas possam ter um ponto de partida para empreender e, assim, transformar conhecimento em riqueza e desenvolvimento.

Por Fábio Xavier Penna

Em reunião dos coordenadores nacionais dos cursos Prof/PROEB, realizada no início de dezembro de 2024 em Brasília, foi criado o Fórum das Coordenações Nacionais dos Programas de Pós-Graduação do PROEB (FORPROEB). Ele é um desejo antigo dos coordenadores, que ansiavam por uma instância de congregação e cooperação dos cursos que compõem a área de Ciências e Humanidades para a Educação Básica, que na CAPES é responsável pela avaliação dos programas de pós-graduação profissionais financiados pelo PROEB. O fórum recém criado é uma instância permanente e sua gestão está a cargo de uma comissão executiva composta por Eduardo Salles de Oliveira Barra (UFPR), coordenador nacional do Mestrado Profissional em Filosofia (Prof-filo), Vanessa Carvalho de Andrade (UNB), da Comissão de Pós-graduação do Programa Nacional de Mestrado Profissional em Ensino de Física (Profísica), e Ana Paula de Araújo Chaves (UFG), da Comissão Acadêmica Nacional do Profmat.

O FORPROEB tem o objetivo de articular a colaboração entre seus membros, promovendo o intercâmbio de experiências nas áreas de gestão, ensino e pesquisa, ao mesmo tempo em que identifica interesses comuns e se organiza para viabilizar demandas coletivas dos seus integrantes. O fórum dedicará especial atenção à regulamentação dos cursos Prof/PROEB e às suas políticas públicas de fomento, entendendo que estes fatores, assim como os critérios de avaliação dos programas, devem ser constantemente debatidos e periodicamente aperfeiçoados. Como indicado no regimento geral do FORPROEB, as discussões, encaminhamentos e manifestações do fórum sempre serão norteados pela consecução do objetivo do PROEB, que é estimular a formação continuada dos docentes da educação básica pública, fomentando a manutenção e o desenvolvimento dos programas nacionais de pós-graduação profissional stricto sensu na forma associativa.

A criação de fóruns reunindo membros de uma determinada comunidade, profissão ou grupo de interesse é uma prática comum de instituições acadêmicas, organizações governamentais, entidades de classe e empresas para discutir tendências, desafios e inovações nas áreas em questão. Tais fóruns são importantes para formar redes de apoio e promover a colaboração e o aprendizado mútuo entre seus integrantes, contribuindo para o estabelecimento de padrões e diretrizes consistentes e a formulação de políticas públicas e práticas de gestão mais eficazes.

Com vistas a debater atividades de pesquisa e extensão das instituições de ensino superior, existem o Fórum de Pró-Reitores de Pós-Graduação e Pesquisa (FOPROP) e o Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras (FORPROEX). A meu ver, o FORPROEB tem interesses comuns com esses dois fóruns e um diálogo com ambos pode ser bastante produtivo no longo prazo. Assim como para o FORPROEB, a gestão das políticas de pesquisa é de grande interesse para o FOPROP. E considerando as características dos cursos de pós-graduação profissionais e o caráter de política pública do PROEB, os cursos Prof/PROEB mantêm forte interação com a comunidade externa à universidade ao disponibilizar para a população os recursos educacionais produzidos na sua pesquisa, promovendo transformação social. Este é um dos objetivos das atividades de extensão e um dos principais compromissos do FORPROEX.

Por Cydara Cavedon Ripoll

Como coordenadora desta coluna, pretendo, a partir da próxima edição, convidar colegas para escrever sobre variados aspectos da matemática, relacionando-os ao seu ensino. 

O termo Pensamento Computacional surge para expandir a forma como a computação era vista nos currículos escolares, buscando ampliar o foco do ensino do uso de softwares e equipamentos específicos para uma apreciação de todas as novas possibilidades que podem se abrir ao incorporarmos ferramentas computacionais a práticas das diferentes áreas do conhecimento. Para alguns autores, essas novas possibilidades são tantas e tão diferentes das que já conhecemos, que o impacto da universalização dessas ferramentas pode ser comparado ao impacto do sistema de numeração indo-arábico na Matemática.

Assim, o pensamento computacional se desenvolve à medida que utilizamos as potencialidades de recursos computacionais para resolver problemas de formas que não seriam viáveis sem ela, chegando até a propor problemas que, sem elas, não seriam concebíveis.

Com o objetivo de traduzir essa visão ambiciosa em algo que dialogue com a sala de aula de matemática, gostaria de discutir um exemplo que parte de um exemplo mencionado na BNCC, e que representa uma família de atividades comuns em livros didáticos, para ilustrar duas práticas antagônicas relacionadas ao pensamento computacional: “escrever como determinar se um número é divisível por 2 na forma de um fluxograma”.

Esta atividade serve muito bem como exemplo do que acredito que não deveria ser feito para promover o pensamento computacional, por três motivos. Primeiro, a tradução para um fluxograma não adiciona valor pedagógico à atividade, uma vez que o processo é simples o suficiente para ser bem descrito e entendido em forma textual. Segundo, o processo em si, da forma como é sugerido na BNCC, é irrelevante em qualquer contexto computacional. Terceiro, a atividade usa a ferramenta computacional de forma domesticada, ou seja, para fazer algo que já poderia ser feito sem ela e de modo a não acrescentar nada significativo ao resultado.

Agora, vejamos uma variação dela: “como podemos usar uma linguagem de programação para determinar se um número dado é divisível por um outro número dado?”. Do meu ponto de vista, essa atividade está proposta de forma a instrumentalizar estudantes acerca de um recurso computacional versátil e poderoso: as linguagens de programação. Ao discuti-la, o professor poderá explorar conteúdos matemáticos relacionados e, naturalmente, estender a discussão a novos problemas para os quais o uso da linguagem de programação realmente se justifica como, por exemplo: “como podemos identificar se um número dado é primo?”.

Essa última questão parece-me adequada para as ambições que o termo pensamento computacional traz para si, ainda sendo compatível com conteúdos e práticas de uma aula de matemática. Cabe ressaltar que a pergunta, resolvida “na mão”, seria enfadonha pelo volume de cálculos que exigiria e pouco acrescentaria ao entendimento dos conceitos matemáticos subjacentes a ela. Assim, o uso de uma linguagem de programação se justifica como um meio para automatizar o processo, e a construção do algoritmo permite a discussão de práticas computacionais (como  otimização de algoritmos e reutilização de rotinas em outros problemas) e de conteúdos matemáticos (como decomposição em fatores primos).

Interessados em conhecer mais detalhes dos exemplos dados podem acessar ime.usp.br/~leobarichello/colunasbm.html.

Espero com este texto ter ressaltado que é possível propor atividades computacionais ambiciosas nas aulas de matemática para que não cometamos o erro de domesticar essas novas tecnologias, restringindo o seu poder.

Que comece o encantamento!

Por Miriam Telichevesky

No meu primeiro texto desta coluna, publicado na edição passada, enfatizei que o objetivo da popularização da Matemática vai muito além do lado “romântico” de encantar as pessoas, para atraí-las para nossa área ou áreas afins. Mas isso não quer dizer, de forma alguma, que este lado romântico deva ser abandonado.

Muito pelo contrário! Ao planejarmos uma ação de divulgação ou popularização, o que estamos buscando é justamente um envolvimento do público-alvo por considerar interessante, divertido ou instigante participar daquilo. Por isso, quando preciso ilustrar uma atividade de sucesso na popularização da Matemática, acabo sempre trazendo exemplos que envolvem algum tipo de encantamento. Há um exemplo, em particular, que é o preferido dos meus preferidos, que relato a seguir, com autorização do protagonista.

Ano passado aconteceu aqui na UFRGS o III Festival da Matemática – RS, com a temática “A Matemática e o Desenvolvimento Sustentável”. Sabendo que se tratava de um ótimo comunicador, chamamos o professor João Frederico da Costa Azevedo Meyer  – vocês que o conhecem, sabem que ele é mais conhecido como Joni – , aposentado da Unicamp, para uma das palestras (que demos o nome de “bate-papo com especialistas”). Quando o convidei, mencionei que o público-alvo era composto majoritariamente por crianças e jovens de escolas da região, na faixa etária média de 13 anos. 

O Joni fez duas sessões da sua fala, cada uma delas para um público de aproximadamente 150 crianças e adolescentes, com o título “Para que serve essa tal Matemática?”, onde trouxe exemplos da Matemática aplicada à Biologia. No final de uma das sessões, que infelizmente não pude presenciar, ele me relatou duas coisas. Primeiro, que levou um susto quando viu aquelas crianças “tão pequenas” na plateia – provavelmente crianças do 5º e 6º ano do Ensino Fundamental. Mas também que, depois de passado o susto e concluída a fala, um menino bem pequeno, que mal passava de sua cintura (estimamos que tivesse uns 11 ou 12 anos), se aproximou dele e lhe perguntou:

  • Professor, o senhor ainda trabalha?
  • Eu sou aposentado, – respondeu o Joni – mas ainda trabalho.
  • E o senhor vai trabalhar até quando?
  • Vou seguir trabalhando enquanto conseguir, enquanto puder, enquanto ainda tiver vontade.

O menino então pensou um pouco e perguntou:

  • E o senhor me espera?

Então nosso palestrante, evidentemente pego de surpresa, precisou segurar o choro naquele momento – e me autorizou a contar esta parte da história por aqui também. E eu, que de alguma forma promovi esse encontro, me sinto igualmente comovida toda vez que ouço ou conto esta história. Neste momento, em algum lugar da região metropolitana de Porto Alegre, tem um menino-adolescente torcendo para um dia poder estudar aplicações da Matemática à Biologia, porque teve a oportunidade de bater um papo com o Joni neste evento. Meu recado, então, para aquelas pessoas que querem se engajar na divulgação/popularização da Matemática, é: situações como esta acontecem, sim, diante dos nossos olhos! E nos mostram que além de ser essencial, popularizar a Matemática é uma coisa que simplesmente vale a pena.

Os primeiros textos que narram a História da Matemática (parte 1)

Por Sérgio Roberto Nobre

Uma pergunta pertinente para a historiografia da Matemática, que pode ser assumida para a historiografia em geral, é sobre de onde vieram as informações que temos relativas à história antiga. Sabe-se que, um fato histórico é simplesmente repetido sem que haja uma reflexão sobre as fontes de onde as informações foram retiradas. E as perguntas que fazemos são: “de onde vieram as informações históricas que temos nos dias de hoje e que são consideradas imutáveis?”; “quem foram os autores que divulgaram tais informações?”

A busca sobre de onde vieram as informações sobre a história da matemática, principalmente as informações do mundo antigo recai ao, possivelmente, único texto onde aparecem informações sobre a História da Matemática escrito antes de Cristo que chegou até nós. Este texto foi escrito por Vitruvius (séc. I a.C.), um engenheiro/arquiteto romano que se dedicou a colher informações sobre o mundo antigo, em especial sobre o mundo grego, e adaptou-as para serem divulgadas ao grande Império Romano que estava em plena ascensão. Em seu texto Dez livros de arquitetura, uma das mais importantes obras literárias do período que compreende o início da era cristã e uma das obras mais divulgadas no território romano, Vitruvius escreveu importantes passagens relativas à história das ciências e da matemática.

Não se sabe ao certo o período o qual Vitruvius viveu. Supõe-se que tenha sido no século I a.C. Ao ser considerada esta data, já havia se passado alguns séculos de alguns acontecimentos relatados por ele em seu livro: Especificamente sobre a história da matemática, Vitruvius oferece ao seu leitor, no prefácio do livro IX, episódios sobre a geometria na Grécia. Ele desenvolve seu texto a partir de Pitágoras (c. 580-500), atribuindo a ele e a seus discípulos a descoberta dos números irracionais e, para isso, utiliza o exemplo da duplicação da área do quadrado. No decorrer do texto, ele evoca a célebre história do rei Hieron de Siracusa (?-215 a.C.), quando este solicitou a Arquimedes (287- 212) que descobrisse se fora enganado pelo ourives que confeccionou sua coroa. Vitruvius conta o episódio da descoberta da solução do problema por Arquimedes exatamente como é conhecido nos dias atuais, ou seja, ao ir banhar-se, ele descobriu a solução do problema, que se dá a partir da densidade do material submerso na água, e saiu gritando pelo recinto afora: “eureka!, eureka!”, o que significa: “eu descobri!”.

Estamos falando de cinco séculos, se analisarmos a possível data da existência de Pitágoras (século VI a.C.) e a possível data da escrita do livro de Vitruvius. É aproximadamente o mesmo tempo decorrido da data do descobrimento do Brasil até os dias de hoje. Neste caso, muito mais recente, quanto se sabe de verídico sobre a chegada dos Portugueses além da Carta de Pero Vaz de Caminha? Aliás, as informações que temos são apenas dos invasores, e não dos povos nativos. O que sabemos após a chegada da esquadra de Pedro Alvares Cabral? Como comparação, foram 500 anos de distância temporal entre Pitágoras e as informações dadas por Vitruvius, e pouco mais que 500 anos do descobrimento do Brasil até os dias de hoje. Por isso, informações históricas que chegaram até nós carecem sempre reflexões sobre sua veracidade ou não.

Obra de Referência: Nobre, Sergio. 2002. Introdução à História da História da Matemática: Das Origens ao Século XVIII. Revista Brasileira de História da Matemática – an international journal on the History of Mathematics, vol. 2, nr 3. Pg. 3 – 43.

Que tal começar com Álgebra Linear? (parte I)

Por Carlos Tomei e Ricardo Miranda Martins

Um exercício comum nos primeiros cursos de equações diferenciais é: “Uma população, inicialmente com p(0)=p0 indivíduos, cresce 2% ao ano. Encontre uma equação diferencial que modela esse crescimento e resolva-a, encontrando p(t).”

A equação é p'(t)=(1,02) p(t) e sua solução fica como exercício. Mas será que essa modelagem precisa mesmo ser feita em tempo contínuo? A análise do problema é muito mais simples se o tempo for discreto, com a vantagem de que este modelo poderia ser discutido bem antes no curso.

De fato, discretizar o tempo é uma grande ideia, por alguns motivos:

  1. Falar de “antes” e “depois” é naturalíssimo.
  2. Iterações são simples.
  3. Modelos contínuos frequentemente são discretizados para cálculos.

Mas os méritos de começar a vida matemática universitária com álgebra linear são bem maiores, e não vão caber numa coluna só. Se a gente acredita que os alunos recém-ingressados  têm problemas de formação, não há porque introduzir limites e similares antes de treinar certos aspectos fundamentais. Alguns argumentos favoráveis a isso:

  1. É mais fácil treinar as quatro operações (menos vezes menos dá mais) lidando com problemas simples de álgebra linear (contas com matrizes, conjuntos L.I., escrever um vetor em termos de uma base que não seja a canônica) do que operando com regras de derivação, como a regra da cadeia. Além disso, nos parece que uma grande quantidade de alunos acaba conseguindo executar a parte operacional do cálculo sem entender de fato as nuances do processo: conseguem calcular a derivada de f(x)=x5 por terem “decorado a fórmula” (xn)’=nxn-1, mas não sabem compor funções.
  2. Exercitar argumentação matemática e outras técnicas de demonstração é mais fácil com álgebra linear do que com cálculo. Aliás, cálculo praticamente não tem teoremas, só… cálculos. De novo, o problema é não exagerar: ninguém precisa de cinco afirmações equivalentes, mas fazer algumas demonstrações simples e construtivas em álgebra linear ajuda a entender a ideia geral de uma “demonstração”. Outra vantagem é que grande parte das demonstrações do cálculo exigem conhecimentos sobre axiomas de corpo (completude, supremo, ínfimo, etc), e em álgebra linear raramente precisamos chegar neste nível.
  3. Quando um aluno pergunta “para quê Rn?”, dizer “ah, você tem cinco fábricas, com cinco lucros, e ensalsicha esses números” não é uma resposta. É muito mais interessante afirmar com coragem: cada indivíduo numa amostra é um conjunto de dados, e você foi contemplado  com 3.000 pontos em R50 – será que essa nuvem de pontos quebra em duas, tem alguma propriedade especial? Matemática moderníssima: classificação de dados. A gente vai para Rn porque geometria é uma grande inspiração.

Às vezes, álgebra linear se confunde com geometria analítica, um acesso justamente para a linguagem geométrica. Cuidado: álgebra linear é mais, é tudo que é linear.

Ironicamente, geometria também não é o que se vê. Quando alguém diz que por dois pontos diferentes em R1000 passa uma reta, não está vendo nada. Mas… é como se visse – a geometria ensina palavras que pensam para nós.

Ou talvez esse alguém pense que, para falar de dois pontos, basta um espaço de dimensão um, o que já é uma malandragem. Treinar a transição entre o vocabulário simbólico e o geométrico é importantíssimo.

O assunto, claro, continua. Até lá!

Women scientists around the world: strategies for gender equality

The 12th SCGES webinar is organized jointly with the International Science Councir. It is the participation of SCGES to the Global Women’s Breakfast.

The event will be held  online on February 10th, 2025, 2-4 PM UTC (3-5 PM CET).

Please fill in the registration form here to receive the link to access the Webinar.

We invite you to send the information to your contacts.

Evento celebra o Dia Internacional das Mulheres e Meninas nas Ciências em Curitiba

No dia 11 de fevereiro de 2025, o Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, será palco do evento “Meninas nas Exatas: Por Elas Para Todos”, uma iniciativa organizada e promovida pelo Setor de Ciências Exatas da UFPR, com a participação dos departamentos de Estatística, Expressão Gráfica, Física, Informática, Matemática e Química.

A data foi escolhida em celebração ao Dia Internacional das Mulheres e Meninas nas Ciências, instituído em 22 de dezembro de 2015 pela Organização das Nações Unidas (ONU). Este dia reconhece a contribuição essencial de mulheres e meninas nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), ao mesmo tempo que busca promover a igualdade de gênero e ampliar as oportunidades para elas nesse campo. Em 2025, a data celebra seu 10º aniversário, reafirmando a importância de iniciativas que incentivem a presença feminina nas ciências.

O evento conta também com o apoio do Setor Palotina da UFPR, da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC), da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), do Instituto Federal do Paraná (IFPR) e da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), destacando o caráter colaborativo e interinstitucional da iniciativa.

Com o objetivo de despertar o interesse de meninas para áreas ligadas às ciências exatas e tecnológicas, o evento promove o protagonismo feminino e oferece uma programação diversificada. Palestras, oficinas práticas, exposições e atividades interativas buscam inspirar jovens e crianças a explorar as ciências e tecnologias, reconhecendo o impacto das mulheres nesses campos.

Aberto a alunos, professores e à comunidade escolar, o evento ocorrerá das 8h às 20h e será um espaço de troca de conhecimentos, inspiração e engajamento.

Para mais informações, acompanhe nossas redes sociais e a página oficial do evento:
📸 Instagram: @meninasexatasufpr
🌐 Página do evento: meninasnasexatas.wordpress.com

“8th International Workshop on Singularities in Geometry and Applications – València VIII”

Dear Colleagues,

This is the second announcement of the “8th International Workshop on Singularities in Geometry and Applications – València VIII,” which will be held in São Carlos, Brazil, from June 29 to July 4, 2025.

We are pleased to inform you that the event webpage is now live and can be accessed at:

https://sites.google.com/view/valenciaviii/home

Please complete the online registration by April 15, 2025.

You can find information about hotels in São Carlos under the Information tab on the webpage. Kindly note that participants are responsible for booking their own accommodations. If you need assistance with your booking, feel free to contact us.

We expect to receive news about funding for the event by April. If approved, we will be able to provide support with local expenses.

Best wishes,

The Organizing Committee

Japão – MEXT (Ministério da Educação, Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia)

Tipos de bolsa: Pesquisa, Graduação, Escola Técnica, Cursos Profissionalizantes, Treinamento de Professores, Cultura e Língua Japonesa.

Benefícios: Isenção de taxas acadêmicas, bolsa de manutenção, passagem aérea de ida e volta, curso de japonês (em alguns casos).

Inscrições: Anualmente entre abril e junho (algumas categorias) e janeiro a fevereiro (outras).

Mais informações: Site oficial

Hungria – Stipendium Hungaricum

Tipos de bolsa: Graduação, Mestrado, Doutorado, Cursos Preparatórios em Húngaro.

Benefícios: Isenção de taxas universitárias, auxílio mensal (€500 para doutorado, €130 para outros cursos), alojamento gratuito ou ajuda para acomodação, seguro médico.

Inscrições: Anualmente.

Mais informações: stipendiumhungaricum.hu

EUA – Fulbright Brasil

Tipos de bolsa: Aperfeiçoamento, Mestrado, Doutorado, Pesquisa, Aperfeiçoamento Profissional.

Benefícios: Bolsas para intercâmbio de pós-graduação, professores e pesquisadores.

Inscrições: Anualmente.

Mais informações: fulbright.org.br

Turquia – Türkiye Bursları

Tipos de bolsa: Graduação, Mestrado, Doutorado.

Benefícios: Isenção de taxas, acomodação gratuita, auxílio mensal (1.000 TL graduação, 1.400 TL mestrado, 1.800 TL doutorado, 4.000 TL pesquisadores), curso de língua turca (1 ano), passagem aérea de ida e volta.

Inscrições: Anualmente.

Mais informações: turkiyeburslari.gov.tr

Canadá – Programa Vanier

Tipo de bolsa: Doutorado.

Benefícios: CAD 50.000 por ano.

Inscrições: Anualmente (pré-seleção pela universidade canadense).

Mais informações: vanier.gc.ca

China – Programa de Bolsas do Governo Chinês

Tipos de bolsa: Graduação, Especialização, Mestrado, Doutorado.

Benefícios: Cobertura total (taxas acadêmicas, passagens aéreas, acomodação, seguro médico).

Inscrições: Anualmente.

Mais informações: campuschina.org

Romênia – Bolsas do Ministério das Relações Exteriores

Tipos de bolsa: Graduação, Mestrado, Doutorado (exceto Medicina, Odontologia e Farmácia).

Idioma:

Graduação e Mestrado: obrigatório em romeno (curso preparatório de 1 ano).

Doutorado: possibilidade de cursos em outras línguas.

Benefícios:

Isenção de taxas universitárias e curso preparatório de romeno.

Auxílio mensal.

Acomodação em dormitórios estudantis.

Atendimento médico emergencial.

Transporte público.

Inscrições: Anualmente de dezembro a fevereiro: https://scholarships.studyinromania.gov.ro/ 

Observação: Pesquise previamente cursos e idioma.

Alemanha

1. Bolsa Chanceler Alemão para Futuros Líderes

2. Programa Hilde Domin (DAAD)

Coreia do Sul – Bolsas GKS-G

  • Tipos de bolsa: Mestrado (3 anos), Doutorado (4 anos), Pós-Doutorado (6 meses a 1 ano).
  • Benefícios:
    • Passagem aérea de ida e volta.
    • Curso de coreano (1 ano).
    • Auxílio mensal (~US$900).
    • Dormitório compartilhado, seguro médico e custos educacionais.
    • http://niied.go.kr/user/nd35203.do 

Suíça – Bolsas do Governo Suíço para Excelência Acadêmica